Minha opinião: contém muitos spoilers!!!! Acabei de ler "A Cachorra", da Pilar Quintana, e preciso ser honesta com vocês: que livro esquisito.
Sabe aquela leitura que você termina e fica olhando pro teto pensando "Gente, o que foi isso?"? Pois é.
A história é curta, mas deixa uma sensação estranha, meio amarga. Acompanhamos a Damaris, uma mulher que carrega a dor da infertilidade e adota uma cachorrinha. Até aí, parece fofo, mas não se enganem.
A minha sensação durante a leitura foi de que a Damaris tinha uma dificuldade imensa de entender o que sentia. Ela sentia raiva de si mesma, um vazio enorme, e queria desesperadamente amar e ser amada. O problema é que ela projetou tudo isso na cachorra. Ela queria que o bicho fosse a filha que ela não teve, a amiga que não a abandonasse.
Mas a cachorra é uma cachorra, oras! Ela fazia coisas de cachorro: sumia, seguia instintos, não dava a "satisfação" humana que a dona esperava. E cada vez que a cachorra agia naturalmente, a Damaris se sentia de novo abandonada, se sentia uma inútil, revivendo todos os fracassos da vida dela.
Spoiler:
O final é forte. Eu fiquei pensando muito sobre isso e cheguei a uma conclusão: para mim, matar a cachorra foi um ato de se matar.
A Damaris não estava matando só o animal; ela estava tentando matar aqueles sentimentos insuportáveis dentro dela. Ela projetou tudo na Chirli (a cachorra), mas a dor, a rejeição e a falta de esperança eram, na verdade, todas dela.
Ela estava perdida, misturando os sentimentos, e o único jeito que encontrou de calar essa angústia foi aquele ato brutal.
É um livro que mostra como a mente humana pode ficar confusa e perigosa quando a gente não sabe lidar com as nossas próprias faltas.
Sinopse:
A Cachorra (La Perra), de Pilar Quintana
Ambientado na costa do Pacífico colombiano, uma região de natureza exuberante mas também de extrema pobreza e violência, o livro narra a história de Damaris. Já na meia-idade e marcada pela frustração de nunca ter conseguido engravidar, Damaris vive um casamento desgastado e silencioso com Rogelio.
Sua rotina monótona muda quando ela decide adotar uma cachorrinha órfã, a quem dá o nome de Chirli — o nome que teria dado à filha que nunca teve. O que começa como uma relação de cuidado e afeto materno logo se transforma em uma obsessão doentia.
Conforme a cachorra cresce e começa a exibir comportamentos instintivos, fugindo de casa e ignorando os cuidados da dona, o amor de Damaris se converte em ressentimento e violência, revelando as camadas mais sombrias da frustração humana e da solidão.
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