sábado, 22 de novembro de 2025

Laços - Domenico Starnone


Laços: Quando a família é um nó que a gente não consegue desatar

Para fechar minhas leituras, peguei "Laços", do Domenico Starnone. E olha... o livro já me fisgou nas primeiras páginas.
A história começa com uma sequência de cartas escritas por Vanda para seu marido, Aldo, que foi embora de casa para viver com uma mulher muito mais jovem.
 As cartas são fortes, viscerais.
 Elas mostram não só a dor dela, mas também escancaram a visão de um homem sem interesse pelos filhos, querendo uma liberdade que, na teoria, não pertence a quem já construiu uma família. 
É revoltante ver como a sociedade patriarcal apoia isso: os amigos acham natural ele "querer viver a vida", afinal, ele é homem, né?

Vanda narra os perrengues de ter que segurar a barra sozinha e, infelizmente, a gente vê como ela acaba jogando nos filhos a raiva que sente do pai, pintando ele como o homem fraco e egoísta que ele é naquele momento.

A segunda parte do livro dá um salto no tempo. Encontramos Aldo e Vanda já velhos e... juntos! Eles voltam de uma viagem e encontram a casa revirada, mas sem nada roubado. É nessa parte, narrada pelo Aldo, que percebemos como a culpa moldou a vida dele. Ele parece ter escolhido caminhos sem escolher de verdade, como se a vida tivesse acontecido apesar dele. Mas, como bem sabemos, não escolher já é uma escolha.

E por fim, a cereja do bolo: a versão dos filhos. Eles narram os fatos e mostram como os pais — essas figuras que deveriam cuidar — são humanos e erram desgraçadamente. É um soco no estômago ver como as atitudes (e as omissões) dos adultos afetam as crianças, deixando marcas que duram a vida toda.

É um livro fluido, muito bem escrito, mas que faz a gente parar para pensar e refletir sobre as mágoas que ficam guardadas debaixo do tapete (ou dentro de uma casa revirada). Gostei demais.

Sinopse

Nápoles, início dos anos 1980. Aldo e Vanda são um casal jovem com dois filhos pequenos, Sandro e Anna. A vida doméstica aparentemente estável é destruída quando Aldo confessa ter se apaixonado por uma mulher mais jovem e decide abandonar a família.
O romance é estruturado em três partes distintas. A primeira é composta pelas cartas angustiadas e furiosas que Vanda escreve para Aldo, documentando o abandono e as dificuldades práticas e emocionais de criar os filhos sozinha.
A segunda parte ocorre décadas depois, quando Aldo e Vanda, surpreendentemente, estão casados e velhos. Ao retornarem de uma viagem de férias, encontram o apartamento revirado e o gato da família desaparecido. Enquanto tentam colocar a casa em ordem, Aldo revisita seu passado, suas traições e o preço que pagou para manter a família "unida" novamente.
A terceira e última parte dá voz aos filhos, agora adultos, revelando como os traumas e as tensões silenciosas do casamento dos pais moldaram (e deformaram) suas próprias vidas. "Laços" é uma dissecação implacável da instituição familiar e das amarras invisíveis que nos prendem uns aos outros.

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