terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves


Minha opinião: Nossa, que livro, hein! Terminei a leitura de Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, e ainda estou sentindo o impacto.
A história já começa pegando a gente de jeito, mostrando a força e a brutalidade vividas pela protagonista, Kehinde (batizada como Luísa no Brasil), ainda em sua infância na África. Todo o contexto da escravidão, a luta pela sobrevivência e a dureza das situações são narrados de uma forma que dói, mas que não nos deixa largar o livro.

Confesso que, apesar de todo o sofrimento, as pequenas e grandes vitórias de Kehinde faziam com que eu mantivesse a fé e a esperança. Acho que é por isso que, mesmo sendo um calhamaço gigante (quase mil páginas!), a leitura flui. Especialmente na primeira metade, as coisas acontecem e "desacontecem" com muita rapidez; é muita novidade, muita reviravolta.

O que mais me impressionou foi a capacidade da autora de nos fazer ver e perceber o amadurecimento da personagem. Acompanhamos Kehinde crescendo, desenvolvendo novos medos, outros anseios e questões mais complexas. Ela se torna uma mulher marcante, forte, poderosa e, às vezes, até impiedosa. Mas é, acima de tudo, sincera em sua fraqueza e em seus medos.

E a busca pelo filho... ah, a busca pelo filho! Kehinde passa a vida procurando por Omotunde (o menino que viria a ser Luiz Gama). Essa angústia foi tão bem escrita que mexeu comigo num nível profundo: cheguei a sonhar com o livro! No meu sonho, eu estava lá, junto com a personagem, buscando desesperadamente por ele.

Além da trama emocional, é uma aula de história. A autora pesquisou muito, e isso fica nítido. Acompanhamos o trânsito entre Brasil e África, mergulhamos nas religiões e religiosidades sem preconceitos, mas com muita fé e respeito.

Um Defeito de Cor não é apenas um livro; é uma experiência. É uma daquelas leituras que a gente tem que fazer na vida. Recomendo com toda a minha alma.

Sinopse 

Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves
O romance épico narra a trajetória de Kehinde, uma mulher africana que, ainda criança, é capturada, escravizada e trazida para o Brasil no século XIX. Inspirada na figura histórica de Luísa Mahin (mãe do abolicionista Luiz Gama), a personagem nos guia por oito décadas de uma vida extraordinária.
No Brasil, Kehinde luta contra a violência da escravidão, consegue comprar sua alforria através do trabalho e se torna uma empresária respeitada. No entanto, sua vida é marcada por uma tragédia pessoal: o desaparecimento de seu filho, Omotunde, vendido ilegalmente pelo próprio pai branco para pagar dívidas de jogo.
A narrativa é uma longa carta deixada por uma Kehinde já idosa e cega, que retorna à África (Benim) e decide contar sua história na esperança de que, um dia, seu filho a leia e saiba quem foi sua mãe. O livro atravessa ciclos econômicos, revoltas sociais e a formação da identidade brasileira, sempre pelo olhar de uma mulher que se recusou a ser vencida.

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