sábado, 22 de novembro de 2025

Laços - Domenico Starnone


Laços: Quando a família é um nó que a gente não consegue desatar

Para fechar minhas leituras, peguei "Laços", do Domenico Starnone. E olha... o livro já me fisgou nas primeiras páginas.
A história começa com uma sequência de cartas escritas por Vanda para seu marido, Aldo, que foi embora de casa para viver com uma mulher muito mais jovem.
 As cartas são fortes, viscerais.
 Elas mostram não só a dor dela, mas também escancaram a visão de um homem sem interesse pelos filhos, querendo uma liberdade que, na teoria, não pertence a quem já construiu uma família. 
É revoltante ver como a sociedade patriarcal apoia isso: os amigos acham natural ele "querer viver a vida", afinal, ele é homem, né?

Vanda narra os perrengues de ter que segurar a barra sozinha e, infelizmente, a gente vê como ela acaba jogando nos filhos a raiva que sente do pai, pintando ele como o homem fraco e egoísta que ele é naquele momento.

A segunda parte do livro dá um salto no tempo. Encontramos Aldo e Vanda já velhos e... juntos! Eles voltam de uma viagem e encontram a casa revirada, mas sem nada roubado. É nessa parte, narrada pelo Aldo, que percebemos como a culpa moldou a vida dele. Ele parece ter escolhido caminhos sem escolher de verdade, como se a vida tivesse acontecido apesar dele. Mas, como bem sabemos, não escolher já é uma escolha.

E por fim, a cereja do bolo: a versão dos filhos. Eles narram os fatos e mostram como os pais — essas figuras que deveriam cuidar — são humanos e erram desgraçadamente. É um soco no estômago ver como as atitudes (e as omissões) dos adultos afetam as crianças, deixando marcas que duram a vida toda.

É um livro fluido, muito bem escrito, mas que faz a gente parar para pensar e refletir sobre as mágoas que ficam guardadas debaixo do tapete (ou dentro de uma casa revirada). Gostei demais.

Sinopse

Nápoles, início dos anos 1980. Aldo e Vanda são um casal jovem com dois filhos pequenos, Sandro e Anna. A vida doméstica aparentemente estável é destruída quando Aldo confessa ter se apaixonado por uma mulher mais jovem e decide abandonar a família.
O romance é estruturado em três partes distintas. A primeira é composta pelas cartas angustiadas e furiosas que Vanda escreve para Aldo, documentando o abandono e as dificuldades práticas e emocionais de criar os filhos sozinha.
A segunda parte ocorre décadas depois, quando Aldo e Vanda, surpreendentemente, estão casados e velhos. Ao retornarem de uma viagem de férias, encontram o apartamento revirado e o gato da família desaparecido. Enquanto tentam colocar a casa em ordem, Aldo revisita seu passado, suas traições e o preço que pagou para manter a família "unida" novamente.
A terceira e última parte dá voz aos filhos, agora adultos, revelando como os traumas e as tensões silenciosas do casamento dos pais moldaram (e deformaram) suas próprias vidas. "Laços" é uma dissecação implacável da instituição familiar e das amarras invisíveis que nos prendem uns aos outros.

A Revolução dos Bichos - George Orwell

A Revolução dos Bichos: Por que demorei tanto para ler essa obra-prima?

Vou confessar um pecado literário: esse livro sempre foi muito falado, muito citado. Na faculdade, todo mundo já tinha lido. Mas, como uma boa aquariana que sou — e não é porque todo mundo lê que eu vou ler também —, eu sempre adiei. A curiosidade estava lá (lembro de ter começado e parado anos atrás), mas foi só agora que decidi encarar de vez.

E quer saber? Foi exatamente o que deveria ter acontecido. Li na idade e na época certas.
Fiquei impressionada com a sagacidade do George Orwell. Como é possível usar animais de uma granja para fazer uma representação tão gritante e atual das diferentes formas de poder? O livro é espetacular na forma como demonstra que a história pode ser reescrita.

