Minha opinião: Maus Hábitos, de Alana S. Portero, não é uma história simples. É uma leitura intensa, forte e cheia de camadas, daquelas que ficam ecoando na gente muito tempo depois de fechar o livro.
Acompanhamos a história de Alex desde quando ela era apenas uma criança, vivendo em um bairro operário de Madri nos anos 80. E é doloroso, mas hipnotizante, ver como ela fazia para se "fazer existir" em um mundo onde ela não podia ser quem era.
O livro é um relato visceral sobre o silêncio. Vemos Alex crescendo e aprendendo a esconder o que sentia, o que queria e, fundamentalmente, quem ela era. Imagina o peso disso? Ter que ser "ela" apenas escondida, nas sombras, enquanto performa um papel para a sociedade durante o dia.
O preconceito, o ódio e a violência permeiam as páginas. A autora não nos poupa do sofrimento que Alex e as mulheres que cruzam seu caminho enfrentam. Mas, ao mesmo tempo que é sofrido ver essa impossibilidade de dizer o que pensa, o livro é de uma beleza literária imensa.
É muito bem escrito, com uma prosa que tem uma força avassaladora. Maus Hábitos é um testemunho sobre a sobrevivência e sobre a busca desesperada pela própria identidade em meio ao caos. Uma leitura obrigatória e inesquecível.
Sinopse
Maus Hábitos (La mala costumbre), de Alana S. Portero
Narrado em primeira pessoa, o romance conta a trajetória de Alex, uma menina trans presa em um corpo de menino, crescendo em San Blas — um bairro operário de Madri devastado pela heroína e pela desesperança nas décadas de 1980 e 1990.
Desde a infância, Alex compreende que precisa manter sua verdadeira natureza em segredo para sobreviver em um ambiente hostil e machista. O livro acompanha sua jornada da infância até a vida adulta, mostrando sua "vida dupla": o medo constante de ser descoberta e os pequenos momentos de liberdade clandestina.
Ao longo do caminho, Alex encontra uma "irmandade" improvável: figuras femininas e trans marginalizadas que, mesmo vivendo no abismo, lhe ensinam sobre coragem, resistência e a possibilidade de brilhar mesmo na escuridão. É um romance de formação (coming-of-age) sobre classe, gênero e a luta brutal para se tornar quem se é.
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