domingo, 30 de novembro de 2025

O Cozer das Pedras, o Roer dos Ossos, de Patrick Torres

Minha opinião: Sabe aquele livro que te pega logo nas primeiras páginas? Foi exatamente o que aconteceu comigo com O Cozer das Pedras, o Roer dos Ossos.

A história gira em torno de um personagem que acompanhamos desde menino, passando pela juventude até se tornar homem. É uma vida marcada pelo sofrimento e pelo temor, mas o que mais me tocou é que, apesar de tudo, ele guarda um coração gigante. Ele passa a vida tentando entender o que é o amor, o que é o carinho — coisas que ele nunca teve.
O livro já começa com um choque de realidade: o narrador conta que é um parricida. Isso mesmo, ele matou o pai. Mas a leitura exige que a gente olhe além do julgamento imediato. Como toda história, essa também tem o seu outro lado.

A escrita do Patrick Torres é fluente e me prendeu do início ao fim. É uma história comovente, cheia de encontros, reencontros e despedidas. Mas, acima de tudo, me fez refletir muito sobre a violência.
O livro escancara como nós naturalizamos a violência no dia a dia sem nem perceber, e como isso fere, machuca e nos distancia da capacidade de amar. É uma jornada dolorosa, mas também de muita esperança. Para mim, ficou marcado como um livro sobre a descoberta e sobre a resistência da ternura em um mundo bruto.

Um bom livro, que recomendo muito.

Sinopse

Romão é um homem marcado pela brutalidade desde o nascimento. Crescendo sob a sombra de um pai tirânico e violento em um cenário de escassez afetiva e material, ele aprende cedo que a vida é uma luta constante pela sobrevivência.
A narrativa começa com uma confissão impactante: Romão é um parricida. O ato de matar o próprio pai não é o fim, mas o ponto de partida para uma retrospectiva de sua vida e para uma fuga que se torna uma jornada de autodescoberta.
Ao longo da história, acompanhamos o crescimento de Romão, suas andanças, os personagens marginalizados que cruzam seu caminho e sua busca incessante por um sentido para a existência que vá além da dor. É um romance que explora a dualidade humana — a capacidade de cometer atos extremos, mas também a necessidade desesperada de acolhimento, redenção e amor.

Viagem ao centro da terra - Júlio Verne


Minha opinião: Pois é, decidi descobrir os clássicos que por muito tempo eu neglicenciei. 
Depois de me divertir tanto lendo A Volta ao Mundo em 80 Dias, fui com sede ao pote ler outro clássico do Júlio Verne: Viagem ao Centro da Terra. Confesso que eu comecei a leitura querendo e esperando a mesma emoção, aquela correria louca do Phileas Fogg.
Mas, bem... o ritmo aqui é outro.

O livro é mais parado. No começo eu achei que seria algo "botânico", mas me corrigindo: é um livro extremamente geológico, rs. Tem muita descrição de pedras, de camadas da terra, de túneis. Para quem espera ação o tempo todo, pode cansar um pouco.
Apesar de não ter ficado tão empolgada quanto no outro livro, a história tem o seu valor. Ela traz aquela sensação clássica de aventura, de buscar algo inalcançável. O autor consegue deixar a gente curiosa, querendo saber "o que vem depois" ou o que eles vão encontrar lá no fundo.

Eu não fiquei vibrando a cada página, mas atentei à história e gostei de acompanhar essa descida ao desconhecido.
Minha conclusão? Ficou como sendo um bom livro. Não é o meu favorito do Verne, mas é uma leitura interessante para quem tem paciência com as descrições e gosta de exploração.

Sinopse 
Viagem ao Centro da Terra, de Júlio Verne
A história é narrada por Axel, um jovem tímido e cauteloso que vive com seu tio, o impetuoso e renomado professor de mineralogia Otto Lidenbrock.
A vida tranquila de Axel muda radicalmente quando o professor descobre um pergaminho antigo com uma mensagem codificada escrita por um alquimista islandês do século XVI, Arne Saknussemm. A mensagem revela um caminho secreto para chegar ao centro da Terra, entrando pela cratera de um vulcão extinto na Islândia, o Snaefellsjökull.
Arrastado pela obsessão do tio, Axel parte para a Islândia. Lá, guiados pelo estoico caçador Hans, o trio inicia uma descida perigosa às profundezas do planeta. Eles enfrentam a escassez de água, o isolamento, labirintos subterrâneos e acabam descobrindo um mundo fantástico e perdido no tempo, habitado por criaturas pré-históricas e fenômenos naturais inexplicáveis.

sábado, 22 de novembro de 2025

Laços - Domenico Starnone


Laços: Quando a família é um nó que a gente não consegue desatar

Para fechar minhas leituras, peguei "Laços", do Domenico Starnone. E olha... o livro já me fisgou nas primeiras páginas.
A história começa com uma sequência de cartas escritas por Vanda para seu marido, Aldo, que foi embora de casa para viver com uma mulher muito mais jovem.
 As cartas são fortes, viscerais.
 Elas mostram não só a dor dela, mas também escancaram a visão de um homem sem interesse pelos filhos, querendo uma liberdade que, na teoria, não pertence a quem já construiu uma família. 
É revoltante ver como a sociedade patriarcal apoia isso: os amigos acham natural ele "querer viver a vida", afinal, ele é homem, né?

Vanda narra os perrengues de ter que segurar a barra sozinha e, infelizmente, a gente vê como ela acaba jogando nos filhos a raiva que sente do pai, pintando ele como o homem fraco e egoísta que ele é naquele momento.

A segunda parte do livro dá um salto no tempo. Encontramos Aldo e Vanda já velhos e... juntos! Eles voltam de uma viagem e encontram a casa revirada, mas sem nada roubado. É nessa parte, narrada pelo Aldo, que percebemos como a culpa moldou a vida dele. Ele parece ter escolhido caminhos sem escolher de verdade, como se a vida tivesse acontecido apesar dele. Mas, como bem sabemos, não escolher já é uma escolha.

E por fim, a cereja do bolo: a versão dos filhos. Eles narram os fatos e mostram como os pais — essas figuras que deveriam cuidar — são humanos e erram desgraçadamente. É um soco no estômago ver como as atitudes (e as omissões) dos adultos afetam as crianças, deixando marcas que duram a vida toda.

É um livro fluido, muito bem escrito, mas que faz a gente parar para pensar e refletir sobre as mágoas que ficam guardadas debaixo do tapete (ou dentro de uma casa revirada). Gostei demais.

Sinopse

Nápoles, início dos anos 1980. Aldo e Vanda são um casal jovem com dois filhos pequenos, Sandro e Anna. A vida doméstica aparentemente estável é destruída quando Aldo confessa ter se apaixonado por uma mulher mais jovem e decide abandonar a família.
O romance é estruturado em três partes distintas. A primeira é composta pelas cartas angustiadas e furiosas que Vanda escreve para Aldo, documentando o abandono e as dificuldades práticas e emocionais de criar os filhos sozinha.
A segunda parte ocorre décadas depois, quando Aldo e Vanda, surpreendentemente, estão casados e velhos. Ao retornarem de uma viagem de férias, encontram o apartamento revirado e o gato da família desaparecido. Enquanto tentam colocar a casa em ordem, Aldo revisita seu passado, suas traições e o preço que pagou para manter a família "unida" novamente.
A terceira e última parte dá voz aos filhos, agora adultos, revelando como os traumas e as tensões silenciosas do casamento dos pais moldaram (e deformaram) suas próprias vidas. "Laços" é uma dissecação implacável da instituição familiar e das amarras invisíveis que nos prendem uns aos outros.

A Revolução dos Bichos - George Orwell

A Revolução dos Bichos: Por que demorei tanto para ler essa obra-prima?

Vou confessar um pecado literário: esse livro sempre foi muito falado, muito citado. Na faculdade, todo mundo já tinha lido. Mas, como uma boa aquariana que sou — e não é porque todo mundo lê que eu vou ler também —, eu sempre adiei. A curiosidade estava lá (lembro de ter começado e parado anos atrás), mas foi só agora que decidi encarar de vez.

E quer saber? Foi exatamente o que deveria ter acontecido. Li na idade e na época certas.
Fiquei impressionada com a sagacidade do George Orwell. Como é possível usar animais de uma granja para fazer uma representação tão gritante e atual das diferentes formas de poder? O livro é espetacular na forma como demonstra que a história pode ser reescrita.

O que mais me chocou foi ver como as regras mudavam "na calada da noite" para beneficiar quem estava no comando (os porcos), e como a memória coletiva ia virando uma "vaga lembrança", manipulada pelos líderes.
E o Sansão (o cavalo)? Minha nossa, que soco no estômago. Ele representa aquele trabalhador que não questiona, só age, se dedica com afinco e repete "eu vou trabalhar mais". E o que acontece quando ele não serve mais, quando não produz? É sacrificado. É uma crítica perfeita e cruel à vida capitalista e utilitária: se você não produz, não precisa existir.

Os porcos, que começaram pregando a igualdade, passaram a ser os detentores do saber, criando autoridades e privilégios, até que, na cena final (que é genial), eles voltam a se assemelhar exatamente àqueles de quem queriam se distanciar: os humanos.

No fim, a luta foi perdida porque foi esquecida. Esse livro me fez pensar na importância vital da História. Precisamos lembrar, relembrar e estudar o passado, porque quando a gente esquece, a gente repete. Um livro muito bom, necessário e atemporal.

Sinopse
A Revolução dos Bichos (Animal Farm), de George Orwell
Cansados da exploração, dos maus-tratos e da negligência do fazendeiro Sr. Jones, os animais da Granja do Solar, liderados pelos porcos (os animais mais inteligentes do grupo), organizam uma rebelião. Eles expulsam os humanos e tomam o controle da propriedade, rebatizando-a de "Granja dos Bichos".
O objetivo é criar uma sociedade utópica baseada no "Animalismo", onde todos são iguais, trabalham para o bem comum e são livres da tirania humana. No entanto, à medida que o tempo passa, uma disputa de poder surge entre dois porcos líderes: Napoleão e Bola de Neve.
Napoleão, utilizando força bruta e manipulação psicológica, consolida seu poder e começa a deturpar os mandamentos originais da revolução. Aos poucos, a utopia igualitária dá lugar a uma nova ditadura, onde a história é reescrita, a memória é apagada e a famosa máxima é alterada para: "Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros".

