domingo, 30 de novembro de 2025

O Cozer das Pedras, o Roer dos Ossos, de Patrick Torres

Minha opinião: Sabe aquele livro que te pega logo nas primeiras páginas? Foi exatamente o que aconteceu comigo com O Cozer das Pedras, o Roer dos Ossos.

A história gira em torno de um personagem que acompanhamos desde menino, passando pela juventude até se tornar homem. É uma vida marcada pelo sofrimento e pelo temor, mas o que mais me tocou é que, apesar de tudo, ele guarda um coração gigante. Ele passa a vida tentando entender o que é o amor, o que é o carinho — coisas que ele nunca teve.
O livro já começa com um choque de realidade: o narrador conta que é um parricida. Isso mesmo, ele matou o pai. Mas a leitura exige que a gente olhe além do julgamento imediato. Como toda história, essa também tem o seu outro lado.

A escrita do Patrick Torres é fluente e me prendeu do início ao fim. É uma história comovente, cheia de encontros, reencontros e despedidas. Mas, acima de tudo, me fez refletir muito sobre a violência.
O livro escancara como nós naturalizamos a violência no dia a dia sem nem perceber, e como isso fere, machuca e nos distancia da capacidade de amar. É uma jornada dolorosa, mas também de muita esperança. Para mim, ficou marcado como um livro sobre a descoberta e sobre a resistência da ternura em um mundo bruto.

Um bom livro, que recomendo muito.

Sinopse

Romão é um homem marcado pela brutalidade desde o nascimento. Crescendo sob a sombra de um pai tirânico e violento em um cenário de escassez afetiva e material, ele aprende cedo que a vida é uma luta constante pela sobrevivência.
A narrativa começa com uma confissão impactante: Romão é um parricida. O ato de matar o próprio pai não é o fim, mas o ponto de partida para uma retrospectiva de sua vida e para uma fuga que se torna uma jornada de autodescoberta.
Ao longo da história, acompanhamos o crescimento de Romão, suas andanças, os personagens marginalizados que cruzam seu caminho e sua busca incessante por um sentido para a existência que vá além da dor. É um romance que explora a dualidade humana — a capacidade de cometer atos extremos, mas também a necessidade desesperada de acolhimento, redenção e amor.

Viagem ao centro da terra - Júlio Verne


Minha opinião: Pois é, decidi descobrir os clássicos que por muito tempo eu neglicenciei. 
Depois de me divertir tanto lendo A Volta ao Mundo em 80 Dias, fui com sede ao pote ler outro clássico do Júlio Verne: Viagem ao Centro da Terra. Confesso que eu comecei a leitura querendo e esperando a mesma emoção, aquela correria louca do Phileas Fogg.
Mas, bem... o ritmo aqui é outro.

O livro é mais parado. No começo eu achei que seria algo "botânico", mas me corrigindo: é um livro extremamente geológico, rs. Tem muita descrição de pedras, de camadas da terra, de túneis. Para quem espera ação o tempo todo, pode cansar um pouco.
Apesar de não ter ficado tão empolgada quanto no outro livro, a história tem o seu valor. Ela traz aquela sensação clássica de aventura, de buscar algo inalcançável. O autor consegue deixar a gente curiosa, querendo saber "o que vem depois" ou o que eles vão encontrar lá no fundo.

Eu não fiquei vibrando a cada página, mas atentei à história e gostei de acompanhar essa descida ao desconhecido.
Minha conclusão? Ficou como sendo um bom livro. Não é o meu favorito do Verne, mas é uma leitura interessante para quem tem paciência com as descrições e gosta de exploração.