O que mais me chocou foi ver como as regras mudavam "na calada da noite" para beneficiar quem estava no comando (os porcos), e como a memória coletiva ia virando uma "vaga lembrança", manipulada pelos líderes.
E o Sansão (o cavalo)? Minha nossa, que soco no estômago. Ele representa aquele trabalhador que não questiona, só age, se dedica com afinco e repete "eu vou trabalhar mais". E o que acontece quando ele não serve mais, quando não produz? É sacrificado. É uma crítica perfeita e cruel à vida capitalista e utilitária: se você não produz, não precisa existir.

Os porcos, que começaram pregando a igualdade, passaram a ser os detentores do saber, criando autoridades e privilégios, até que, na cena final (que é genial), eles voltam a se assemelhar exatamente àqueles de quem queriam se distanciar: os humanos.

No fim, a luta foi perdida porque foi esquecida. Esse livro me fez pensar na importância vital da História. Precisamos lembrar, relembrar e estudar o passado, porque quando a gente esquece, a gente repete. Um livro muito bom, necessário e atemporal.

Sinopse
A Revolução dos Bichos (Animal Farm), de George Orwell
Cansados da exploração, dos maus-tratos e da negligência do fazendeiro Sr. Jones, os animais da Granja do Solar, liderados pelos porcos (os animais mais inteligentes do grupo), organizam uma rebelião. Eles expulsam os humanos e tomam o controle da propriedade, rebatizando-a de "Granja dos Bichos".
O objetivo é criar uma sociedade utópica baseada no "Animalismo", onde todos são iguais, trabalham para o bem comum e são livres da tirania humana. No entanto, à medida que o tempo passa, uma disputa de poder surge entre dois porcos líderes: Napoleão e Bola de Neve.
Napoleão, utilizando força bruta e manipulação psicológica, consolida seu poder e começa a deturpar os mandamentos originais da revolução. Aos poucos, a utopia igualitária dá lugar a uma nova ditadura, onde a história é reescrita, a memória é apagada e a famosa máxima é alterada para: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros".

Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei

Pequena Coreografia do Adeus: Sobre pais que esvaziam e a escrita que preenche

Peguei esse livro na biblioteca do Sesc e preciso confessar uma coisa para vocês: acho aquele lugar meio mágico. Às vezes vou nas estantes e encontro justo um livro que nunca tinha visto antes, que eu queria muito ler, e depois que devolvo, nunca mais o vejo lá. Não é estranho? Rs... Mas devaneios à parte, foi assim que esse livro veio parar nas minhas mãos.

Eu já tinha lido o primeiro livro da Aline Bei (O Peso do Pássaro Morto) em uma sentada só. Esse, eu trouxe para casa para apreciar o tempo com ele. E que livro bonito! A escrita da autora é encantadora; ela brinca com as palavras, coloca em maiúscula, em minúsculo, usa um estilo poético visual que dá um ritmo único à leitura.

A história acompanha a Júlia desde a infância. É uma vida marcada por dois extremos dolorosos: a ausência completa do pai e a presença excessiva e machucada da mãe. A mãe da Júlia é uma figura difícil, que agride a filha física e verbalmente. Dava para sentir o vazio da menina, a raiva, a solidão e aquela busca desesperada por um lugar para se encaixar e ser amada.

Sinceramente? Me dava vontade de entrar no livro, pegar a Júlia no colo e cuidar dela.
A gente vê a Júlia crescer de forma muito fluida. Ela vira adulta, sai de casa para ter liberdade e não ficar mais à mercê da mãe (embora os pais continuem impactando a vida dela).
 Eu fiquei numa expectativa enorme pela felicidade dela. Quando ela descobre a dança, pensei: "É agora!". Mas a verdadeira virada acontece quando ela descobre a escrita.
É na escrita que a Júlia consegue ser autora da própria voz. É escrevendo que ela se enriquece por dentro, se enche de si mesma, logo ela que foi sempre tão "esvaziada" pela família. É uma história triste, mas de uma beleza e de uma superação muito poéticas. Gostei muito.