Pequena Coreografia do Adeus, de Aline Bei

Pequena Coreografia do Adeus: Sobre pais que esvaziam e a escrita que preenche

Peguei esse livro na biblioteca do Sesc e preciso confessar uma coisa para vocês: acho aquele lugar meio mágico. Às vezes vou nas estantes e encontro justo um livro que nunca tinha visto antes, que eu queria muito ler, e depois que devolvo, nunca mais o vejo lá. Não é estranho? Rs... Mas devaneios à parte, foi assim que esse livro veio parar nas minhas mãos.

Eu já tinha lido o primeiro livro da Aline Bei (O Peso do Pássaro Morto) em uma sentada só. Esse, eu trouxe para casa para apreciar o tempo com ele. E que livro bonito! A escrita da autora é encantadora; ela brinca com as palavras, coloca em maiúscula, em minúsculo, usa um estilo poético visual que dá um ritmo único à leitura.

A história acompanha a Júlia desde a infância. É uma vida marcada por dois extremos dolorosos: a ausência completa do pai e a presença excessiva e machucada da mãe. A mãe da Júlia é uma figura difícil, que agride a filha física e verbalmente. Dava para sentir o vazio da menina, a raiva, a solidão e aquela busca desesperada por um lugar para se encaixar e ser amada.

Sinceramente? Me dava vontade de entrar no livro, pegar a Júlia no colo e cuidar dela.
A gente vê a Júlia crescer de forma muito fluida. Ela vira adulta, sai de casa para ter liberdade e não ficar mais à mercê da mãe (embora os pais continuem impactando a vida dela).
 Eu fiquei numa expectativa enorme pela felicidade dela. Quando ela descobre a dança, pensei: "É agora!". Mas a verdadeira virada acontece quando ela descobre a escrita.
É na escrita que a Júlia consegue ser autora da própria voz. É escrevendo que ela se enriquece por dentro, se enche de si mesma, logo ela que foi sempre tão "esvaziada" pela família. É uma história triste, mas de uma beleza e de uma superação muito poéticas. Gostei muito.

Sinopse 

Júlia é filha de pais separados: uma mãe sobrecarregada e emocionalmente instável, que desconta suas frustrações na filha através de agressões físicas e psicológicas, e um pai ausente, que surge apenas em visitas esporádicas e superficiais.
O romance de formação acompanha a trajetória de Júlia da infância à vida adulta, narrando suas tentativas de sobreviver a esse ambiente familiar tóxico e encontrar sua própria identidade. Escrito em prosa poética, com uma diagramação que reflete os estados emocionais da personagem, o livro explora o trauma, o abandono e a solidão.
Ao longo dos anos, Júlia busca refúgio em diferentes lugares — na fantasia, na dança e em relacionamentos — até encontrar na literatura e na escrita uma forma de elaborar suas dores, romper o ciclo de violência e, finalmente, coreografar o seu adeus ao passado que a aprisionava.

Se não fosse você por Colleen Hoover

Se não fosse você: Drama, traição e aquele toque adolescente clichê

Li esse livro por causa de todo o burburinho em torno da autora (a Colleen Hoover está em todo lugar, com filmes no cinema e virais no TikTok) e pensei: "Vai que me interessa, né?".

A premissa até que é interessante e bem dramática. Morgan, a protagonista, casou muito jovem com um homem que parecia bacana. A vida seguia seu curso até que um acidente trágico acontece e ela perde o marido e a irmã ao mesmo tempo. E aí vem a bomba: ela descobre que os dois, além de morrerem juntos, tinham um caso! O marido a traía com a própria irmã.

Aqui entra o ponto que mais me fez refletir. Eu acredito que a verdade, por mais dura que seja, é sempre melhor do que a mentira. Mas a Morgan decide esconder tudo da filha adolescente, a Clara, para "proteger" a memória do pai.
Isso gera praticamente toda a trama do livro. Porque mentir faz exatamente o que a gente vê no consultório: gera fantasias. Quando a gente não sabe o que está acontecendo, a gente imagina, cria estratégias, preenche as lacunas. A Clara, que é uma menina fofa tentando lidar com o luto, sente que tem algo errado no ar, sente a mentira rondando, e acaba agindo de forma rebelde e se jogando em outras coisas para tentar dar conta daquela angústia sem nome.

Apesar dessa reflexão sobre o luto e a verdade ser válida, achei o livro bem clichê. É aquela coisa meio "Sessão da Tarde". O romance da filha com o garoto da escola (o Miller) é bem meloso, bem adolescente mesmo.

