domingo, 26 de outubro de 2025

A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne

Minha opinião: Confesso: eu nunca tinha lido "A Volta ao Mundo em 80 Dias". E pior, eu nem sabia direito sobre o que era a história! Na minha cabeça, o livro falava de um explorador que faria uma grande viagem científica pelo mundo.
Mas, rs... não é nada disso!
Quem diria que a história é sobre Phileas Fogg, um personagem muito interessante, que decide fazer essa viagem maluca simplesmente por causa de uma APOSTA!

Eu fiquei pensando: como ele ia fazer isso naquela época? Não tinha avião, nem as estradas e carros que temos hoje. E é aí que está a graça! Ele tem que dar a volta ao mundo sem parar, usando trens, navios gigantes, barcos, até um elefante ele usa! Tudo para conseguir chegar no dia exato da aposta.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o personagem. O Sr. Fogg não é um aventureiro; ele é um homem que não se desespera. Ele tem algo de muito concreto, de matemático. Ele não se altera, nunca. 
Mesmo com todas as situações caóticas que acontecem no caminho, ele permanece impassível. É impressionante.

A volta ao mundo se dá de uma maneira muito envolvente. O seu criado, o Passepartout, também movimenta toda a trama (às vezes atrapalhando!) e todo mundo que os encontra fica envolvido com esse homem tão incomum, mas tão fiel à sua palavra.
Eu gostei muito dessa leitura. Pensei que ia ser um livro chato, com uma escrita antiga e difícil, mas não! Foi muito legal, eu me diverti lendo e torcendo para ele conseguir. Uma aventura clássica que vale muito a pena!

Sinopse
A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne
A história começa em Londres, em 1872. Phileas Fogg é um cavalheiro inglês extremamente rico, metódico e de rotina inabalável. Sua vida é calculada ao minuto, até o dia em que ele faz uma aposta audaciosa com seus colegas do Reform Club: ele afirma ser capaz de dar a volta ao mundo em apenas 80 dias.
Apostando metade de sua fortuna, Fogg parte imediatamente, levando consigo apenas seu recém-contratado criado francês, Jean Passepartout. A dupla embarca em uma corrida frenética contra o relógio, utilizando todos os meios de transporte disponíveis na época — de trens a vapores, passando por saveiros e até elefantes.
Enquanto luta contra atrasos, tempestades e desafios logísticos, Fogg ainda precisa lidar com um obstáculo inesperado: o detetive Fix, da Scotland Yard, que acredita erroneamente que Fogg é um ladrão de banco em fuga e passa a persegui-lo implacavelmente ao redor do globo.

O Gato que Amava Livros (Kutikyū no Neko), de Sosuke Natsukawa

Minha opinião: O Gato que Amava Livros: Uma delicada fábula sobre luto e recomeço...

Sabe quando você escolhe um livro só pela capa, sem fazer a menor ideia do que se trata? Foi assim que "O Gato que Amava Livros" veio parar nas minhas mãos. Achei a capa bonita e pensei: "Por que não?". E que surpresa mais terna.

O livro traz, na minha opinião, uma reflexão muito profunda (mas de um jeito leve) sobre o luto, sobre crescer e sobre assumir responsabilidades.

Na história, acompanhamos o Rintaro, um garoto que mora com seu avô, dono da aconchegante Livraria Natsuke. Quando o avô morre, Rintaro se perde. Ele não sabe direito o que sentir, se fecha no seu mundo e parece travar.
É aí que a mágica acontece: um gato falante aparece na livraria!

Esse gato, que é uma figura e tanto, pede a ajuda de Rintaro para uma missão: salvar livros que estão sendo aprisionados ou mal interpretados. Achei essa premissa tão bonita.
Para mim, toda essa aventura fantástica funciona como uma grande metáfora para o processo de luto do Rintaro. A história parece um conto de fadas, sabe? Daqueles em que o herói precisa repetir uma jornada algumas vezes para conseguir entender o que se passa dentro dele.

