sábado, 22 de novembro de 2025

Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei

Pequena Coreografia do Adeus: Sobre pais que esvaziam e a escrita que preenche

Peguei esse livro na biblioteca do Sesc e preciso confessar uma coisa para vocês: acho aquele lugar meio mágico. Às vezes vou nas estantes e encontro justo um livro que nunca tinha visto antes, que eu queria muito ler, e depois que devolvo, nunca mais o vejo lá. Não é estranho? Rs... Mas devaneios à parte, foi assim que esse livro veio parar nas minhas mãos.

Eu já tinha lido o primeiro livro da Aline Bei (O Peso do Pássaro Morto) em uma sentada só. Esse, eu trouxe para casa para apreciar o tempo com ele. E que livro bonito! A escrita da autora é encantadora; ela brinca com as palavras, coloca em maiúscula, em minúsculo, usa um estilo poético visual que dá um ritmo único à leitura.

A história acompanha a Júlia desde a infância. É uma vida marcada por dois extremos dolorosos: a ausência completa do pai e a presença excessiva e machucada da mãe. A mãe da Júlia é uma figura difícil, que agride a filha física e verbalmente. Dava para sentir o vazio da menina, a raiva, a solidão e aquela busca desesperada por um lugar para se encaixar e ser amada.

Sinceramente? Me dava vontade de entrar no livro, pegar a Júlia no colo e cuidar dela.
A gente vê a Júlia crescer de forma muito fluida. Ela vira adulta, sai de casa para ter liberdade e não ficar mais à mercê da mãe (embora os pais continuem impactando a vida dela).
 Eu fiquei numa expectativa enorme pela felicidade dela. Quando ela descobre a dança, pensei: "É agora!". Mas a verdadeira virada acontece quando ela descobre a escrita.
É na escrita que a Júlia consegue ser autora da própria voz. É escrevendo que ela se enriquece por dentro, se enche de si mesma, logo ela que foi sempre tão "esvaziada" pela família. É uma história triste, mas de uma beleza e de uma superação muito poéticas. Gostei muito.

Sinopse 

Júlia é filha de pais separados: uma mãe sobrecarregada e emocionalmente instável, que desconta suas frustrações na filha através de agressões físicas e psicológicas, e um pai ausente, que surge apenas em visitas esporádicas e superficiais.
O romance de formação acompanha a trajetória de Júlia da infância à vida adulta, narrando suas tentativas de sobreviver a esse ambiente familiar tóxico e encontrar sua própria identidade. Escrito em prosa poética, com uma diagramação que reflete os estados emocionais da personagem, o livro explora o trauma, o abandono e a solidão.
Ao longo dos anos, Júlia busca refúgio em diferentes lugares — na fantasia, na dança e em relacionamentos — até encontrar na literatura e na escrita uma forma de elaborar suas dores, romper o ciclo de violência e, finalmente, coreografar o seu adeus ao passado que a aprisionava.

Nenhum comentário: