segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O sentido da vida - Contardo Calligaris


Minha opinião: Gostei muito de ler O Sentido da Vida, de Contardo Calligaris. É um livro em que ele parte das próprias experiências para refletir sobre uma questão que parece sempre maior que nós: afinal, o que dá sentido à vida?

O tom é íntimo, quase como se estivéssemos ouvindo um amigo mais velho e sábio contar histórias, lembranças e aprendizados. O autor fala de momentos pessoais, traz situações cotidianas e filosofa a partir delas, sem nunca soar professoral. Pelo contrário, há sempre uma abertura para a dúvida, para o “não saber”.

Uma das coisas que mais me marcou foi a crítica à ideia de que não podemos ficar tristes. Vivemos numa sociedade que cobra felicidade constante, como se estar bem fosse uma obrigação. Calligaris nos lembra que a tristeza faz parte do caminho, que ela também pode ter um sentido.

O livro é curto, mas cheio de provocações. Não entrega respostas prontas, mas convida o leitor a pensar sobre as suas próprias escolhas, sobre o que o move e sobre a liberdade de construir um sentido único. Foi uma leitura leve no estilo, mas profunda no impacto.

📖 Sinopse

Em O Sentido da Vida, Contardo Calligaris reúne memórias e reflexões pessoais para abordar uma das questões mais antigas da filosofia: o que faz a vida valer a pena? Com estilo direto e intimista, o autor reflete sobre a importância de aceitar a tristeza, a busca individual por propósito e a liberdade de criar um sentido próprio. Um livro breve, delicado e instigante, que convida à reflexão sem impor respostas.

filho de mil homens - Valter Hugo mãe


Minha opinião: Li O filho de mil homens movida por duas curiosidades: falavam muito bem do livro e, além disso, vai sair um filme baseado nele. O que encontrei foi muito mais do que eu esperava: um livro delicado, poético e cheio de amor.

O personagem central é Crisóstomo, um pescador que, no início da narrativa, se sente incompleto. Ele descreve essa sensação de uma forma belíssima: é como se fosse apenas metade de tudo. Para se tornar inteiro, acredita que precisa de um filho. A partir daí, a história vai nos apresentando personagens diversos, com suas dores, segredos e afetos, até que suas vidas se cruzam, mostrando que a necessidade de pertencimento e de amor é universal.

Uma das coisas que mais me impressionou foi como o livro fala das dificuldades de amar: as barreiras impostas pelo preconceito, pelas convenções sociais, pelos medos. Quantas vezes não deixamos de dizer que gostamos de alguém justamente por causa desses limites invisíveis? O livro expõe isso com uma delicadeza imensa.

Crisóstomo, esse pescador simples e sem estudo, é retratado como alguém profundamente sábio — um verdadeiro mestre do amor. Ele enxerga o melhor das pessoas, acredita na bondade, reconhece a importância de amar e ser amado. É um personagem que fica no coração.

Valter Hugo Mãe, como sempre, escreve com poesia. As frases repetidas, quase como mantras, dão um ritmo doce e contemplativo à leitura. É um livro para guardar, reler e oferecer a quem a gente ama.

O filho de mil homens é, acima de tudo, uma celebração do amor — nas suas formas mais difíceis, mais frágeis e mais bonitas. Um daqueles livros que permanecem com a gente, mesmo depois da última página.

Sinopse: Em O filho de mil homens, Valter Hugo Mãe conta a história de Crisóstomo, um pescador que vive a sensação de ser apenas “metade” até descobrir, no desejo de ter um filho, a possibilidade de se tornar inteiro. A narrativa se amplia para incluir outras personagens cujas vidas se entrelaçam, revelando dores, segredos e a busca por pertencimento.
Com prosa poética e sensível, o livro celebra o amor em suas formas mais difíceis e belas, enfrentando preconceitos, silêncios e barreiras sociais. Um romance delicado e inesquecível sobre a necessidade de amar e ser amado.


As doenças do Brasil - Valter Hugo Mãe


Minha opinião: Quando comecei a ler As doenças do Brasil, não sabia exatamente o que esperar. Estava, ao mesmo tempo, mergulhada em O filho de mil homens, também do Valter Hugo Mãe, e pensava que encontraria algo próximo. Mas logo percebi que era outro caminho.

Aqui, o autor constrói um mundo diferente, com línguas próprias, modos de perceber a vida pela natureza, e uma profunda reflexão sobre pertencimento. O livro nos convida a reconhecer o valor de estar em comunidade, de se parecer com ela, de partilhar da mesma forma de viver.

A leitura tem uma cadência única: as falas repetidas, quase como versos, criam uma musicalidade que lembra poesia. Essa repetição, em vez de ser enfadonha, dá ao texto um ritmo ritualístico, como se fosse um canto ancestral. Achei isso muito bonito e marcante.

Apesar de tratar de temas duros — colonização, violência, apagamento —, o livro é também belo. Ele nos lembra que é possível falar de dor com poesia, e que a literatura pode abrir espaço para memórias que a história oficial muitas vezes preferiu apagar.

É um romance que pede sensibilidade, paciência e entrega, mas recompensa com imagens poderosas e com a delicadeza que só Valter Hugo Mãe consegue dar até mesmo ao que é mais cruel.

Sinopse

Em As doenças do Brasil, Valter Hugo Mãe constrói um romance lírico e poderoso sobre a colonização do Brasil, narrado a partir da perspectiva indígena. Fugindo da visão histórica oficial, o autor coloca no centro do enredo aqueles que sofreram a invasão europeia e o genocídio que se seguiu.

Criando uma linguagem própria, personagens e cenários de intensa força simbólica, o livro dá voz a um povo inventado para representar todos os povos originários que tiveram sua memória silenciada. Com artes de Denilson Baniwa e prefácio de Conceição Evaristo, a obra é uma homenagem às vidas que resistiram — e um convite para repensarmos a nossa própria história.

Quando as Árvores Morrem de Tatiana Lazzarotto

"Quando as Árvores Morrem", de Tatiana Lazzarotto, é um livro curto, mas profundamente sensível. A narrativa acompanha o processo de luto da protagonista, que retorna à sua cidade natal após a morte repentina do pai. O enredo se constrói em torno da casa da infância e da árvore do quintal, que funcionam como símbolos de memória, raízes e pertencimento.

O que mais me tocou foi a delicadeza com que o livro traduz o luto em palavras. Não é uma história de acontecimentos grandiosos, mas um mergulho nas pequenas etapas e sentimentos que acompanham a perda: as lembranças que retornam, os rituais que se fazem necessários, a estranheza de ocupar espaços que já não parecem os mesmos.

Se eu estivesse vivendo um luto, acredito que essa leitura seria um abrigo — um lugar para se reconhecer, para entender que a dor se faz de camadas e que a memória também tem sua forma de cura. A escrita é simples e poética, sem excessos, e justamente por isso consegue tocar de maneira direta.

É um livro bonito, íntimo e humano. Curto na extensão, mas intenso naquilo que desperta

Sinopse: Após a morte repentina do pai, a protagonista retorna à sua cidade natal, Província, para cumprir os desejos deixados por ele: restaurar a casa da família e impedir que a antiga árvore do quintal seja derrubada. Entre lembranças da infância, silêncios e a presença marcante da árvore, ela atravessa o processo de luto em um percurso de reconhecimento, memória e pertencimento.
Com linguagem poética e intimista, Tatiana Lazzarotto constrói uma narrativa delicada sobre perdas, raízes e o que permanece vivo dentro de nós quando alguém querido se vai.

sábado, 20 de setembro de 2025

Deslumbramento, por Richard Powers


Minha opinião: Deslumbramento é uma narrativa densa e introspectiva de Richard Powers, que nos leva a refletir sobre a dor, a perda e a busca por soluções para um mundo que parece cada vez mais em crise. O livro segue a jornada de um pai que, após perder sua esposa, tenta entender as dificuldades do filho, um menino que pode ter Asperger ou TDAH. Ao invés de optar pela medicação, o pai busca alternativas neurológicas para "ajustar" o comportamento do filho e torná-lo mais "normal". Porém, ao fazer isso, o menino começa a perder sua identidade, tentando ser alguém que não é, alguém mais calmo, mais “aceitável”. A tristeza dessa transformação é angustiante, porque a tentativa de ajustar o filho a um padrão idealizado acaba silenciando sua essência.