Em cada "missão", Rintaro vai relembrando o avô, as histórias que ele contava, o gosto pelos livros, os sonhos que o avô compartilhava com ele. É nesse recordar que ele vai se fortalecendo e, aos poucos, conseguindo se ligar de novo às pessoas e ao mundo.
É um livro que fala daquela dor difícil que sentimos quando perdemos alguém que amamos muito. Mas ele mostra, de um jeito muito delicado, que podemos amar outras pessoas e seguir nossa vida, e que isso não significa, de forma alguma, que deixamos de amar quem partiu.
Um livro com esse estímulo mágico, perfeito para uma tarde de domingo no parque.

Sinopse
Após a morte de seu avô, o jovem estudante Rintaro Natsuki herda a Livraria Natsuke, um sebo amado pela comunidade, agora à beira de ser vendido. Rintaro, um garoto introvertido e enlutado, se isola na loja, sentindo-se perdido e incapaz de seguir em frente.
Sua rotina de reclusão é quebrada pela aparição repentina de Tora, um misterioso gato falante de pelo tigrado. Tora informa a Rintaro que os livros estão em perigo e que ele precisa de ajuda para salvá-los.
Juntos, Rintaro e Tora embarcam em uma jornada por quatro "labirintos" mágicos, cada um representando uma forma diferente de abuso ou negligência aos livros – desde um homem que os aprisiona sem lê-los até outro que os destrói resumindo-os. Em cada encontro, Rintaro deve usar seu amor genuíno pela leitura para libertar os livros e, no processo, acaba redescobrindo sua própria força, sua conexão com o legado do avô e a coragem para reabrir seu coração para o mundo.

O Pintassilgo (The Goldfinch), de Donna Tartt

Minha opinião: O Pintassilgo: O prêmio Pulitzer de 800 páginas que me fez bocejar...

Sabe quando você começa um livro com uma expectativa lá no alto? Um livro premiado (vencedor do Pulitzer!), com uma capa linda e uma premissa que parece incrível. Pois é, assim foi meu início com "O Pintassilgo".
Vou ser sincera: o começo é ótimo. A relação do Theo (o protagonista) com a mãe é delicada, e a cena da explosão no museu é realmente tensa, muito bem escrita. Você fica preso, com o coração na mão, pensando "Nossa, que livrão!".

Mas aí, minha gente... ave.

Depois desse início potente, o livro desanda em uma chatice que parece não ter fim. Sério. A história se muda para Las Vegas e a autora parece que se esquece da trama principal. As coisas são chatas, as situações se estendem, se prolongam... é um tédio que só.

Eu ficava lendo e pensando: "Cadê a história do quadro? Cadê a tensão?". O livro vira uma descrição sem fim da vida miserável e viciada do protagonista, e mesmo quando ele volta para Nova York como adulto, a sensação de que nada acontece de verdade continua. Não tem algo que prenda a atenção, você lê quase se arrastando.

Quando finalmente uma reviravolta acontece (lá pela página 450!), ela parece tão aleatória, tão sem pé nem cabeça, que eu demorei a entender o que estava acontecendo. Parece que a autora jogou um thriller no meio de um drama psicológico arrastado sem aviso prévio.

Enfim, é uma pena. Um livro com tanto potencial, mas que se perde em si mesmo. O começo é 5 estrelas, mas o desenvolvimento é de uma lentidão que dá sono. Um calhamaço que, na minha opinião, podia ter 300 páginas a menos e seria muito melhor.

Sinopse Objetiva do Livro
O Pintassilgo (The Goldfinch), de Donna Tartt
A vida de Theodore "Theo" Decker, um garoto de 13 anos, é virada de cabeça para baixo quando sua mãe é morta em um atentado terrorista a bomba no Metropolitan Museum of Art, em Nova York.
Em meio ao caos e à poeira da explosão, Theo, em estado de choque, pega uma pequena e valiosa pintura do século XVII chamada "O Pintassilgo", obra de Carel Fabritius.
Sem a mãe e com um pai ausente, Theo é acolhido temporariamente pela família rica de um colega de escola. A narrativa segue sua jornada tumultuada ao longo dos anos, de Nova York a Las Vegas e, posteriormente, Amsterdã. O quadro roubado se torna seu segredo mais sombrio, um elo tangível com a mãe perdida, mas também um peso que o arrasta para o submundo da arte e do crime.
"O Pintassilgo" explora temas como luto, trauma, vício, a natureza da arte e a busca por redenção, enquanto Theo tenta encontrar seu lugar em um mundo que ele sente ter perdido no dia da explosão.

domingo, 19 de outubro de 2025

A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera


Minha opinião:Escolher A Insustentável Leveza do Ser para a primeira leitura do nosso clube do livro foi um encontro com algo que eu já queria ler há anos, mas sempre deixava para depois. E agora, finalmente, todas nós lemos juntas, e que experiência intensa! Desde a primeira página, senti que estava diante de uma obra que não se esquece, que mexe com a gente, com o pensamento e com o coração.

O livro é sobre o peso e a leveza da vida, sobre escolhas, relações e como cada um de nós lida com a vida de um jeito diferente. Ele se passa em meio à guerra, mostrando como tudo muda: nossos vínculos, nossos trabalhos, a maneira como vivemos e sentimos.

Tereza é a primeira personagem que nos toca profundamente. Ela carrega o peso do ciúme, da cobrança de si mesma e do medo de ficar sozinha. Cada gesto dela, cada sentimento confuso, cada dúvida sobre o amor ou sobre a fidelidade nos leva a refletir sobre o que significa amar e ser amado. Ela se casa com Tomas, um médico que ama a liberdade de se relacionar com outras mulheres sem criar laços, mas sente por Tereza uma ligação única — um cuidado que vai além do desejo. E é nesse contraste que percebemos: o que é traição? O que é amar? E até que ponto conseguimos realmente compreender o outro?

Sabina, amante de Tomas, parece leve, livre, quase flutuando sobre o mundo. Mas será que essa leveza é real, ou apenas outra forma de peso — o peso de não se prender, de fugir das relações, de não se permitir ser completamente feliz com alguém? Franz, um homem casado que se apaixona por Sabina, também enfrenta suas próprias escolhas e responsabilidades, questionando o preço de seguir o coração ou a verdade.

E, no meio de tudo, a guerra muda a vida das pessoas, força a deixar para trás o que conheciam, confronta o passado e mostra que não há como viver sem carregar algum peso. Kundera nos leva a refletir: será possível viver sem o peso do que fomos, do que sentimos, do que escolhemos? Existe uma verdadeira leveza na vida, ou tudo é, de algum jeito, inevitavelmente pesado?

Ler este livro foi intenso, e discutir com o clube tornou a experiência ainda mais rica. Entre as histórias, os encontros e desencontros, cada reflexão sobre amor, liberdade e responsabilidade ecoou na nossa própria vida. Um livro que permanece com você, mesmo depois que se fecha a última página.



Sinopse

Em A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera explora a complexidade das relações humanas e da vida sob o pano de fundo da Primavera de Praga e da ocupação soviética. O romance acompanha Tomas, um médico mulherengo; Tereza, sua esposa marcada pelo ciúme; Sabina, amante livre e independente; e Franz, um homem em busca de sentido em meio ao amor e à fidelidade. Entre dilemas morais, paixões e escolhas difíceis, o livro investiga os conceitos de peso e leveza existenciais, questionando o significado de amor, liberdade, verdade e responsabilidade.

A Lanterna das Memórias Perdidas, de Sanaka Hiiragi

Minha opinião: Que livro bonito… e que leitura intensa. A Lanterna das Memórias Perdidas me levou a um lugar entre a vida e o além, um espaço estranho e delicado onde cada pessoa precisa escolher uma foto de cada ano de sua vida — como se cada imagem guardasse a essência do que fomos, cada escolha, cada momento.

A primeira história é de uma senhora de 92 anos, professora do ensino infantil. Quando comecei a ler, pensei que seria uma narrativa tranquila, mas me surpreendi com a delicadeza com que a vida dela é narrada. Cada gesto simples, cada cuidado com os alunos, cada momento cotidiano parecia pequeno, mas a forma como ela impactou tantas vidas me emocionou profundamente. Fiquei admirada de como uma vida aparentemente comum pode ser tão cheia de significado.

A segunda história me pegou de um jeito inesperado. É sobre um homem de 47 anos, membro da Yakuza, e confesso que imaginei muita violência e dureza. Mas não. A narrativa me surpreendeu: ele se conecta com um jovem diferente, que parece ser autista, e através dessa amizade começa a enxergar o mundo de outro jeito. Aquela história me fez sentir leveza e ternura em um cenário que eu não esperava. Foi bonito perceber como empatia e conexão podem surgir nos lugares mais improváveis.