Sinopse 

Júlia é filha de pais separados: uma mãe sobrecarregada e emocionalmente instável, que desconta suas frustrações na filha através de agressões físicas e psicológicas, e um pai ausente, que surge apenas em visitas esporádicas e superficiais.
O romance de formação acompanha a trajetória de Júlia da infância à vida adulta, narrando suas tentativas de sobreviver a esse ambiente familiar tóxico e encontrar sua própria identidade. Escrito em prosa poética, com uma diagramação que reflete os estados emocionais da personagem, o livro explora o trauma, o abandono e a solidão.
Ao longo dos anos, Júlia busca refúgio em diferentes lugares — na fantasia, na dança e em relacionamentos — até encontrar na literatura e na escrita uma forma de elaborar suas dores, romper o ciclo de violência e, finalmente, coreografar o seu adeus ao passado que a aprisionava.

Se não fosse você por Colleen Hoover

Se não fosse você: Drama, traição e aquele toque adolescente clichê

Li esse livro por causa de todo o burburinho em torno da autora (a Colleen Hoover está em todo lugar, com filmes no cinema e virais no TikTok) e pensei: "Vai que me interessa, né?".

A premissa até que é interessante e bem dramática. Morgan, a protagonista, casou muito jovem com um homem que parecia bacana. A vida seguia seu curso até que um acidente trágico acontece e ela perde o marido e a irmã ao mesmo tempo. E aí vem a bomba: ela descobre que os dois, além de morrerem juntos, tinham um caso! O marido a traía com a própria irmã.

Aqui entra o ponto que mais me fez refletir. Eu acredito que a verdade, por mais dura que seja, é sempre melhor do que a mentira. Mas a Morgan decide esconder tudo da filha adolescente, a Clara, para "proteger" a memória do pai.
Isso gera praticamente toda a trama do livro. Porque mentir faz exatamente o que a gente vê no consultório: gera fantasias. Quando a gente não sabe o que está acontecendo, a gente imagina, cria estratégias, preenche as lacunas. A Clara, que é uma menina fofa tentando lidar com o luto, sente que tem algo errado no ar, sente a mentira rondando, e acaba agindo de forma rebelde e se jogando em outras coisas para tentar dar conta daquela angústia sem nome.

Apesar dessa reflexão sobre o luto e a verdade ser válida, achei o livro bem clichê. É aquela coisa meio "Sessão da Tarde". O romance da filha com o garoto da escola (o Miller) é bem meloso, bem adolescente mesmo.

Não fiquei com vontade de ver filme nenhum. Talvez não seja o meu momento de vida, mas achei a história apenas "ok". Para quem gosta de drama familiar com romance young adult, vale a pena para passar o tempo. Mas se você espera algo mais maduro, talvez ache bobo.
Afinal eu estava lendo a cachorra, tudo é rio...rs... Esse livro fica no chinelo.

Sinopse
Se não fosse você (Regretting You), de Colleen Hoover
Morgan Grant e sua filha adolescente, Clara, têm uma relação complicada. Morgan engravidou e casou muito cedo, colocando seus sonhos de lado para criar a família, e morre de medo de que a filha repita seus passos. Clara, por sua vez, acha a mãe previsível e controladora, sonhando em ser atriz, carreira que Morgan desaprova.
A única pessoa que mantém a paz na casa é Chris, pai de Clara e marido de Morgan. Mas essa estrutura desmorona quando Chris sofre um acidente fatal de carro, levando consigo a irmã de Morgan, Jenny.
No meio do luto devastador, Morgan descobre que Chris e Jenny mantinham um caso amoroso. Decidida a poupar a filha dessa dor e não destruir a imagem do pai que Clara idolatra, Morgan opta pelo silêncio. Esse segredo, porém, cria um abismo entre as duas. Enquanto Clara busca refúgio nos braços de Miller, um namorado que a mãe proíbe, Morgan tenta lidar com a traição e se reaproximar de um antigo amor do passado. O livro alterna os pontos de vista de mãe e filha, explorando o peso dos segredos e a difícil reconstrução dos laços familiares.

Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice), de Jane Austen


Orgulho e Preconceito: Clássico, fofo e... ah, que inveja desse ócio!