Não fiquei com vontade de ver filme nenhum. Talvez não seja o meu momento de vida, mas achei a história apenas "ok". Para quem gosta de drama familiar com romance young adult, vale a pena para passar o tempo. Mas se você espera algo mais maduro, talvez ache bobo.
Afinal eu estava lendo a cachorra, tudo é rio...rs... Esse livro fica no chinelo.

Sinopse
Se não fosse você (Regretting You), de Colleen Hoover
Morgan Grant e sua filha adolescente, Clara, têm uma relação complicada. Morgan engravidou e casou muito cedo, colocando seus sonhos de lado para criar a família, e morre de medo de que a filha repita seus passos. Clara, por sua vez, acha a mãe previsível e controladora, sonhando em ser atriz, carreira que Morgan desaprova.
A única pessoa que mantém a paz na casa é Chris, pai de Clara e marido de Morgan. Mas essa estrutura desmorona quando Chris sofre um acidente fatal de carro, levando consigo a irmã de Morgan, Jenny.
No meio do luto devastador, Morgan descobre que Chris e Jenny mantinham um caso amoroso. Decidida a poupar a filha dessa dor e não destruir a imagem do pai que Clara idolatra, Morgan opta pelo silêncio. Esse segredo, porém, cria um abismo entre as duas. Enquanto Clara busca refúgio nos braços de Miller, um namorado que a mãe proíbe, Morgan tenta lidar com a traição e se reaproximar de um antigo amor do passado. O livro alterna os pontos de vista de mãe e filha, explorando o peso dos segredos e a difícil reconstrução dos laços familiares.

Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice), de Jane Austen


Orgulho e Preconceito: Clássico, fofo e... ah, que inveja desse ócio!

Vou confessar: é a pura verdade que eu nunca tinha lido "Orgulho e Preconceito". Sempre torci um pouco o nariz para romances de época e histórias melosas (embora eu já tenha lido muitos romances assim no passado, rs). Mas, como ando numa fase de me interessar pelos clássicos da literatura — acho que a maturidade faz a gente enxergar essas obras com outros olhos —, decidi dar uma chance. Afinal, é A Jane Austen, né?

Bem, o livro não é chato. Longe disso. Ele é fofo, traz uma protagonista forte (Elizabeth Bennet) e te transporta de verdade para outra época.
E falando em outra época... minha nossa! Fiquei encantada e morrendo de inveja do estilo de vida deles. Imaginem só: passar os dias admirando bosques, paisagens, visitando casas enormes, jogando cartas e tendo tempo ocioso à vontade? Seria maravilhoso! Eu queria viver nessa época só para ter todo esse tempo para ler, escrever e apreciar o mundo. A única preocupação delas era casar... kkkk. Bem diferente da nossa correria atual, né?

Tirando essa minha inveja do tempo livre, achei o livro ok. Ele traz uma aura da época muito legal, descreve os costumes com ironia. Mas o casal principal (Lizzy e Sr. Darcy)... na minha opinião, não tem nada demais. Acho que, para quem lê hoje, a história ficou meio batida, meio clichê. Talvez na época do lançamento fosse revolucionário, mas hoje já vimos essa dinâmica de "cão e gato" em mil outros livros e filmes.

No fim, foi legal. Foi uma leitura tranquila, perfeita para relaxar num fim de tarde, tentando imitar um pouco desse ócio maravilhoso das mulheres do livro.


Sinopse
Orgulho e Preconceito (Pride and Prejudice), de Jane Austen
Na Inglaterra rural do início do século XIX, a Sra. Bennet tem um único objetivo na vida: casar bem suas cinco filhas (Jane, Elizabeth, Mary, Kitty e Lydia) para garantir o futuro delas, já que a propriedade da família será herdada por um primo distante.
Quando o rico e solteiro Sr. Bingley aluga uma mansão vizinha, a esperança se acende. No entanto, o amigo dele, o aristocrático e reservado Sr. Darcy, causa uma péssima primeira impressão, especialmente na segunda filha, a inteligente e vivaz Elizabeth Bennet, que o considera arrogante e orgulhoso.
A trama segue o embate intelectual e emocional entre Elizabeth e Darcy. Enquanto ela precisa superar seus preconceitos baseados em primeiras impressões e fofocas, ele precisa vencer seu orgulho de classe para reconhecer seus sentimentos. É uma comédia de costumes brilhante que critica a dependência financeira das mulheres e a superficialidade da alta sociedade da época.

Chão de terra batida, de Carolina de Moura

Chão de terra batida: Um "Faroeste Caboclo" no sertão pernambucano

Sabe quando você lê um livro e uma música começa a tocar na sua cabeça? Com "Chão de terra batida", da Carolina de Moura, a trilha sonora foi imediata: "Faroeste Caboclo", da Legião Urbana. Não sei explicar exatamente o porquê, mas a saga de fuga, de busca por um destino e de tragédia me trouxe essa imagem muito forte.
A história acompanha a Deda, uma jovem que vive sob o jugo de um pai autoritário, daquele tipo "coronel" dentro de casa, que manda e desmanda no destino de todos. Ele decide que ela vai se casar com um rapaz "bem-sucedido" da pequena vila, selando o futuro dela sem perguntar nada.
Pois bem, o destino (e o coração) tem outros planos. Deda começa a se interessar por um forasteiro e, no decorrer da trama, eles fogem.