A terceira história foi a mais intensa e difícil. É sobre uma criança que sofreu muita violência, e ler aquilo me deixou tensa, angustiada, quase sem fôlego. É uma história dura, visceral, que não se esquece facilmente. Mas, ao mesmo tempo, é escrita com uma delicadeza incrível, que torna cada sofrimento humano e profundamente real. Saí dessa leitura refletindo sobre dor, resiliência e sobre como a vida pode ser cruel, mas ainda assim cheia de momentos que nos tocam profundamente.

No fim, o que mais me marcou foi como o livro consegue ser delicado e intenso ao mesmo tempo. É um livro que me fez sentir — rir, me emocionar, me apertar com o sofrimento, e ainda assim admirar a beleza escondida na vida cotidiana e nas pequenas conexões humanas.


Sinopse

Entre a vida e o além existe um espaço onde cada pessoa escolhe uma foto de cada ano de sua vida, guardando memórias e momentos essenciais. A Lanterna das Memórias Perdidas narra três histórias marcantes: de uma professora idosa que transforma vidas com sua presença, de um homem da Yakuza que descobre a amizade e a empatia, e de uma criança que enfrenta dores profundas. Um livro intenso, delicado e profundamente humano, que nos convida a refletir sobre o valor de cada memória e de cada vida.


VOX – Christina Dalcher


Minha opinião: VOX é um livro que segura a atenção desde o começo. O mundo construído é assustador justamente por parecer possível — basta olhar para discursos reais que acham normal silenciar, julgar, reduzir o outro ao que ele “deve” ser, seja por gênero, sexualidade ou qualquer forma de existência que não se encaixe.

Achei interessante como a autora mostra o processo de doutrinação, principalmente nas crianças, como se aprender a silenciar o outro fosse uma coisa “natural”. A protagonista vive um dilema intenso: ela é mãe, mulher e cientista — e precisa negociar com a própria culpa, com a passividade de quem permitiu certas coisas acontecerem e com a urgência de reagir.

A narrativa mistura ficção distópica com suspense, romance e reviravoltas, às vezes com muita informação, muitos elementos ao mesmo tempo, mas ainda assim prende porque queremos saber como tudo vai terminar. E de certa forma, termina como queríamos — embora eu não tenha certeza se foi exatamente a melhor solução… Mas ok, é um livro que faz pensar e mexe com várias camadas.

✨ Uma distopia que incomoda porque cutuca uma pergunta perigosa: e se o silêncio começar devagar e ninguém perceber?

Sinopse: Num futuro próximo nos Estados Unidos, um governo ultraconservador e patriarcal redefine o papel das mulheres: elas perdem seus empregos, seu lugar na vida pública e, principalmente, sua voz. Literalmente. Todas passam a usar pulseiras eletrônicas que permitem apenas 100 palavras por dia. Cada palavra além disso é punida com choques violentos. O silêncio se torna lei — e instrumento de controle.

Jean McLellan, linguista e mãe de quatro filhos, precisa assistir à transformação da sociedade e da própria família, percebendo como até as crianças começam a naturalizar a opressão. Mas quando o governo descobre sua pesquisa sobre afasia de Wernicke e vê nela uma oportunidade estratégica, Jean é forçada a voltar ao trabalho — e a partir daí se envolve numa trama de tensão, acordos perigosos, segredos e resistência.

O AMOR E SUA FOME – Lorena Portela

Minha opinião: Eu comecei O amor e sua fome sem saber muito bem o que esperar e talvez por isso a leitura tenha me surpreendido tanto. A protagonista, Dora, narra sua história desde a infância, e é impressionante como Lorena Portela consegue transformar memórias aparentemente simples em algo cheio de tensão emocional. Acompanhamos suas primeiras relações, as amizades que nascem meio tortas, as inimizades veladas, as formas de amar que ela tenta compreender — ora se aproximando, ora se afastando como se amar fosse sempre um movimento de risco.

A relação dela com Esme, sua amiga, é um dos pontos mais intensos do livro. Há ali uma energia difícil de nomear — amor, desejo, ciúme, raiva, encantamento — tudo misturado em uma linguagem que nunca precisa gritar para ser profunda.

O livro fala muito sobre essa contradição humana de querer o outro, mas ao mesmo tempo temer o vínculo; de desejar proximidade e se proteger dela; de sentir e tentar negar o próprio sentimento.