Vou confessar: é a pura verdade que eu nunca tinha lido "Orgulho e Preconceito". Sempre torci um pouco o nariz para romances de época e histórias melosas (embora eu já tenha lido muitos romances assim no passado, rs). Mas, como ando numa fase de me interessar pelos clássicos da literatura — acho que a maturidade faz a gente enxergar essas obras com outros olhos —, decidi dar uma chance. Afinal, é A Jane Austen, né?

Bem, o livro não é chato. Longe disso. Ele é fofo, traz uma protagonista forte (Elizabeth Bennet) e te transporta de verdade para outra época.
E falando em outra época... minha nossa! Fiquei encantada e morrendo de inveja do estilo de vida deles. Imaginem só: passar os dias admirando bosques, paisagens, visitando casas enormes, jogando cartas e tendo tempo ocioso à vontade? Seria maravilhoso! Eu queria viver nessa época só para ter todo esse tempo para ler, escrever e apreciar o mundo. A única preocupação delas era casar... kkkk. Bem diferente da nossa correria atual, né?

Tirando essa minha inveja do tempo livre, achei o livro ok. Ele traz uma aura da época muito legal, descreve os costumes com ironia. Mas o casal principal (Lizzy e Sr. Darcy)... na minha opinião, não tem nada demais. Acho que, para quem lê hoje, a história ficou meio batida, meio clichê. Talvez na época do lançamento fosse revolucionário, mas hoje já vimos essa dinâmica de "cão e gato" em mil outros livros e filmes.

No fim, foi legal. Foi uma leitura tranquila, perfeita para relaxar num fim de tarde, tentando imitar um pouco desse ócio maravilhoso das mulheres do livro.


Sinopse
Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice), de Jane Austen
Na Inglaterra rural do início do século XIX, a Sra. Bennet tem um único objetivo na vida: casar bem suas cinco filhas (Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia) para garantir o futuro delas, já que a propriedade da família será herdada por um primo distante.
Quando o rico e solteiro Sr. Bingley aluga uma mansão vizinha, a esperança se acende. No entanto, o amigo dele, o aristocrático e reservado Sr. Darcy, causa uma péssima primeira impressão, especialmente na segunda filha, a inteligente e vivaz Elizabeth Bennet, que o considera arrogante e orgulhoso.
A trama segue o embate intelectual e emocional entre Elizabeth e Darcy. Enquanto ela precisa superar seus preconceitos baseados em primeiras impressões e fofocas, ele precisa vencer seu orgulho de classe para reconhecer seus sentimentos. É uma comédia de costumes brilhante que critica a dependência financeira das mulheres e a superficialidade da alta sociedade da época.

Chão de terra batida, de Carolina de Moura

Chão de terra batida: Um "Faroeste Caboclo" no sertão pernambucano

Sabe quando você lê um livro e uma música começa a tocar na sua cabeça? Com "Chão de terra batida", da Carolina de Moura, a trilha sonora foi imediata: "Faroeste Caboclo", da Legião Urbana. Não sei explicar exatamente o porquê, mas a saga de fuga, de busca por um destino e de tragédia me trouxe essa imagem muito forte.
A história acompanha a Deda, uma jovem que vive sob o jugo de um pai autoritário, daquele tipo "coronel" dentro de casa, que manda e desmanda no destino de todos. Ele decide que ela vai se casar com um rapaz "bem-sucedido" da pequena vila, selando o futuro dela sem perguntar nada.
Pois bem, o destino (e o coração) tem outros planos. Deda começa a se interessar por um forasteiro e, no decorrer da trama, eles fogem.

 A narrativa dessa fuga e das consequências dela é muito envolvente.
O que eu achei mais bonito foi a forma como a autora constrói a história: ela traz o olhar "por trás" dos personagens, mostrando o passado das famílias e explicando por que as pessoas agem como agem. Ninguém é mau ou bom de graça; tem sempre uma história por trás.

Além disso, o livro toca em feridas sociais importantes. Ele escancara como o patriarcado ainda é forte e dita as regras, criando conflitos que desembocam em situações limites. E aqui vale um destaque especial: a trama aborda com muito respeito as religiões de matriz africana, que muitas vezes são ignoradas ou demonizadas na literatura. Achei muito bom ter esse olhar de reverência e naturalidade para a fé que sustenta aquelas pessoas.