 A narrativa dessa fuga e das consequências dela é muito envolvente.
O que eu achei mais bonito foi a forma como a autora constrói a história: ela traz o olhar "por trás" dos personagens, mostrando o passado das famílias e explicando por que as pessoas agem como agem. Ninguém é mau ou bom de graça; tem sempre uma história por trás.

Além disso, o livro toca em feridas sociais importantes. Ele escancara como o patriarcado ainda é forte e dita as regras, criando conflitos que desembocam em situações limites. E aqui vale um destaque especial: a trama aborda com muito respeito as religiões de matriz africana, que muitas vezes são ignoradas ou demonizadas na literatura. Achei muito bom ter esse olhar de reverência e naturalidade para a fé que sustenta aquelas pessoas.

O final... ah, o final. Achei muito dramático. Na minha opinião, talvez não precisasse de tanto, mas entendo que faz parte da intensidade da obra. Apesar disso, o livrinho é bom e vale a leitura pela força da narrativa e das protagonistas.

Sinopse 
Chão de terra batida, de Carolina de Moura
Ambientado no interior de Pernambuco, o romance narra a trajetória de Deda (Dedinha), uma mulher que ousa desafiar as estruturas rígidas do patriarcado nordestino. Prometida pelo pai severo a um homem de posses da região, Deda recusa o destino de submissão e decide fugir com um forasteiro por quem se apaixona, rompendo com sua família e com as tradições de Frei Miguelinho.
A narrativa, marcada pela oralidade e pelo sotaque regional, entrelaça a vida de Deda com a de outras mulheres de sua linhagem e convívio, expondo as violências sutis e explícitas a que são submetidas. Em meio à aridez do sertão e à busca por liberdade, a obra destaca a importância da fé e da ancestralidade — representadas pelas religiões de matriz africana — como refúgio e resistência, culminando em um desfecho impactante que reflete o preço de se buscar a própria voz em uma terra de silêncios impostos.

Flores Partidas (Pretty Girls), de Karin Slaughter

Flores Partidas: Segredos de família, mentes psicopatas e cenas fortes

Eu estava sentindo falta de um bom suspense policial, daqueles para mergulhar na mente de psicopatas e tentar entender o inexplicável. Foi assim que cheguei em "Flores Partidas", da Karin Slaughter.
Vou ser direta: é um livro bom. Não achei ótimo, mas cumpre bem o que promete para quem gosta do gênero.
A história gira em torno de uma mulher que vive numa bolha de riqueza e perfeição, até que seu marido é assassinado bem na sua frente. A partir daí, ela descobre que esse homem que a idolatrava escondia segredos terríveis. O ponto que mais me pegou foi a culpa e a negação: ela passou anos desacreditando na própria irmã, que era usuária de drogas e acusou o marido dela de tentativa de estupro. Afinal, como acreditar na "irmã problema" quando você tem um "príncipe" em casa?

Além desse drama presente, a família é marcada por uma tragédia antiga: o desaparecimento da irmã mais velha, que sumiu na faculdade sem deixar rastros.

O livro prende. É uma narrativa forte, visceral, com cenas de violência bem explícitas (aviso de gatilho!). Eu gosto dessa dinâmica de "vai e vem" no tempo e de protagonistas mulheres fortes que precisam resolver os mistérios.
Sobre o final... bom, o plot twist não é tão surpreendente assim. Quem está acostumado com suspense acaba pescando as coisas antes. Mas, mesmo assim, vale a pena pela construção dos mistérios e para quem tem essa curiosidade de entender como funciona a mente perversa de um psicopata.

Sinopse 
Flores Partidas (Pretty Girls), de Karin Slaughter
As irmãs Claire e Lydia não se falam há quase duas décadas. Os rumos opostos que suas vidas tomaram foram definidos por uma tragédia familiar: o desaparecimento de Julia, a irmã mais velha, de dezenove anos, que sumiu sem deixar rastros, destruindo a estrutura da família.
Claire tornou-se a esposa troféu de um milionário arquiteto, vivendo uma vida de luxo e aparências. Lydia, por outro lado, enfrentou o vício em drogas e luta para se reerguer como mãe solteira.
O frágil equilíbrio de Claire é estilhaçado quando seu marido, Paul, é brutalmente assassinado. Ao revirar as coisas do falecido, Claire descobre no computador dele vídeos perturbadores que ligam Paul a crimes hediondos e, possivelmente, ao desaparecimento de Julia. Forçadas a se reunir pelo luto e pelo horror, Claire e Lydia precisam escavar o passado e enfrentar uma verdade muito mais cruel do que imaginavam para sobreviver.

A natureza da mordida - Carla Madeira


A Natureza da Mordida: O livro da memória que eu... esqueci

​Depois de devorar "Tudo é Rio" e ficar impactada com "Véspera", eu precisava fechar a trindade da Carla Madeira com "A Natureza da Mordida". Fui com muita expectativa, afinal, a protagonista Biá é uma psicanalista (como eu!) e o livro é cheio de trechos existenciais e reflexões profundas. Tinha tudo para ser o meu favorito.

