sábado, 30 de agosto de 2025

Velar por ela, de Jean-Baptiste Andrea


Minha opinião: Foi pelo Audible que entrei nessa jornada com Velar por ela. No início, confesso que achei meio devagar. Não estava entendendo muita coisa e pensei “o que tô ouvindo aqui?”. Mas, aos poucos, a trama foi me puxando — o ritmo se ajustou, e comecei a gostar de verdade.

O livro é narrado na Itália, com foco em Mimo (Michelangelo Vitaliani). Como anão, Mimo vive situações de preconceito, e teve que sempre se mostrar forte para sobreviver, mas também é um talentoso escultor, e cria uma obra enigmática e com muitas histórias sobre ela. A relação com Viola é linda, intensa e ambígua — não sei se é amor, amizade, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Tem força, tem sutileza, é complexa e toca.

Ele achava que não fazia parte da política, mas acabava participando — e foi isso que me fez pensar: muitas vezes a gente quer ficar fora da história, mas a história acaba nos engolindo, querendo ou não. Os momentos históricos atravessam a vida desses dois, e eu me peguei refletindo em vários pontos, imaginando o que faria no lugar deles.

No fim das contas, gostei bastante. Não é minha definição de “obra-prima”, mas “muito bom” parece encaixar perfeitamente: envolvente, reflexivo, poético — e pra mim, isso já é bastante.

Este Velar por ela me deixou com vontade de saber mais, de mergulhar mais fundo naquele universo que Andrea construiu. Talvez no próximo livro eu esteja com o coração ainda mais aberto pra essa mistura de arte, história e humanidade.

Sinopse: Publicado em 2023 e vencedor do prestigiado Prêmio Goncourt, Velar por ela (original em francês: Veiller sur elle) conta a história de Michelangelo “Mimo” Vitaliani, um escultor pequenino, pobre e de mãos de gênio. A narrativa começa em agosto de 1986, quando Mimo está às portas da morte em um mosteiro italiano — onde viveu por 40 anos dedicando-se a “ela”, sua última e enigmática obra: uma estátua capaz de perturbar quem a vê, cuja história permanece um mistério.

A linha do tempo se espalha pela primeira metade do século XX, com Mimo retornando em suas memórias ao tempo de aprendiz de um escultor violento, passando por sua intensa conexão com Viola Orsini — aristocrata de família poderosa — e atravessando o fascismo e as guerras na Itália. É uma história sobre amor, arte, ambição e resistência.

sábado, 23 de agosto de 2025

Salvar o Fogo - Itamar Vieira Junior

Minha opinião: Eu simplesmente amei o livro Salvar o Fogo. A narrativa de Itamar Vieira Junior é de uma sensibilidade única e me tocou profundamente. O início da história, com o olhar do "menino" Moisés, é delicado e potente. Ele busca, de forma inocente, um lugar onde possa encontrar amor e compreensão, e a maneira como isso é explorado foi muito intensa para mim. A busca por esse lugar, por acolhimento e por afeto, se tornou algo quase palpável, e isso me prendeu logo de cara.

A personagem Luzia, que carrega tanta dor, é uma das grandes forças da obra. Sua história é de sofrimento, mas também de resistência. A opressão das crenças impostas pela sociedade e pela igreja católica, o estigma que ela carrega, e a luta para compreender a depressão pós-parto, o estupro e todas as violências que ela sofre, são retratadas com tanto cuidado e empatia por Itamar que é impossível não se emocionar.
O mais bonito é ver como a cultura, as crenças e as imposições sociais estão entrelaçadas na vida desses personagens, como tudo se mistura, se invade, e cria um ambiente de dor, mas também de resiliência. Ao rever personagens de Torto Arado, de uma forma até distante, senti que o autor trouxe uma continuidade de suas histórias, o que fez a leitura ainda mais emocionante. Isso é uma prova do cuidado e carinho que Itamar tem com suas narrativas e com os destinos de seus personagens.

É um livro que mexe com a gente de uma forma profunda, que nos faz pensar sobre os caminhos da opressão e da luta por um lugar de amor e acolhimento, e de como as violências que essas mulheres enfrentam vão além da dor física. Salvar o Fogo é, sem dúvida, uma obra que toca a alma.

Sinopse: Salvar o Fogo é um romance de Itamar Vieira Junior que narra a história de Luzia, uma mulher marcada por várias violências ao longo de sua vida, incluindo a repressão das crenças impostas pela sociedade e pela igreja católica, o estupro e a depressão pós-parto. A narrativa, que é contada por diferentes personagens, explora as dificuldades de Luzia para compreender e lidar com seus traumas. Ao longo da trama, vemos como suas experiências de vida estão profundamente enraizadas nas tradições culturais e nas imposições sociais de seu tempo. Em uma história de dor, resistência e busca por pertencimento, o autor traz à tona questões de gênero, violência e a luta pela sobrevivência em um mundo que frequentemente silencia as mulheres.


A Vegetariana - Han Kang

Minha opinião: A Vegetariana' é um desses livros que você não consegue simplesmente classificar como "gostei" ou "não gostei". É curto, mas pesado, perturbador e cheio de camadas que ficam reverberando em sua mente longamente depois da leitura. Eu me senti desafiada pela narrativa e, ao mesmo tempo, profundamente desconcertada. A história de Yeong-hye, uma mulher que decide parar de comer carne e adotar um estilo de vida cada vez mais afastado das convenções sociais, é uma metáfora complexa sobre as pressões sociais, a violência sutil contra as mulheres e a busca por liberdade em um mundo opressor.  
A protagonista, ao escolher se afastar daquilo que é esperado dela, tenta, de alguma forma, ser algo além da sua identidade de mulher dentro das normas culturais. Ela busca a natureza, a inanição, a ausência de dor e de pertencimento. Mas será que sua decisão é uma forma de luta ou uma fuga da violência que sofreu? Não tenho uma resposta concreta. O que sei é que o livro, com sua narrativa fragmentada e os impactos da escolha de Yeong-hye sobre os outros ao seu redor, não deixa você em paz. Fiquei com uma sensação estranha de eterno vazio, como se algo estivesse permanentemente em aberto, sem resposta ou fechamento. Talvez esse seja o ponto: nos fazer refletir sobre a complexidade da experiência feminina, o conflito entre forças internas e externas, e o peso das expectativas que nos são impostas.
Se você está buscando uma história linear e simples, A Vegetariana não é para você. Mas, se estiver disposto a se perder em suas complexidades, em suas inquietações, e a refletir sobre o que nos define enquanto indivíduos, essa obra pode te deixar com um "nada resolvido" que é, na verdade, um convite para continuar pensando.

Sinopse: Yeong-hye, uma mulher comum na sociedade sul-coreana, decide, de maneira radical, abandonar o consumo de carne, uma escolha aparentemente simples que desencadeia uma série de transformações em sua vida e nas vidas das pessoas ao seu redor. À medida que ela se afasta cada vez mais dos padrões convencionais de sua sociedade, seu comportamento começa a ser interpretado de maneiras diferentes por aqueles que a cercam, tornando-se um símbolo de resistência, mas também de desconexão. A Vegetariana explora temas como a violência emocional e social, o desejo de liberdade e a relação complexa do corpo e da mente com as expectativas culturais e familiares.

domingo, 17 de agosto de 2025

Meus dias na livraria Morisaki - Satoshi Yashisawa

Minha opinião: Desde que vi a capa e o título de Meus dias na livraria Morisaki, senti que havia algo de especial nessa obra. Bonito e delicado, ele me chamou a atenção de imediato. Ao ler, tive uma experiência curiosa: é um livro rápido, mas que também parece demorado. Essa dualidade se deve ao ritmo da narrativa — lenta, detalhada, que convida a uma pausa no tempo.

A história nos lembra da importância de parar, olhar a vida com calma e perceber os detalhes que muitas vezes passam despercebidos na correria do dia a dia. Acompanhamos Takako em um momento de suspensão da vida: ela perde o amor, o trabalho, a casa, e vai morar com o tio — considerado o “esquisitão” da família. Porém, esse tio se revela um homem sábio, capaz de oferecer acolhimento e inspiração. É nesse ambiente, dentro da pequena livraria, que Takako reencontra sentido e redescobre a chama da vida.

Achei o livro delicado e bonito, com uma mensagem verdadeira: precisamos aprender a parar, respirar e olhar para o que realmente importa.

📖 Sinopse
Jovem em crise, Takako se sente perdida após uma decepção amorosa. Sem rumo, aceita o convite do tio para morar em sua antiga livraria, no bairro de Jinbōchō, em Tóquio, conhecido como o “bairro dos livros”. Aos poucos, entre prateleiras repletas de histórias e conversas com clientes peculiares, ela redescobre a si mesma e encontra novas razões para seguir em frente.
Meus dias na livraria Morisaki, de Satoshi Yagisawa, é um romance delicado sobre recomeços, a força dos laços humanos e o poder transformador dos livros.


Torto Arado - Itamar Vieira Junior

Minha opinião : Confesso que comecei essa leitura sem saber muito sobre a história. Eu sabia da existência do musical e que o livro estava sendo bastante comentado, mas não havia lido resenhas nem buscado informações antes. Fui, portanto, sem expectativas.