O final... ah, o final. Achei muito dramático. Na minha opinião, talvez não precisasse de tanto, mas entendo que faz parte da intensidade da obra. Apesar disso, o livrinho é bom e vale a leitura pela força da narrativa e das protagonistas.

Sinopse 
Chão de terra batida, de Carolina de Moura
Ambientado no interior de Pernambuco, o romance narra a trajetória de Deda (Dedinha), uma mulher que ousa desafiar as estruturas rígidas do patriarcado nordestino. Prometida pelo pai severo a um homem de posses da região, Deda recusa o destino de submissão e decide fugir com um forasteiro por quem se apaixona, rompendo com sua família e com as tradições de Frei Miguelinho.
A narrativa, marcada pela oralidade e pelo sotaque regional, entrelaça a vida de Deda com a de outras mulheres de sua linhagem e convívio, expondo as violências sutis e explícitas a que são submetidas. Em meio à aridez do sertão e à busca por liberdade, a obra destaca a importância da fé e da ancestralidade — representadas pelas religiões de matriz africana — como refúgio e resistência, culminando em um desfecho impactante que reflete o preço de se buscar a própria voz em uma terra de silêncios impostos.

Flores Partidas (Pretty Girls), de Karin Slaughter

Flores Partidas: Segredos de família, mentes psicopatas e cenas fortes

Eu estava sentindo falta de um bom suspense policial, daqueles para mergulhar na mente de psicopatas e tentar entender o inexplicável. Foi assim que cheguei em "Flores Partidas", da Karin Slaughter.
Vou ser direta: é um livro bom. Não achei ótimo, mas cumpre bem o que promete para quem gosta do gênero.
A história gira em torno de uma mulher que vive numa bolha de riqueza e perfeição, até que seu marido é assassinado bem na sua frente. A partir daí, ela descobre que esse homem que a idolatrava escondia segredos terríveis. O ponto que mais me pegou foi a culpa e a negação: ela passou anos desacreditando na própria irmã, que era usuária de drogas e acusou o marido dela de tentativa de estupro. Afinal, como acreditar na "irmã problema" quando você tem um "príncipe" em casa?

Além desse drama presente, a família é marcada por uma tragédia antiga: o desaparecimento da irmã mais velha, que sumiu na faculdade sem deixar rastros.

O livro prende. É uma narrativa forte, visceral, com cenas de violência bem explícitas (aviso de gatilho!). Eu gosto dessa dinâmica de "vai e vem" no tempo e de protagonistas mulheres fortes que precisam resolver os mistérios.
Sobre o final... bom, o plot twist não é tão surpreendente assim. Quem está acostumado com suspense acaba pescando as coisas antes. Mas, mesmo assim, vale a pena pela construção dos mistérios e para quem tem essa curiosidade de entender como funciona a mente perversa de um psicopata.

Sinopse 
Flores Partidas (Pretty Girls), de Karin Slaughter
As irmãs Claire e Lydia não se falam há quase duas décadas. Os rumos opostos que suas vidas tomaram foram definidos por uma tragédia familiar: o desaparecimento de Julia, a irmã mais velha, de dezenove anos, que sumiu sem deixar rastros, destruindo a estrutura da família.
Claire tornou-se a esposa troféu de um milionário arquiteto, vivendo uma vida de luxo e aparências. Lydia, por outro lado, enfrentou o vício em drogas e luta para se reerguer como mãe solteira.
O frágil equilíbrio de Claire é estilhaçado quando seu marido, Paul, é brutalmente assassinado. Ao revirar as coisas do falecido, Claire descobre no computador dele vídeos perturbadores que ligam Paul a crimes hediondos e, possivelmente, ao desaparecimento de Julia. Forçadas a se reunir pelo luto e pelo horror, Claire e Lydia precisam escavar o passado e enfrentar uma verdade muito mais cruel do que imaginavam para sobreviver.

