segunda-feira, 29 de setembro de 2025

As doenças do Brasil - Valter Hugo Mãe


Minha opinião: Quando comecei a ler As doenças do Brasil, não sabia exatamente o que esperar. Estava, ao mesmo tempo, mergulhada em O filho de mil homens, também do Valter Hugo Mãe, e pensava que encontraria algo próximo. Mas logo percebi que era outro caminho.

Aqui, o autor constrói um mundo diferente, com línguas próprias, modos de perceber a vida pela natureza, e uma profunda reflexão sobre pertencimento. O livro nos convida a reconhecer o valor de estar em comunidade, de se parecer com ela, de partilhar da mesma forma de viver.

A leitura tem uma cadência única: as falas repetidas, quase como versos, criam uma musicalidade que lembra poesia. Essa repetição, em vez de ser enfadonha, dá ao texto um ritmo ritualístico, como se fosse um canto ancestral. Achei isso muito bonito e marcante.

Apesar de tratar de temas duros — colonização, violência, apagamento —, o livro é também belo. Ele nos lembra que é possível falar de dor com poesia, e que a literatura pode abrir espaço para memórias que a história oficial muitas vezes preferiu apagar.

É um romance que pede sensibilidade, paciência e entrega, mas recompensa com imagens poderosas e com a delicadeza que só Valter Hugo Mãe consegue dar até mesmo ao que é mais cruel.

Sinopse

Em As doenças do Brasil, Valter Hugo Mãe constrói um romance lírico e poderoso sobre a colonização do Brasil, narrado a partir da perspectiva indígena. Fugindo da visão histórica oficial, o autor coloca no centro do enredo aqueles que sofreram a invasão europeia e o genocídio que se seguiu.

Criando uma linguagem própria, personagens e cenários de intensa força simbólica, o livro dá voz a um povo inventado para representar todos os povos originários que tiveram sua memória silenciada. Com artes de Denilson Baniwa e prefácio de Conceição Evaristo, a obra é uma homenagem às vidas que resistiram — e um convite para repensarmos a nossa própria história.

Nenhum comentário: