Minha opinião: Eu comecei O amor e sua fome sem saber muito bem o que esperar e talvez por isso a leitura tenha me surpreendido tanto. A protagonista, Dora, narra sua história desde a infância, e é impressionante como Lorena Portela consegue transformar memórias aparentemente simples em algo cheio de tensão emocional. Acompanhamos suas primeiras relações, as amizades que nascem meio tortas, as inimizades veladas, as formas de amar que ela tenta compreender — ora se aproximando, ora se afastando como se amar fosse sempre um movimento de risco.
A relação dela com Esme, sua amiga, é um dos pontos mais intensos do livro. Há ali uma energia difícil de nomear — amor, desejo, ciúme, raiva, encantamento — tudo misturado em uma linguagem que nunca precisa gritar para ser profunda.
O livro fala muito sobre essa contradição humana de querer o outro, mas ao mesmo tempo temer o vínculo; de desejar proximidade e se proteger dela; de sentir e tentar negar o próprio sentimento.
Ao longo da narrativa, algo muda. Seja por um movimento do inconsciente, seja por algo espiritual — e o livro deixa essa dúvida aberta — uma força atravessa tudo e altera o curso da vida de Dora. Não é uma mudança espetacular, é algo sutil que se infiltra, silenciosamente, como se o próprio destino se movesse alguns milímetros e isso fosse suficiente para mudar tudo.
A escrita tem uma força visceral, mas ao mesmo tempo é delicada, quase como se a autora soubesse exatamente onde tocar para criar incômodo sem violência, emoção sem exagero.
É um livro que mexe, mas sem pressa — ele permite sentir, e não apenas ler. Um romance para se entregar, não para passar rápido. Um livro para habitar um pouco a gente depois que termina.
Sinopse: Dora cresce observando o mundo com uma fome que não sabe nomear — fome de afeto, de pertencimento, de liberdade e, principalmente, de algo que dê sentido ao que ela sente e não consegue dizer. A narrativa acompanha sua infância e adolescência, marcada por amizades intensas, raivas silenciosas e afetos que nascem nas frestas do que é permitido. A relação com Esme, sua amiga mais marcante, concentra tensões amorosas e emocionais que escapam das definições comuns: é amor, é desejo, é dor, é uma mistura de tudo. Conforme Dora cresce, também cresce a consciência de si — e com ela a percepção de que amar é sempre um campo de risco, um espaço entre querer se aproximar e o medo de se perder. Entre memórias, corpo, inconsciente e uma possível força invisível que atravessa os acontecimentos, o livro revela uma jornada íntima sobre o que é amar e sobre o que a fome de amor é capaz de fazer com uma vida.
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