Sinopse 
Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne
A história é narrada por Axel, um jovem tímido e cauteloso que vive com seu tio, o impetuoso e renomado professor de mineralogia Otto Lidenbrock.
A vida tranquila de Axel muda radicalmente quando o professor descobre um pergaminho antigo com uma mensagem codificada escrita por um alquimista islandês do século XVI, Arne Saknussemm. A mensagem revela um caminho secreto para chegar ao centro da Terra, entrando pela cratera de um vulcão extinto na Islândia, o Snaefellsjökull.
Arrastado pela obsessão do tio, Axel parte para a Islândia. Lá, guiados pelo estoico caçador Hans, o trio inicia uma descida perigosa às profundezas do planeta. Eles enfrentam a escassez de água, o isolamento, labirintos subterrâneos e acabam descobrindo um mundo fantástico e perdido no tempo, habitado por criaturas pré-históricas e fenômenos naturais inexplicáveis.

sábado, 22 de novembro de 2025

Laços - Domenico Starnone


Laços: Quando a família é um nó que a gente não consegue desatar

Para fechar minhas leituras, peguei "Laços", do Domenico Starnone. E olha... o livro já me fisgou nas primeiras páginas.
A história começa com uma sequência de cartas escritas por Vanda para seu marido, Aldo, que foi embora de casa para viver com uma mulher muito mais jovem.
 As cartas são fortes, viscerais.
 Elas mostram não só a dor dela, mas também escancaram a visão de um homem sem interesse pelos filhos, querendo uma liberdade que, na teoria, não pertence a quem já construiu uma família. 
É revoltante ver como a sociedade patriarcal apoia isso: os amigos acham natural ele "querer viver a vida", afinal, ele é homem, né?

Vanda narra os perrengues de ter que segurar a barra sozinha e, infelizmente, a gente vê como ela acaba jogando nos filhos a raiva que sente do pai, pintando ele como o homem fraco e egoísta que ele é naquele momento.

A segunda parte do livro dá um salto no tempo. Encontramos Aldo e Vanda já velhos e... juntos! Eles voltam de uma viagem e encontram a casa revirada, mas sem nada roubado. É nessa parte, narrada pelo Aldo, que percebemos como a culpa moldou a vida dele. Ele parece ter escolhido caminhos sem escolher de verdade, como se a vida tivesse acontecido apesar dele. Mas, como bem sabemos, não escolher já é uma escolha.

E por fim, a cereja do bolo: a versão dos filhos. Eles narram os fatos e mostram como os pais — essas figuras que deveriam cuidar — são humanos e erram desgraçadamente. É um soco no estômago ver como as atitudes (e as omissões) dos adultos afetam as crianças, deixando marcas que duram a vida toda.

É um livro fluido, muito bem escrito, mas que faz a gente parar para pensar e refletir sobre as mágoas que ficam guardadas debaixo do tapete (ou dentro de uma casa revirada). Gostei demais.

Sinopse

Nápoles, início dos anos 1980. Aldo e Vanda são um casal jovem com dois filhos pequenos, Sandro e Anna. A vida doméstica aparentemente estável é destruída quando Aldo confessa ter se apaixonado por uma mulher mais jovem e decide abandonar a família.
O romance é estruturado em três partes distintas. A primeira é composta pelas cartas angustiadas e furiosas que Vanda escreve para Aldo, documentando o abandono e as dificuldades práticas e emocionais de criar os filhos sozinha.
A segunda parte ocorre décadas depois, quando Aldo e Vanda, surpreendentemente, estão casados e velhos. Ao retornarem de uma viagem de férias, encontram o apartamento revirado e o gato da família desaparecido. Enquanto tentam colocar a casa em ordem, Aldo revisita seu passado, suas traições e o preço que pagou para manter a família "unida" novamente.
A terceira e última parte dá voz aos filhos, agora adultos, revelando como os traumas e as tensões silenciosas do casamento dos pais moldaram (e deformaram) suas próprias vidas. "Laços" é uma dissecação implacável da instituição familiar e das amarras invisíveis que nos prendem uns aos outros.

A Revolução dos Bichos - George Orwell

A Revolução dos Bichos: Por que demorei tanto para ler essa obra-prima?

Vou confessar um pecado literário: esse livro sempre foi muito falado, muito citado. Na faculdade, todo mundo já tinha lido. Mas, como uma boa aquariana que sou — e não é porque todo mundo lê que eu vou ler também —, eu sempre adiei. A curiosidade estava lá (lembro de ter começado e parado anos atrás), mas foi só agora que decidi encarar de vez.

E quer saber? Foi exatamente o que deveria ter acontecido. Li na idade e na época certas.
Fiquei impressionada com a sagacidade do George Orwell. Como é possível usar animais de uma granja para fazer uma representação tão gritante e atual das diferentes formas de poder? O livro é espetacular na forma como demonstra que a história pode ser reescrita.

O que mais me chocou foi ver como as regras mudavam "na calada da noite" para beneficiar quem estava no comando (os porcos), e como a memória coletiva ia virando uma "vaga lembrança", manipulada pelos líderes.
E o Sansão (o cavalo)? Minha nossa, que soco no estômago. Ele representa aquele trabalhador que não questiona, só age, se dedica com afinco e repete "eu vou trabalhar mais". E o que acontece quando ele não serve mais, quando não produz? É sacrificado. É uma crítica perfeita e cruel à vida capitalista e utilitária: se você não produz, não precisa existir.

Os porcos, que começaram pregando a igualdade, passaram a ser os detentores do saber, criando autoridades e privilégios, até que, na cena final (que é genial), eles voltam a se assemelhar exatamente àqueles de quem queriam se distanciar: os humanos.

No fim, a luta foi perdida porque foi esquecida. Esse livro me fez pensar na importância vital da História. Precisamos lembrar, relembrar e estudar o passado, porque quando a gente esquece, a gente repete. Um livro muito bom, necessário e atemporal.

Sinopse
A Revolução dos Bichos (Animal Farm), de George Orwell
Cansados da exploração, dos maus-tratos e da negligência do fazendeiro Sr. Jones, os animais da Granja do Solar, liderados pelos porcos (os animais mais inteligentes do grupo), organizam uma rebelião. Eles expulsam os humanos e tomam o controle da propriedade, rebatizando-a de "Granja dos Bichos".
O objetivo é criar uma sociedade utópica baseada no "Animalismo", onde todos são iguais, trabalham para o bem comum e são livres da tirania humana. No entanto, à medida que o tempo passa, uma disputa de poder surge entre dois porcos líderes: Napoleão e Bola de Neve.
Napoleão, utilizando força bruta e manipulação psicológica, consolida seu poder e começa a deturpar os mandamentos originais da revolução. Aos poucos, a utopia igualitária dá lugar a uma nova ditadura, onde a história é reescrita, a memória é apagada e a famosa máxima é alterada para: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros".

Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei

Pequena Coreografia do Adeus: Sobre pais que esvaziam e a escrita que preenche

Peguei esse livro na biblioteca do Sesc e preciso confessar uma coisa para vocês: acho aquele lugar meio mágico. Às vezes vou nas estantes e encontro justo um livro que nunca tinha visto antes, que eu queria muito ler, e depois que devolvo, nunca mais o vejo lá. Não é estranho? Rs... Mas devaneios à parte, foi assim que esse livro veio parar nas minhas mãos.

Eu já tinha lido o primeiro livro da Aline Bei (O Peso do Pássaro Morto) em uma sentada só. Esse, eu trouxe para casa para apreciar o tempo com ele. E que livro bonito! A escrita da autora é encantadora; ela brinca com as palavras, coloca em maiúscula, em minúsculo, usa um estilo poético visual que dá um ritmo único à leitura.

A história acompanha a Júlia desde a infância. É uma vida marcada por dois extremos dolorosos: a ausência completa do pai e a presença excessiva e machucada da mãe. A mãe da Júlia é uma figura difícil, que agride a filha física e verbalmente. Dava para sentir o vazio da menina, a raiva, a solidão e aquela busca desesperada por um lugar para se encaixar e ser amada.

Sinceramente? Me dava vontade de entrar no livro, pegar a Júlia no colo e cuidar dela.
A gente vê a Júlia crescer de forma muito fluida. Ela vira adulta, sai de casa para ter liberdade e não ficar mais à mercê da mãe (embora os pais continuem impactando a vida dela).
 Eu fiquei numa expectativa enorme pela felicidade dela. Quando ela descobre a dança, pensei: "É agora!". Mas a verdadeira virada acontece quando ela descobre a escrita.
É na escrita que a Júlia consegue ser autora da própria voz. É escrevendo que ela se enriquece por dentro, se enche de si mesma, logo ela que foi sempre tão "esvaziada" pela família. É uma história triste, mas de uma beleza e de uma superação muito poéticas. Gostei muito.

Sinopse 

Júlia é filha de pais separados: uma mãe sobrecarregada e emocionalmente instável, que desconta suas frustrações na filha através de agressões físicas e psicológicas, e um pai ausente, que surge apenas em visitas esporádicas e superficiais.
O romance de formação acompanha a trajetória de Júlia da infância à vida adulta, narrando suas tentativas de sobreviver a esse ambiente familiar tóxico e encontrar sua própria identidade. Escrito em prosa poética, com uma diagramação que reflete os estados emocionais da personagem, o livro explora o trauma, o abandono e a solidão.
Ao longo dos anos, Júlia busca refúgio em diferentes lugares — na fantasia, na dança e em relacionamentos — até encontrar na literatura e na escrita uma forma de elaborar suas dores, romper o ciclo de violência e, finalmente, coreografar o seu adeus ao passado que a aprisionava.

Se não fosse você por Colleen Hoover

Se não fosse você: Drama, traição e aquele toque adolescente clichê

Li esse livro por causa de todo o burburinho em torno da autora (a Colleen Hoover está em todo lugar, com filmes no cinema e virais no TikTok) e pensei: "Vai que me interessa, né?".

A premissa até que é interessante e bem dramática. Morgan, a protagonista, casou muito jovem com um homem que parecia bacana. A vida seguia seu curso até que um acidente trágico acontece e ela perde o marido e a irmã ao mesmo tempo. E aí vem a bomba: ela descobre que os dois, além de morrerem juntos, tinham um caso! O marido a traía com a própria irmã.

Aqui entra o ponto que mais me fez refletir. Eu acredito que a verdade, por mais dura que seja, é sempre melhor do que a mentira. Mas a Morgan decide esconder tudo da filha adolescente, a Clara, para "proteger" a memória do pai.
Isso gera praticamente toda a trama do livro. Porque mentir faz exatamente o que a gente vê no consultório: gera fantasias. Quando a gente não sabe o que está acontecendo, a gente imagina, cria estratégias, preenche as lacunas. A Clara, que é uma menina fofa tentando lidar com o luto, sente que tem algo errado no ar, sente a mentira rondando, e acaba agindo de forma rebelde e se jogando em outras coisas para tentar dar conta daquela angústia sem nome.

Apesar dessa reflexão sobre o luto e a verdade ser válida, achei o livro bem clichê. É aquela coisa meio "Sessão da Tarde". O romance da filha com o garoto da escola (o Miller) é bem meloso, bem adolescente mesmo.

Não fiquei com vontade de ver filme nenhum. Talvez não seja o meu momento de vida, mas achei a história apenas "ok". Para quem gosta de drama familiar com romance young adult, vale a pena para passar o tempo. Mas se você espera algo mais maduro, talvez ache bobo.
Afinal eu estava lendo a cachorra, tudo é rio...rs... Esse livro fica no chinelo.

Sinopse
Se não fosse você (Regretting You), de Colleen Hoover
Morgan Grant e sua filha adolescente, Clara, têm uma relação complicada. Morgan engravidou e casou muito cedo, colocando seus sonhos de lado para criar a família, e morre de medo de que a filha repita seus passos. Clara, por sua vez, acha a mãe previsível e controladora, sonhando em ser atriz, carreira que Morgan desaprova.
A única pessoa que mantém a paz na casa é Chris, pai de Clara e marido de Morgan. Mas essa estrutura desmorona quando Chris sofre um acidente fatal de carro, levando consigo a irmã de Morgan, Jenny.
No meio do luto devastador, Morgan descobre que Chris e Jenny mantinham um caso amoroso. Decidida a poupar a filha dessa dor e não destruir a imagem do pai que Clara idolatra, Morgan opta pelo silêncio. Esse segredo, porém, cria um abismo entre as duas. Enquanto Clara busca refúgio nos braços de Miller, um namorado que a mãe proíbe, Morgan tenta lidar com a traição e se reaproximar de um antigo amor do passado. O livro alterna os pontos de vista de mãe e filha, explorando o peso dos segredos e a difícil reconstrução dos laços familiares.