O que me tocou profundamente no livro é o dilema do pai, que busca, de boa-fé, o melhor para o filho, mas acaba criando um espaço onde a verdadeira identidade do garoto se perde. Isso me fez refletir muito sobre a minha própria experiência como mãe de uma filha autista e superdotada. Como no livro, muitas vezes a sociedade tenta moldar as crianças a um padrão, pedindo que elas sejam mais organizadas, mais calmas, mais "normais". A minha filha, em momentos de tristeza, já disse que não queria ser autista, que preferiria ser diferente, e isso me cortou o coração. Mas, ao mesmo tempo, fico pensando que, se ela fosse diferente, ela não seria ela mesma. Sua personalidade única, com suas qualidades e desafios, é o que a torna a pessoa incrível que é.

Deslumbramento não é apenas uma história sobre um pai tentando entender o filho. Ele nos provoca a refletir sobre as expectativas que temos em relação ao outro, especialmente quando ele é diferente. O livro abre um espaço de questionamento sobre como a sociedade lida com as diferenças, como lidamos com a dor da perda e a luta para encontrar soluções, muitas vezes sem perceber que o que precisamos pode ser simplesmente aceitar a pessoa como ela é, com todas as suas complexidades. E, mais do que isso, é sobre como isso nos afeta quando tentamos mudar aquilo que é único na pessoa que amamos

Sinopse:

Deslumbramento narra a história de um pai viúvo que busca entender as dificuldades de seu filho, um menino com possíveis transtornos como Asperger ou TDAH. Em um esforço para ajudá-lo, o pai tenta alternativas neurológicas e atividades que não envolvem medicamentos. No entanto, essas tentativas acabam mudando a essência do menino, que começa a perder sua identidade na busca por um comportamento mais "aceitável". A história também lança uma reflexão sobre o estado do planeta e o futuro que estamos deixando para as próximas gerações, fazendo com que o livro seja, além de uma crítica social, uma provocação existencial sobre como lidamos com as diferenças, o amor e a busca por pertencimento.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Deus da Escuridão de Valter Hugo Mãe

Minha opinião: Minha Opinião:

Deus da Escuridão é um livro que me deixou profundamente mexida. A escrita de Valter Hugo Mãe tem uma aura poética que parece envolver a narrativa de uma forma que, por vezes, me fazia pensar que estava lendo de forma errada — a contradição entre o texto parecer simples, mas, ao mesmo tempo, com palavras e frases complexas, criava um efeito inesperado. Algumas passagens pareciam poesia pura, e eu me sentia transportada para um universo diferente, quase como se estivesse imersa em outra realidade.
O livro nos apresenta a história de Felicíssimo, que, desde o nascimento de seu irmão Pouquinho, com uma condição física especial, se dedica a ele com um amor incondicional. A relação entre os dois é central na trama, e o modo como Felicíssimo declara seu amor por Pouquinho — algo que é "pouco", mas ao mesmo tempo "muito" — permeia toda a história. É um amor de uma pureza tocante, que supera dificuldades materiais e limitações.

O livro se passa em um cenário de pobreza, onde os sonhos de Felicíssimo e sua juventude são marcados pelas dificuldades, mas também pela beleza do amor fraterno que ele dedica ao irmão. Essa relação é intensa e, por vezes, dolorosa, mas também é um reflexo da sensibilidade do autor, que consegue criar uma atmosfera única, onde o amor, a lealdade e a resiliência são os pilares dessa história de vida simples, mas profundamente bonita.

Sinopse:

Deus da Escuridão segue a história de Pouquinho, um menino com deficiência, e de seu irmão Felicíssimo, que o acompanha desde o nascimento, oferecendo-lhe amor incondicional e cuidado. Desde o momento em que Pouquinho nasce, Felicíssimo sente que sua missão na vida é cuidar dele, não por obrigação, mas por um ato de puro afeto.

A história se passa em uma pequena comunidade, onde o cenário de pobreza e os sonhos difíceis de alcançar são contrastados pela força do vínculo entre os irmãos. O livro mergulha na ideia de que o amor pode ser praticado na escuridão, nos momentos mais desafiadores da vida. Através dessa relação, Valter Hugo Mãe nos apresenta uma história sensível, sobre como o amor fraterno pode ser tão intenso e divino quanto qualquer outro tipo de amor, e como ele se torna a força que move a vida de Felicíssimo e Pouquinho.

Um Amor Incomodo de Elena Ferrante

Minha opinião: Confesso que um Amor Incomodo foi um livro complicado para mim. Logo no início, a leitura me deixou um pouco perdida, e eu me questionava o tempo todo: por que a Delia age dessa forma? Por que ela vai atrás das pessoas da mãe, como se a história fosse dela e não da mãe? Isso me incomodou bastante durante a leitura.

O livro tem uma estrutura densa e complexa, e à medida que as páginas passavam, algumas situações começavam a ser reveladas, mas a confusão ainda estava ali, pairando sobre a trama. Em muitos momentos, eu me senti frustrada, querendo que a Delia reagisse de uma maneira diferente, mas ela seguiu o caminho dela, agindo como ela queria, o que era completamente oposto ao que eu imaginava.

Achei o livro difícil de ler, uma leitura que exige muita paciência e disposição. Algumas passagens me deixaram até nervosa, e o comportamento da Delia me tirava do sério, principalmente por ela ter uma atitude tão diferente do que eu esperava dela. No entanto, também é impossível negar a profundidade emocional da obra, mesmo com toda a confusão. A autora faz um retrato muito visceral e complicado de relações familiares, memórias e o impacto do passado sobre o presente.

Sinopse:

O Amor Incomodo acompanha a história de Delia, que retorna à cidade onde cresceu após a morte de sua mãe. Ela começa a investigar a vida da mãe, buscando respostas sobre o relacionamento delas e os segredos que ficaram por trás da figura materna. O livro é um mergulho profundo no universo psicológico de Delia, que se vê obcecada pelo passado e pelas pessoas que marcaram a vida de sua mãe. A narrativa mistura mistério, memórias e revelações, enquanto Delia tenta entender seu próprio lugar no mundo e o peso da sua relação com a mãe.

O Que Resta de Nós - Virginie Grimaldi

Minha opinião: Se você quer um livro que te toque no fundo do coração, O Que Resta de Nós é uma leitura que certamente vai mexer com você. A história é tão bonita e delicada, que faz a gente refletir sobre a importância dos laços humanos e como, mesmo em momentos de solidão e dificuldades, a convivência pode transformar nossas vidas de maneira profunda.

A trama nos apresenta Jeanne, uma mulher de 74 anos, que enfrenta a viuvez e a solidão após a morte do marido. Ela se vê em uma situação difícil, com questões financeiras complicadas, e decide alugar dois quartos de seu apartamento. É aí que ela conhece Théo, um jovem de 18 anos com um futuro incerto, e Iris, uma mulher de 33 anos com um passado misterioso. As três personagens vêm de lugares diferentes da vida, e, apesar das gerações e experiências de vida distintas, acabam formando uma amizade improvável.

O que mais me tocou no livro foi o modo como essas três figuras tão diferentes conseguem se apoiar e crescer juntas. Cada uma delas tem sua própria dor escondida e seus medos, mas juntas, vão aprendendo a abrir espaço para o outro, e é nesse encontro que elas encontram algo mais do que amizade: um novo sentido para a vida.

A autora consegue capturar com sensibilidade as nuances das relações humanas, as fragilidades de cada um, e a maneira como as conexões podem curar. Eu adorei a forma como ela fala sobre a importância das amizades, especialmente quando nos sentimos perdidos ou sozinhos.

Sinopse: O Que Resta de Nós conta a história de Jeanne, uma idosa de 74 anos que, após a morte de seu marido, enfrenta a solidão e a dificuldade de se adaptar à vida de viúva. Diante de problemas financeiros, ela decide alugar dois quartos de seu apartamento. Os novos inquilinos são Théo, um jovem de 18 anos que trabalha como aprendiz de confeiteiro, e Iris, uma jovem de 33 anos com um passado misterioso que trabalha como cuidadora.