​Mas, preciso ser sincera: dos três livros dela que li, esse foi o que menos me pegou.

​A história cruza os caminhos de Biá, uma psicanalista idosa perdendo a memória, e Olívia, uma jovem jornalista sofrendo por um abandono. Elas conversam, trocam angústias e tentam se entender. Tem cenas enigmáticas, um certo suspense sobre o passado delas, mas... não me prendeu.

​Sabe quando o suspense não gera aquela tensão? Quando as cenas não fazem você parar para pensar de verdade? Foi isso que senti. O livro traz reflexões bonitas, sim, mas não teve a força visceral que senti nos outros.

​Para mim, a prova de fogo de um livro marcante é ele reverberar na mente. É você terminar e continuar pensando nele, sonhar com a história (como aconteceu com Véspera). E com "A Natureza da Mordida", aconteceu o oposto: logo depois de ler, eu quase não me lembrava mais da história direito.

​É irônico que um livro sobre a perda da memória não tenha conseguido se fixar na minha. É uma leitura válida, a escrita da Carla continua poética, mas faltou aquele "soco no estômago" que faz a gente não esquecer jamais.

​Sinopse Objetiva do Livro

A Natureza da Mordida, de Carla Madeira

​Biá é uma psicanalista aposentada e apaixonada por literatura que lida com o avanço inexorável da perda de memória e da demência. Olívia é uma jovem jornalista que carrega o peso de um abandono recente e doloroso. O destino das duas se cruza em um sebo improvisado na cidade de Belo Horizonte.

​Aproximadas pela dor e pela necessidade de conexão, elas desenvolvem uma amizade intensa. Através de encontros sucessivos, Olívia narra sua história, tentando reconstruir os fatos que a levaram àquele estado de desolação, enquanto Biá oferece escuta e provocações filosóficas.

​O romance intercala as narrativas das duas, revelando gradualmente os segredos do passado de ambas: o conflito de Olívia com sua melhor amiga de infância, Rita, e o misterioso drama familiar de Biá, envolvendo sua filha Teresa. É uma obra sobre a fragilidade da memória, o poder da palavra e as marcas que as relações deixam em nós.

véspera - Carla Madeira


Véspera: O pesadelo real de uma mãe e a sombra de Caim e Abel

Depois de ler "Tudo é Rio" e ficar impactada, eu estava ansiosa e curiosa para ler outros livros da Carla Madeira. A minha escolha foi "Véspera" e, olha... que soco no estômago.
A história já começa com uma cena que deixa qualquer mãe sem ar. Vedina, num lapso de angústia e estresse no trânsito, é chutada sem querer pelo filho de cinco anos no banco de trás. Num impulso, ela abre a porta, manda o menino descer e arranca com o carro. Ela nem chega a virar a esquina; o arrependimento bate na hora, ela volta, mas... a criança não está mais lá.

Os capítulos desse acontecimento desesperador se intercalam com a história do passado da família, focada nos irmãos Caim e Abel. Os nomes, fruto de uma birra do pai para provocar a mãe religiosa, parecem marcar o destino deles.
Fiquei muito mexida com a história da Vedina. Senti na pele a agonia dela de perder o filho por culpa própria, uma angústia terrível, misturada com uma sensação tabu de que, no fundo, talvez ela não quisesse ser mãe.

Mas o que me fez sonhar com o livro (sim, ficou reverberando na minha cabeça!) foi a dinâmica entre Caim e Abel. A autora constrói um Caim carismático e interessante, e um Abel que parece "o bom moço", mas que esconde algo sombrio.
Achei genial e perturbador o fato de que, até os seis anos, a mãe os tratava como um só: "Abel e Abelzinho". Não existia um Caim. Isso me fez pensar muito sobre a identidade deles. Abel me pareceu uma figura perversa, que encontrou a maldade através da inveja, invertendo a lógica bíblica.

A Carla Madeira traz trechos densos, terríveis, de uma forma que é possível sentir o que está acontecendo. É angustiante, mas impossível de largar. Um livro que explora o que está nas entrelinhas das famílias e como um único dia — a véspera — pode mudar tudo para sempre.

Sinopse Objetiva do Livro
Véspera, de Carla Madeira
O romance é construído em duas linhas temporais que caminham para colidir. No presente, Vedina, uma mulher esgotada por um casamento em ruínas e pela maternidade, abandona seu filho pequeno em uma avenida movimentada num momento de descontrole emocional. Ao retornar minutos depois, a criança desapareceu sem deixar rastros.
Paralelamente, o livro recua no tempo para narrar a história da família de Vedina e, principalmente, de seu marido e do irmão dele: os gêmeos Caim e Abel. Nascidos em uma família disfuncional, sob a guarda de uma mãe extremamente religiosa e um pai alcoólatra e provocador, os irmãos crescem sob o peso de seus nomes bíblicos.
Enquanto a narrativa avança para desvendar o mistério do desaparecimento da criança, Carla Madeira explora as complexidades das relações fraternas, a inveja, a culpa cristã e como as identidades são forjadas — ou destruídas — pelo olhar do outro. "Véspera" questiona até onde vão as consequências de nossos atos impensados e o que fazemos quando chegamos ao limite.