A natureza da mordida - Carla Madeira


A Natureza da Mordida: O livro da memória que eu... esqueci

​Depois de devorar "Tudo é Rio" e ficar impactada com "Véspera", eu precisava fechar a trindade da Carla Madeira com "A Natureza da Mordida". Fui com muita expectativa, afinal, a protagonista Biá é uma psicanalista (como eu!) e o livro é cheio de trechos existenciais e reflexões profundas. Tinha tudo para ser o meu favorito.

​Mas, preciso ser sincera: dos três livros dela que li, esse foi o que menos me pegou.

​A história cruza os caminhos de Biá, uma psicanalista idosa perdendo a memória, e Olívia, uma jovem jornalista sofrendo por um abandono. Elas conversam, trocam angústias e tentam se entender. Tem cenas enigmáticas, um certo suspense sobre o passado delas, mas... não me prendeu.

​Sabe quando o suspense não gera aquela tensão? Quando as cenas não fazem você parar para pensar de verdade? Foi isso que senti. O livro traz reflexões bonitas, sim, mas não teve a força visceral que senti nos outros.

​Para mim, a prova de fogo de um livro marcante é ele reverberar na mente. É você terminar e continuar pensando nele, sonhar com a história (como aconteceu com Véspera). E com "A Natureza da Mordida", aconteceu o oposto: logo depois de ler, eu quase não me lembrava mais da história direito.

​É irônico que um livro sobre a perda da memória não tenha conseguido se fixar na minha. É uma leitura válida, a escrita da Carla continua poética, mas faltou aquele "soco no estômago" que faz a gente não esquecer jamais.

​Sinopse Objetiva do Livro

A Natureza da Mordida, de Carla Madeira

​Biá é uma psicanalista aposentada e apaixonada por literatura que lida com o avanço inexorável da perda de memória e da demência. Olívia é uma jovem jornalista que carrega o peso de um abandono recente e doloroso. O destino das duas se cruza em um sebo improvisado na cidade de Belo Horizonte.

​Aproximadas pela dor e pela necessidade de conexão, elas desenvolvem uma amizade intensa. Através de encontros sucessivos, Olívia narra sua história, tentando reconstruir os fatos que a levaram àquele estado de desolação, enquanto Biá oferece escuta e provocações filosóficas.

​O romance intercala as narrativas das duas, revelando gradualmente os segredos do passado de ambas: o conflito de Olívia com sua melhor amiga de infância, Rita, e o misterioso drama familiar de Biá, envolvendo sua filha Teresa. É uma obra sobre a fragilidade da memória, o poder da palavra e as marcas que as relações deixam em nós.

véspera - Carla Madeira


Véspera: O pesadelo real de uma mãe e a sombra de Caim e Abel

Depois de ler "Tudo é Rio" e ficar impactada, eu estava ansiosa e curiosa para ler outros livros da Carla Madeira. A minha escolha foi "Véspera" e, olha... que soco no estômago.
A história já começa com uma cena que deixa qualquer mãe sem ar. Vedina, num lapso de angústia e estresse no trânsito, é chutada sem querer pelo filho de cinco anos no banco de trás. Num impulso, ela abre a porta, manda o menino descer e arranca com o carro. Ela nem chega a virar a esquina; o arrependimento bate na hora, ela volta, mas... a criança não está mais lá.

Os capítulos desse acontecimento desesperador se intercalam com a história do passado da família, focada nos irmãos Caim e Abel. Os nomes, fruto de uma birra do pai para provocar a mãe religiosa, parecem marcar o destino deles.
Fiquei muito mexida com a história da Vedina. Senti na pele a agonia dela de perder o filho por culpa própria, uma angústia terrível, misturada com uma sensação tabu de que, no fundo, talvez ela não quisesse ser mãe.

Mas o que me fez sonhar com o livro (sim, ficou reverberando na minha cabeça!) foi a dinâmica entre Caim e Abel. A autora constrói um Caim carismático e interessante, e um Abel que parece "o bom moço", mas que esconde algo sombrio.
Achei genial e perturbador o fato de que, até os seis anos, a mãe os tratava como um só: "Abel e Abelzinho". Não existia um Caim. Isso me fez pensar muito sobre a identidade deles. Abel me pareceu uma figura perversa, que encontrou a maldade através da inveja, invertendo a lógica bíblica.