A convivência entre essas três pessoas de gerações e histórias diferentes, e com suas próprias solidões, acaba criando uma amizade inesperada. Juntas, elas descobrem o poder da amizade, da aceitação e da superação, e como as ligações humanas podem transformar nossas vidas de maneira inesperada.

segunda-feira, 8 de setembro de 2025

Tudo É Rio" de Carla Madeira


Minha opinião: Logo no início, eu me vi presa a um jogo de sentimentos e emoções tão intensos que não sabia bem o que estava acontecendo, mas sabia que estava envolvida. Tudo É Rio, de Carla Madeira, começa de forma forte e sem rodeios: uma das protagonistas é uma mulher que se define como puta – e acredite, é com essa palavra que ela se apresenta ao mundo. Mas esse não é um livro sobre estigmas ou moralidades simplistas. A autora, com uma escrita poética e profunda, mergulha em temas complexos como o medo, os limites entre certo e errado, e o que é dito e o que permanece em silêncio.

A trama flui entre histórias de mães, pais, filhos e conhecidos, onde cada narrativa se mistura com a outra, como uma conversa que perde o rumo, mas sem nunca perder o fio condutor da emoção. Carla Madeira constrói um enredo com muitas camadas – o sexo é tratado de forma crua e visceral, mas também com uma delicadeza inusitada, despertando sentimentos de pudor, fetiches e, principalmente, afeto.

Em alguns momentos, senti até vergonha de estar ouvindo o audiolivro, de tão intensas que eram as cenas de sexualidade – mas isso não fez o livro perder sua sensibilidade. Ao contrário, a autora consegue dar um tom tão bonito e íntimo a cada cena que, ao final, nos damos conta de que o livro não está só sobre sexo, mas sobre a desconstrução do que nos ensinaram sobre os corpos, as emoções e as relações humanas.

É um livro forte, que vai te deixar sem fôlego, e o melhor: a narração do audiolivro é maravilhosa, o que só torna a experiência ainda mais imersiva.

Eu queria saber mais, queria entender tudo o que estava acontecendo, queria ver onde as personagens iam se perder – e se reencontrar. Tudo É Rio é uma leitura que vai mexer com você de dentro para fora, e que, mesmo sendo intensa e, às vezes, desconcertante, é impossível de esquecer.

Sinopse:

A história de Tudo É Rio gira em torno de uma mulher que é chamada de puta, mas que vive sua vida com total liberdade. A narrativa vai e vem entre suas experiências e memórias, passando por relacionamentos familiares, afetivos e sexuais, e colocando em questão as construções sociais do certo e do errado. A obra é uma reflexão profunda sobre as emoções humanas, sobre o que nos define e nos aprisiona, e sobre os corpos e os desejos. Carla Madeira nos apresenta uma história intensa, sensível e poética, capaz de fazer o leitor repensar o significado de liberdade, afeto e intimidade.

domingo, 7 de setembro de 2025

Não me abandone jamais, de Kazuo Ishiguro


Minha opinião: Comecei a ler este livro porque me disseram que era uma boa obra de ficção científica. Confesso que, no início, a leitura foi sonolenta. Cada vez que abria o livro, me dava vontade de fechar os olhos. Já tinha uma ideia prévia da história, e fiquei pensando: talvez, se eu não soubesse exatamente do que se tratava, a experiência teria sido mais intensa. Não tenho certeza.

A narrativa é lenta, monótona até, mas percebo que isso é parte da crítica. É um livro que parece comum, normal, quase banal, mas esconde algo perturbador — e é justamente aí que está sua força. O tom melancólico e nostálgico vai crescendo, e quando percebi já estava pensando no tema até nos meus sonhos.

O que mais me deixou reflexiva foi a questão ética que o livro levanta: quem pode viver, de que jeito, quem tem direito a uma vida plena? Só reconhecemos direitos em quem acreditamos ter uma “alma”? Essa pergunta ficou martelando em mim.

Não sei se gostei do livro. É triste, porque não há esperança nem perspectiva para os personagens. É como se estivessem destinados desde sempre, sem chance de fuga. Talvez, se você ler sem saber exatamente sobre o que é, a experiência seja ainda mais impactante. Se fizer isso, depois me conte

Sinopse

Em Não me abandone jamais, Kazuo Ishiguro apresenta uma narrativa delicada e inquietante sobre Kathy, Tommy e Ruth, jovens que cresceram em Hailsham, um colégio interno aparentemente comum. Entre lembranças e relações afetivas complexas, vamos descobrindo pouco a pouco que esses alunos carregam um destino sombrio: são clones, criados para doar seus órgãos. De forma silenciosa e melancólica, o livro expõe questões profundas sobre amor, memória, dignidade e sobre o que significa, afinal, ser humano.


sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Mesmo Rio - Elizama Santos

Minha opinião: Ouvi Mesmo Rio pelo Audible e, sinceramente, a narração maravilhosa fez toda a diferença na experiência. O livro é um mergulho profundo sobre família, sobre os laços que nos unem e as histórias que cada um carrega consigo, dentro de uma mesma casa e ao longo da mesma vida. A autora nos mostra como cada pessoa tem a sua versão dos fatos, e como, mesmo convivendo tão proximamente, as percepções podem ser tão diferentes. A forma como lidamos com as situações, as dores, os amores, tudo é único e pessoal.

Eu me emocionei de verdade com esse livro. Chorei, refleti e fiquei intrigada. Me tocou de uma maneira que poucos livros conseguem. Muitas vezes, é difícil dar nome a certos sentimentos.
E mesmo sendo psicóloga, e estando em processo de análise, tem coisas que permanecem inomináveis. Eu fiquei feliz de poder encontrar na arte uma maneira de dar voz ao que é difícil de expressar. Mesmo Rio faz isso de maneira delicada e profunda.

É um livro que vou indicar sempre que puder, porque ele nos lembra da complexidade das relações humanas e de como, por mais que compartilhemos espaços e tempos, cada um de nós vive sua própria história.

Sinopse:
Em Mesmo Rio, Elizama Santos nos conduz por uma jornada de introspecção sobre as complexidades da família, das relações e das versões que criamos para nós mesmos. Vivendo lado a lado, mas com experiências e compreensões diferentes, os personagens buscam, de maneira sensível, entender o que é verdade, o que é passado e o que é realmente compartilhado. Através de uma narrativa profunda e delicada, o livro revela a beleza de encontrar o nome para o que, muitas vezes, parece inominável.


O Peso do Pássaro Morto - Aline Bei


Minha opinião: Foi numa tarde tranquila, no Sesc Jundiaí, esperando o horário de almoço, que eu me vi acolhida por um livro e um espaço único. A biblioteca tem cápsulas individuais, móveis que te envolvem, te deixam à vontade para ler, descansar, respirar. Era como se aquele momento fosse só meu, e nesse cenário íntimo, me deparei com O Peso do Pássaro Morto, de Aline Bei. Em 25 minutos, li o livro inteiro, mas posso garantir: não foi uma leitura rápida, foi uma experiência intensa, como um mergulho profundo.

A escrita de Aline Bei é uma poesia entrelaçada em cada página, cada verso. Pequenas palavras que se tornam grandes sentimentos. Não lembro o nome da menina da história, mas lembro do peso que ela carregava. Da leveza de ser criança e da densidade de crescer em meio a tantas dores e complexidades.

A dor da personagem é a dor de muitas, é a que habita em quem vive o mundo com a alma sensível e as lembranças pesadas. O que mais me tocou foi a forma como a autora consegue transformar sofrimento em beleza. O livro é triste, sim, mas ao mesmo tempo tão bonito que me fez chorar, como se fosse uma música que a gente escuta e não consegue explicar o porquê de chorar, mas chora mesmo assim.

Eu li o livro rapidamente, mas a sensação ficou. O Peso do Pássaro Morto é mais do que um livro, é um pedaço da vida, daqueles pedaços que a gente carrega e não sabe como deixar para trás.

Sinopse

Aline Bei nos apresenta uma narrativa em forma de poema, que conta a história de uma menina e os pesos que ela carrega ao longo de sua vida. Entre a dor e a beleza, o livro mergulha na complexidade da infância e na busca por sentido em um mundo onde o silêncio é mais pesado do que as palavras. É uma leitura que emociona, que toca, que não pode ser esquecida facilmente.