A Cachorra - Pilar Quintana

Minha opinião: contém muitos spoilers!!!! Acabei de ler "A Cachorra", da Pilar Quintana, e preciso ser honesta com vocês: que livro esquisito. 
Sabe aquela leitura que você termina e fica olhando pro teto pensando "Gente, o que foi isso?"? Pois é.
A história é curta, mas deixa uma sensação estranha, meio amarga. Acompanhamos a Damaris, uma mulher que carrega a dor da infertilidade e adota uma cachorrinha. Até aí, parece fofo, mas não se enganem.
A minha sensação durante a leitura foi de que a Damaris tinha uma dificuldade imensa de entender o que sentia. Ela sentia raiva de si mesma, um vazio enorme, e queria desesperadamente amar e ser amada. O problema é que ela projetou tudo isso na cachorra. Ela queria que o bicho fosse a filha que ela não teve, a amiga que não a abandonasse.
Mas a cachorra é uma cachorra, oras! Ela fazia coisas de cachorro: sumia, seguia instintos, não dava a "satisfação" humana que a dona esperava. E cada vez que a cachorra agia naturalmente, a Damaris se sentia de novo abandonada, se sentia uma inútil, revivendo todos os fracassos da vida dela.
Spoiler:
O final é forte. Eu fiquei pensando muito sobre isso e cheguei a uma conclusão: para mim, matar a cachorra foi um ato de se matar.
A Damaris não estava matando só o animal; ela estava tentando matar aqueles sentimentos insuportáveis dentro dela. Ela projetou tudo na Chirli (a cachorra), mas a dor, a rejeição e a falta de esperança eram, na verdade, todas dela. 
Ela estava perdida, misturando os sentimentos, e o único jeito que encontrou de calar essa angústia foi aquele ato brutal.
É um livro que mostra como a mente humana pode ficar confusa e perigosa quando a gente não sabe lidar com as nossas próprias faltas.

Sinopse: 
A Cachorra (La Perra), de Pilar Quintana
Ambientado na costa do Pacífico colombiano, uma região de natureza exuberante mas também de extrema pobreza e violência, o livro narra a história de Damaris. Já na meia-idade e marcada pela frustração de nunca ter conseguido engravidar, Damaris vive um casamento desgastado e silencioso com Rogelio.
Sua rotina monótona muda quando ela decide adotar uma cachorrinha órfã, a quem dá o nome de Chirli — o nome que teria dado à filha que nunca teve. O que começa como uma relação de cuidado e afeto materno logo se transforma em uma obsessão doentia.
Conforme a cachorra cresce e começa a exibir comportamentos instintivos, fugindo de casa e ignorando os cuidados da dona, o amor de Damaris se converte em ressentimento e violência, revelando as camadas mais sombrias da frustração humana e da solidão.

domingo, 26 de outubro de 2025

A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne

Minha opinião: Confesso: eu nunca tinha lido "A Volta ao Mundo em 80 Dias". E pior, eu nem sabia direito sobre o que era a história! Na minha cabeça, o livro falava de um explorador que faria uma grande viagem científica pelo mundo.
Mas, rs... não é nada disso!
Quem diria que a história é sobre Phileas Fogg, um personagem muito interessante, que decide fazer essa viagem maluca simplesmente por causa de uma APOSTA!

Eu fiquei pensando: como ele ia fazer isso naquela época? Não tinha avião, nem as estradas e carros que temos hoje. E é aí que está a graça! Ele tem que dar a volta ao mundo sem parar, usando trens, navios gigantes, barcos, até um elefante ele usa! Tudo para conseguir chegar no dia exato da aposta.
Mas o que mais me chamou a atenção foi o personagem. O Sr. Fogg não é um aventureiro; ele é um homem que não se desespera. Ele tem algo de muito concreto, de matemático. Ele não se altera, nunca. 
Mesmo com todas as situações caóticas que acontecem no caminho, ele permanece impassível. É impressionante.

A volta ao mundo se dá de uma maneira muito envolvente. O seu criado, o Passepartout, também movimenta toda a trama (às vezes atrapalhando!) e todo mundo que os encontra fica envolvido com esse homem tão incomum, mas tão fiel à sua palavra.
Eu gostei muito dessa leitura. Pensei que ia ser um livro chato, com uma escrita antiga e difícil, mas não! Foi muito legal, eu me diverti lendo e torcendo para ele conseguir. Uma aventura clássica que vale muito a pena!