E que surpresa maravilhosa foi! Logo nas primeiras páginas, acompanhando as irmãs Bebiana e Belonísia, mergulhei em um enredo intenso, cheio de força e significado. A escrita do autor é fluida, poética, viva — parece que ele escreve com a alma. É uma narrativa que pulsa, que emociona, que nos envolve profundamente.

O livro traz mulheres fortes, poderosas, de uma resistência impressionante. Ao mesmo tempo, revela aspectos da história e da cultura, mostrando como tradições vão se perdendo, transformando-se, cedendo espaço a novas formas de viver.
É uma obra que fala sobre identidade, memória e resistência de um povo.

Posso dizer sem dúvida: foi uma das melhores leituras que já fiz. Incrível, intenso e belíssimo!

Sinopse: Nas profundezas do sertão baiano, as irmãs Bibiana e Belonísia encontram uma antiga e misteriosa faca em uma mala guardada sob a cama da avó. Um acidente as marca para sempre: Belonísia perde a língua e Bibiana se torna sua voz. A partir de então, suas vidas se entrelaçam de modo indivisível.
Com uma prosa lírica e encantada, Itamar Vieira Junior conduz uma narrativa de vida e morte, de combate e redenção — na qual a luta pela terra, a memória ancestral e o legado de uma cultura esquecida entrelaçam o cotidiano com o místico.
O romance destaca mulheres fortes e inspiradoras, retrata as condições análogas à escravidão enfrentadas por trabalhadores rurais no Brasil e revela uma poderosa insubordinação social, embalada por uma escrita realista e mágica.

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Antes que o Café Esfrie - Toshikazu Kawaguchi

Minha opinião: Eu estou no volume 3 já, rs! É em audiolivro, então não é tão rápido assim. E isso em menos de uma semana, e adivinha porque? Pq eu me apaixonei por essa escrita, no início eu não estava entendendo nada, apesar de ser descendente de japoneses, na verdade, sou mestiça, eu não tenho muita proximidade de cultura japonesa, então, os nomes, inicialmente foram os mais difíceis de lembrar, ficava confusa,.sobre quem era quem. Mas depois, no segundo capítulo eu já estava tão presa ao enredo e as histórias que não conseguia parar, e eu me emocionei muito! 
Eu corria de manhã ouvindo e chorando... Acreditam? Mas o livro é muito bonito, não sei, mas eu sinto que a escrita japonesa traz uma sensibilidade, emoções tão profundas, é um aprofundamento das relações que é uma marca japonesa, não vejo esse jeito em outras leituras, não que não existam livros sensíveis em outros países, não é isso, mas as histórias japonesas são diferentes, e eu venho percebendo isso com minhas leituras de autores japoneses, é tão visceral e tão intenso, e ao mesmo tempo tão delicados que percebemos que sentimos o mesmo, ou que sentiríamos o mesmo, é lindo! 
Bem, mas vamos a história né, o livro fala de uma cafeteria em Toquio no Japão em que é possível se viajar no tempo, mas não é tão simples assim, existem regras para que as viagens ocorram, entre elas é que se quiser encontrar alguém, você só pode encontrar pessoas que tenham ido nesse café, ou que você só pode viajar no tempo sentando em determinada cadeira, e não pode sair dela, ou seja, tem que ficar dentro do café, e tem outras regras que fazem perder a graça, mas não para todos...
O livro vai narrando a história dos donos do café, que vai se encaixando como que em um quebra cabeça, e enquanto isso cada capítulo é sobre uma história sobre alguém que viajou no tempo, e cada história, uma mais emocionante que a outra! 
Vale muito a pena! 

Resumo: Em uma ruazinha estreita e silenciosa de Tóquio, num subsolo, existe um estabelecimento que, há mais de 100 anos, serve um café cuidadosamente preparado. Graças a uma lenda urbana, o local recebe diversos frequentadores que esperam ansiosamente para viver uma experiência única: fazer uma viagem no tempo.  

Aqueles que retornam ao passado devem estar cientes dos riscos e também das regras, já que a jornada exige que o cliente se sente numa cadeira específica e reencontre somente pessoas que já tenham visitado o estabelecimento. Mesmo assim, quatro personagens aproveitam a oportunidade para tentar resolver dramas do passado.  

A experiência é imperdível, mas o tempo é curto. Mais precisamente, até o café esfriar.

Antes que o Café Esfrie é um romance do autor japonês Toshikazu Kawaguchi e best‐ seller do USA Today e do Times de Londres. Alcançou o 1º lugar na lista de mais vendidos (ficção literária internacional) da rede de livrarias Waterstones, no Reino Unido, e foi o romance traduzido mais vendido de 2020. No Japão, ultrapassou a incrível marca de 1 milhão de livros vendidos e segue fazendo sucesso em outros países como Taiwan, França e Itália.