A Carla Madeira traz trechos densos, terríveis, de uma forma que é possível sentir o que está acontecendo. É angustiante, mas impossível de largar. Um livro que explora o que está nas entrelinhas das famílias e como um único dia — a véspera — pode mudar tudo para sempre.

Sinopse Objetiva do Livro
Véspera, de Carla Madeira
O romance é construído em duas linhas temporais que caminham para colidir. No presente, Vedina, uma mulher esgotada por um casamento em ruínas e pela maternidade, abandona seu filho pequeno em uma avenida movimentada num momento de descontrole emocional. Ao retornar minutos depois, a criança desapareceu sem deixar rastros.
Paralelamente, o livro recua no tempo para narrar a história da família de Vedina e, principalmente, de seu marido e do irmão dele: os gêmeos Caim e Abel. Nascidos em uma família disfuncional, sob a guarda de uma mãe extremamente religiosa e um pai alcoólatra e provocador, os irmãos crescem sob o peso de seus nomes bíblicos.
Enquanto a narrativa avança para desvendar o mistério do desaparecimento da criança, Carla Madeira explora as complexidades das relações fraternas, a inveja, a culpa cristã e como as identidades são forjadas — ou destruídas — pelo olhar do outro. "Véspera" questiona até onde vão as consequências de nossos atos impensados e o que fazemos quando chegamos ao limite.

A Cachorra - Pilar Quintana

Minha opinião: contém muitos spoilers!!!! Acabei de ler "A Cachorra", da Pilar Quintana, e preciso ser honesta com vocês: que livro esquisito. 
Sabe aquela leitura que você termina e fica olhando pro teto pensando "Gente, o que foi isso?"? Pois é.
A história é curta, mas deixa uma sensação estranha, meio amarga. Acompanhamos a Damaris, uma mulher que carrega a dor da infertilidade e adota uma cachorrinha. Até aí, parece fofo, mas não se enganem.
A minha sensação durante a leitura foi de que a Damaris tinha uma dificuldade imensa de entender o que sentia. Ela sentia raiva de si mesma, um vazio enorme, e queria desesperadamente amar e ser amada. O problema é que ela projetou tudo isso na cachorra. Ela queria que o bicho fosse a filha que ela não teve, a amiga que não a abandonasse.
Mas a cachorra é uma cachorra, oras! Ela fazia coisas de cachorro: sumia, seguia instintos, não dava a "satisfação" humana que a dona esperava. E cada vez que a cachorra agia naturalmente, a Damaris se sentia de novo abandonada, se sentia uma inútil, revivendo todos os fracassos da vida dela.
Spoiler:
O final é forte. Eu fiquei pensando muito sobre isso e cheguei a uma conclusão: para mim, matar a cachorra foi um ato de se matar.
A Damaris não estava matando só o animal; ela estava tentando matar aqueles sentimentos insuportáveis dentro dela. Ela projetou tudo na Chirli (a cachorra), mas a dor, a rejeição e a falta de esperança eram, na verdade, todas dela. 
Ela estava perdida, misturando os sentimentos, e o único jeito que encontrou de calar essa angústia foi aquele ato brutal.
É um livro que mostra como a mente humana pode ficar confusa e perigosa quando a gente não sabe lidar com as nossas próprias faltas.

Sinopse: 
A Cachorra (La Perra), de Pilar Quintana
Ambientado na costa do Pacífico colombiano, uma região de natureza exuberante mas também de extrema pobreza e violência, o livro narra a história de Damaris. Já na meia-idade e marcada pela frustração de nunca ter conseguido engravidar, Damaris vive um casamento desgastado e silencioso com Rogelio.
Sua rotina monótona muda quando ela decide adotar uma cachorrinha órfã, a quem dá o nome de Chirli — o nome que teria dado à filha que nunca teve. O que começa como uma relação de cuidado e afeto materno logo se transforma em uma obsessão doentia.
Conforme a cachorra cresce e começa a exibir comportamentos instintivos, fugindo de casa e ignorando os cuidados da dona, o amor de Damaris se converte em ressentimento e violência, revelando as camadas mais sombrias da frustração humana e da solidão.