Ao longo da narrativa, algo muda. Seja por um movimento do inconsciente, seja por algo espiritual — e o livro deixa essa dúvida aberta — uma força atravessa tudo e altera o curso da vida de Dora. Não é uma mudança espetacular, é algo sutil que se infiltra, silenciosamente, como se o próprio destino se movesse alguns milímetros e isso fosse suficiente para mudar tudo.

A escrita tem uma força visceral, mas ao mesmo tempo é delicada, quase como se a autora soubesse exatamente onde tocar para criar incômodo sem violência, emoção sem exagero.

É um livro que mexe, mas sem pressa — ele permite sentir, e não apenas ler. Um romance para se entregar, não para passar rápido. Um livro para habitar um pouco a gente depois que termina.

Sinopse: Dora cresce observando o mundo com uma fome que não sabe nomear — fome de afeto, de pertencimento, de liberdade e, principalmente, de algo que dê sentido ao que ela sente e não consegue dizer. A narrativa acompanha sua infância e adolescência, marcada por amizades intensas, raivas silenciosas e afetos que nascem nas frestas do que é permitido. A relação com Esme, sua amiga mais marcante, concentra tensões amorosas e emocionais que escapam das definições comuns: é amor, é desejo, é dor, é uma mistura de tudo. Conforme Dora cresce, também cresce a consciência de si — e com ela a percepção de que amar é sempre um campo de risco, um espaço entre querer se aproximar e o medo de se perder. Entre memórias, corpo, inconsciente e uma possível força invisível que atravessa os acontecimentos, o livro revela uma jornada íntima sobre o que é amar e sobre o que a fome de amor é capaz de fazer com uma vida.

A INCONVENIENTE LOJA DE CONVENIÊNCIA – Kim Ho-yeon


Minha opinião: Achei esse livro muito bonito e delicado. Ele fala sobre algo que às vezes esquecemos: a capacidade de acreditar nas pessoas, na mudança, na bondade. A dona da loja faz isso de forma simples, sem discursos — ela confia, e essa confiança vira um gatilho de transformação para todos ao redor.

O personagem em situação de rua é um dos pontos mais tocantes. Ele não é romantizado — ele é humano, com falhas, vergonha, raiva, medo. E justamente por isso, ver o processo de recuperação da autoestima e da dignidade dele foi muito forte para mim. É quase como assistir a uma terapia feita de gestos simples: um café quente, uma tarefa cumprida, um olhar que não julga.

Não é sobre dinheiro. É sobre valor emocional, moral, humano — e a descoberta desse valor ao longo da narrativa é lindíssima.

💗 Um livro para guardar com carinho

A leitura me deixou com aquela sensação boa de esperança discreta, aquela que não faz barulho, mas acende uma luzinha dentro da gente. Às vezes é disso que precisamos: de histórias que lembram que o mundo ainda pode ser gentil.

Perfeito para quem:

Gosta de narrativas de afeto e transformação interior

Valoriza personagens que se constroem de dentro para fora

Acredita que gentilezas pequenas podem mudar destinos inteiros

Sinopse: Em um bairro comum de Seul, uma pequena loja de conveniência funciona madrugada adentro — um lugar aparentemente simples, mas que se torna ponto de encontro para pessoas desgastadas pela vida. A gerente, com seu jeito tranquilo e acolhedor, contrata um homem em situação de rua para trabalhar no turno noturno. A partir daí, pequenas mudanças começam a acontecer — não só nele, mas em todos os que circulam por aquele espaço. A loja vira um lugar de reencontros consigo mesmo, de dignidade e de recomeços silenciosos.



NIHONJIN – Oscar Nakasato


Minha opinião: Sou descendente de japoneses, mas de um jeito muito diferente do vivido no livro. Meus avós também vieram do Japão, depois da guerra, mas ao chegarem aqui escolheram ser brasileiros. Tanto que meu pai quase não fala japonês — a ideia era romper, não manter.

Por isso, ler Nihonjin foi uma experiência curiosa: enquanto os personagens carregavam o Japão no corpo, no idioma, nos ritos e até no sonho constante de retorno, eu me dei conta de que na minha família esse fio cultural não foi passado adiante. E ainda assim, alguma coisa desse pertencimento silencioso existe em mim — talvez justamente na forma de ausência.

