Chão de terra batida: Um "Faroeste Caboclo" no sertão pernambucano
Sabe quando você lê um livro e uma música começa a tocar na sua cabeça? Com "Chão de terra batida", da Carolina de Moura, a trilha sonora foi imediata: "Faroeste Caboclo", da Legião Urbana. Não sei explicar exatamente o porquê, mas a saga de fuga, de busca por um destino e de tragédia me trouxe essa imagem muito forte.
A história acompanha a Deda, uma jovem que vive sob o jugo de um pai autoritário, daquele tipo "coronel" dentro de casa, que manda e desmanda no destino de todos. Ele decide que ela vai se casar com um rapaz "bem-sucedido" da pequena vila, selando o futuro dela sem perguntar nada.
Pois bem, o destino (e o coração) tem outros planos. Deda começa a se interessar por um forasteiro e, no decorrer da trama, eles fogem.
A narrativa dessa fuga e das consequências dela é muito envolvente.
O que eu achei mais bonito foi a forma como a autora constrói a história: ela traz o olhar "por trás" dos personagens, mostrando o passado das famílias e explicando por que as pessoas agem como agem. Ninguém é mau ou bom de graça; tem sempre uma história por trás.
Além disso, o livro toca em feridas sociais importantes. Ele escancara como o patriarcado ainda é forte e dita as regras, criando conflitos que desembocam em situações limites. E aqui vale um destaque especial: a trama aborda com muito respeito as religiões de matriz africana, que muitas vezes são ignoradas ou demonizadas na literatura. Achei muito bom ter esse olhar de reverência e naturalidade para a fé que sustenta aquelas pessoas.
O final... ah, o final. Achei muito dramático. Na minha opinião, talvez não precisasse de tanto, mas entendo que faz parte da intensidade da obra. Apesar disso, o livrinho é bom e vale a leitura pela força da narrativa e das protagonistas.
Sinopse
Chão de terra batida, de Carolina de Moura
Ambientado no interior de Pernambuco, o romance narra a trajetória de Deda (Dedinha), uma mulher que ousa desafiar as estruturas rígidas do patriarcado nordestino. Prometida pelo pai severo a um homem de posses da região, Deda recusa o destino de submissão e decide fugir com um forasteiro por quem se apaixona, rompendo com sua família e com as tradições de Frei Miguelinho.
A narrativa, marcada pela oralidade e pelo sotaque regional, entrelaça a vida de Deda com a de outras mulheres de sua linhagem e convívio, expondo as violências sutis e explícitas a que são submetidas. Em meio à aridez do sertão e à busca por liberdade, a obra destaca a importância da fé e da ancestralidade — representadas pelas religiões de matriz africana — como refúgio e resistência, culminando em um desfecho impactante que reflete o preço de se buscar a própria voz em uma terra de silêncios impostos.
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