O livro me despertou um olhar bonito e melancólico sobre pertencimento e deslocamento, além da força dos ritos e da memória como forma de resistência cultural.

A pergunta que fica: o que acontece quando a cultura é interrompida — ela desaparece ou se transforma em outra coisa?

Mesmo sem ter vivido essa tradição de forma direta, o livro me deu uma sensação estranha e bonita — como sentir saudade de uma história que não me foi contada.

Pra quem esse livro fala com força

Quem tem origem migrante — mesmo que a cultura tenha se diluído

Quem gosta de narrativas de memória, silêncio e identidade

Quem aprecia literatura brasileira que fala de nós a partir das margens

Talvez seja isso que Nihonjin faz: ele abre uma gaveta de memórias — mesmo para quem nunca recebeu as chaves.

Sinopse: Nihonjin acompanha a trajetória de uma família japonesa que migra para o Brasil no início do século XX. Carregando memórias da guerra e de um Japão idealizado, eles tentam construir uma nova vida enquanto mantêm — ou lutam para manter — seus costumes, língua e senso de identidade. Entre o desejo de pertencimento e o chamado silencioso da terra natal, o romance explora como a cultura se transforma, resiste ou se perde quando atravessa o oceano.

O CONTO DA AIA – Margaret Atwood


Minha opinião: Esse é daqueles livros que chegam carregados de fama. Eu já tinha ouvido falar muito — série, discussões, referências — e confesso: fui com a expectativa lá no alto. E talvez justamente por isso… achei apenas ok.

Não que seja ruim — a escrita prende, o mundo é perturbador e a narrativa da protagonista tem uma introspecção interessante. Eu queria continuar lendo, sim. Mas aquele impacto de “meu Deus, obra-prima” que eu esperava… não veio.

O que mais mexeu comigo foi pensar que tudo ali parece absurdo… mas também possível. Um mundo em que as violências contra as mulheres são institucionalizadas com naturalidade, em que o horror é disfarçado de ordem e religião, onde tudo parece “certo”, mas algo está sempre profundamente torto. E o pior: todos fingem que acreditam.

Esse incômodo eu gostei de sentir. Aquela sensação que fica na cabeça: “gente, isso podia acontecer de verdade”.

Preciso dizer com sinceridade: achei o final bobo. Me pareceu corrido, quase como se tudo terminasse num “tá, e é isso”. Depois de uma construção tão forte de atmosfera e tensão, esperei algo mais impactante — algo que me fizesse fechar o livro em silêncio dramático. Mas não veio.

Foi uma boa leitura, com reflexões atuais e uma construção de mundo perturbadoramente realista. Só que, diferente de muita gente, eu não achei brilhante — e tudo bem. Talvez se eu tivesse lido sem toda a fama em volta, a experiência teria sido diferente.

Recomendado para quem:

Curte distopia social com crítica forte e incômoda

Gosta de narrativas em primeira pessoa, introspectivas e irônicas

Quer refletir sobre poder, corpo e controle

 Pode frustrar quem:

Vai esperando uma reviravolta explosiva ou final arrebatador

Precisa de ação constante

Está com dificuldade de lidar com hype — talvez valha ler com expectativas mais baixas

Sinopse: Em um futuro opressor, a República de Gilead toma o poder e instaura um regime teocrático rigidamente controlado. Com a queda da fertilidade no mundo, as poucas mulheres ainda capazes de gerar filhos são escravizadas como Aias, obrigadas a servir às famílias dos Comandantes para garantir descendência. Offred, agora reduzida a um nome que nem é seu, narra seu cotidiano nesse sistema cruel, observando as pequenas formas de resistência, as mentiras mascaradas de ordem e a manipulação que transforma violência em “dever sagrado”.

NO ESPAÇO ENTRE NÓS – Elayne Baeta (Audible Original)


Minha opinião: Esse foi meu primeiro Audible Original com formato de novela, e isso já ganhou pontos. Tem várias vozes, ambientação sonora, ruídos de cenário, comunicações por rádio, barulhos de nave… quase como ouvir uma série sci-fi em áudio. A produção é caprichada, e isso deixou a experiência super imersiva.

MAS… (e aqui vem o mas...)
A protagonista é insuportável. Ego inflado, zero ética, se acha a última bolacha recheada da psicologia de IA — e pior, faz tudo com a maior certeza de que está absolutamente correta. Eu ouvia e pensava: “Nossa, que chata… nossa, que chata…” — e continuei ouvindo mesmo assim! Ou seja, a personagem irrita, mas a trama segura.

Terminei os dois volumes com aquela sensação de: “ok, queria bater nela, mas gostei da experiência”. Então valeu a pena!

Vou falar sobre o que me chamou atenção:

- Formato novela em áudio – MUITO bem feito, parece série.

- Futuro brasileiro com IA central controlando a internet — adorei esse detalhe de ambientar no Brasil, e não nos EUA pela milésima vez.

- Mistura de luto, tecnologia e terapia — ideia ousada.

- Protagonista arrogante nível “meu Deus, tira o microfone dela”.

- Ética profissional? Foi tomar um café e não voltou.

Não é um audiolivro “para amar a personagem”, e talvez essa seja até a proposta. Eu gostei da experiência, do formato e do universo criado. O incômodo que senti também virou parte da reflexão — porque ouvir alguém tão desagradável em posição de poder mexe com a gente.

Recomendado para quem gosta de:

Ficção futurista ambientada no Brasil

Narrativas com tecnologia + psicologia

Formatos imersivos com som e múltiplas vozes

 Não recomendado para:

Quem precisa simpatizar com o protagonista pra seguir na história

Sinopse: Em um Brasil futurista, hiper conectado e comandado por uma inteligência artificial central chamada Aurora, acompanhamos Eva, uma especialista em psicologia de I.A. que carrega um luto profundo pela morte de sua companheira, Nina. Em um misto de obrigação profissional e desespero emocional, ela aceita participar de sessões terapêuticas conduzidas pela própria Aurora — uma entidade que controla toda a rede digital do país, inclusive o espaço orbital de dados. O que começa como um experimento tecnológico se transforma em uma investigação íntima sobre memória, amor, ética e o limite entre humanidade e máquina.

domingo, 5 de outubro de 2025

Em Agosto Nos Vemos, de Gabriel García Márquez


Minha opinião: Eu não tinha lido nada sobre Em Agosto Nos Vemos antes de começar — e talvez isso tenha sido o melhor caminho. Escolhi o livro pelo nome de García Márquez, que sempre me conduz a histórias que parecem simples, mas carregam camadas de alma e tempo.

A narrativa gira em torno de Ana Magdalena Bach, uma mulher casada que, todos os anos, viaja em agosto para uma ilha onde está enterrada a mãe. Nessa viagem repetida, ela começa a experimentar uma outra vida, como se naquele espaço houvesse uma brecha do tempo em que pudesse existir diferente — mais livre, mais inteira, talvez mais verdadeira.

É como se, entre o barco e o hotel, entre a visita ao túmulo e o retorno para casa, algo dentro dela se abrisse. Há uma busca que não tem nome — talvez amor, talvez desejo, talvez apenas o impulso de ser mais do que a rotina permite. Ana não foge de sua vida; ela a dobra um pouco, só o bastante para respirar.

Li o livro como quem acompanha uma lembrança, com aquela melancolia leve que García Márquez sabe construir tão bem. É uma história sobre redescoberta, envelhecimento e liberdade, contada com uma delicadeza que parece sopro. Um texto curto, mas cheio de ecos — desses que ficam pairando na cabeça mesmo depois da última página.

Um livro bonito, sobre as vidas que poderiam ter sido, e sobre o instante em que a gente percebe que talvez ainda possa ser outra pessoa.

Sinopse:

Após décadas sem publicar inéditos, Gabriel García Márquez nos deixou Em Agosto Nos Vemos, seu último romance, encontrado entre seus manuscritos. Nele, conhecemos Ana Magdalena Bach, uma mulher que, todos os anos, viaja sozinha para uma ilha tropical para visitar o túmulo da mãe. Durante essas visitas, ela se permite viver experiências que transformam sua relação com o corpo, o desejo e o sentido da própria vida.

Com a linguagem poética e a sensibilidade que consagraram o autor de Cem Anos de Solidão, este livro fala sobre o poder do tempo, da memória e da liberdade íntima, num tom de despedida e reinvenção.