Sinopse
A Volta ao Mundo em 80 Dias, de Júlio Verne
A história começa em Londres, em 1872. Phileas Fogg é um cavalheiro inglês extremamente rico, metódico e de rotina inabalável. Sua vida é calculada ao minuto, até o dia em que ele faz uma aposta audaciosa com seus colegas do Reform Club: ele afirma ser capaz de dar a volta ao mundo em apenas 80 dias.
Apostando metade de sua fortuna, Fogg parte imediatamente, levando consigo apenas seu recém-contratado criado francês, Jean Passepartout. A dupla embarca em uma corrida frenética contra o relógio, utilizando todos os meios de transporte disponíveis na época — de trens a vapores, passando por saveiros e até elefantes.
Enquanto luta contra atrasos, tempestades e desafios logísticos, Fogg ainda precisa lidar com um obstáculo inesperado: o detetive Fix, da Scotland Yard, que acredita erroneamente que Fogg é um ladrão de banco em fuga e passa a persegui-lo implacavelmente ao redor do globo.

O Gato que Amava Livros (Kutikyū no Neko), de Sosuke Natsukawa

Minha opinião: O Gato que Amava Livros: Uma delicada fábula sobre luto e recomeço...

Sabe quando você escolhe um livro só pela capa, sem fazer a menor ideia do que se trata? Foi assim que "O Gato que Amava Livros" veio parar nas minhas mãos. Achei a capa bonita e pensei: "Por que não?". E que surpresa mais terna.

O livro traz, na minha opinião, uma reflexão muito profunda (mas de um jeito leve) sobre o luto, sobre crescer e sobre assumir responsabilidades.

Na história, acompanhamos o Rintaro, um garoto que mora com seu avô, dono da aconchegante Livraria Natsuke. Quando o avô morre, Rintaro se perde. Ele não sabe direito o que sentir, se fecha no seu mundo e parece travar.
É aí que a mágica acontece: um gato falante aparece na livraria!

Esse gato, que é uma figura e tanto, pede a ajuda de Rintaro para uma missão: salvar livros que estão sendo aprisionados ou mal interpretados. Achei essa premissa tão bonita.
Para mim, toda essa aventura fantástica funciona como uma grande metáfora para o processo de luto do Rintaro. A história parece um conto de fadas, sabe? Daqueles em que o herói precisa repetir uma jornada algumas vezes para conseguir entender o que se passa dentro dele.

Em cada "missão", Rintaro vai relembrando o avô, as histórias que ele contava, o gosto pelos livros, os sonhos que o avô compartilhava com ele. É nesse recordar que ele vai se fortalecendo e, aos poucos, conseguindo se ligar de novo às pessoas e ao mundo.
É um livro que fala daquela dor difícil que sentimos quando perdemos alguém que amamos muito. Mas ele mostra, de um jeito muito delicado, que podemos amar outras pessoas e seguir nossa vida, e que isso não significa, de forma alguma, que deixamos de amar quem partiu.
Um livro com esse estímulo mágico, perfeito para uma tarde de domingo no parque.

Sinopse
Após a morte de seu avô, o jovem estudante Rintaro Natsuki herda a Livraria Natsuke, um sebo amado pela comunidade, agora à beira de ser vendido. Rintaro, um garoto introvertido e enlutado, se isola na loja, sentindo-se perdido e incapaz de seguir em frente.
Sua rotina de reclusão é quebrada pela aparição repentina de Tora, um misterioso gato falante de pelo tigrado. Tora informa a Rintaro que os livros estão em perigo e que ele precisa de ajuda para salvá-los.
Juntos, Rintaro e Tora embarcam em uma jornada por quatro "labirintos" mágicos, cada um representando uma forma diferente de abuso ou negligência aos livros – desde um homem que os aprisiona sem lê-los até outro que os destrói resumindo-os. Em cada encontro, Rintaro deve usar seu amor genuíno pela leitura para libertar os livros e, no processo, acaba redescobrindo sua própria força, sua conexão com o legado do avô e a coragem para reabrir seu coração para o mundo.

O Pintassilgo (The Goldfinch), de Donna Tartt

Minha opinião: O Pintassilgo: O prêmio Pulitzer de 800 páginas que me fez bocejar...

Sabe quando você começa um livro com uma expectativa lá no alto? Um livro premiado (vencedor do Pulitzer!), com uma capa linda e uma premissa que parece incrível. Pois é, assim foi meu início com "O Pintassilgo".
Vou ser sincera: o começo é ótimo. A relação do Theo (o protagonista) com a mãe é delicada, e a cena da explosão no museu é realmente tensa, muito bem escrita. Você fica preso, com o coração na mão, pensando "Nossa, que livrão!".

Mas aí, minha gente... ave.

Depois desse início potente, o livro desanda em uma chatice que parece não ter fim. Sério. A história se muda para Las Vegas e a autora parece que se esquece da trama principal. As coisas são chatas, as situações se estendem, se prolongam... é um tédio que só.

Eu ficava lendo e pensando: "Cadê a história do quadro? Cadê a tensão?". O livro vira uma descrição sem fim da vida miserável e viciada do protagonista, e mesmo quando ele volta para Nova York como adulto, a sensação de que nada acontece de verdade continua. Não tem algo que prenda a atenção, você lê quase se arrastando.

Quando finalmente uma reviravolta acontece (lá pela página 450!), ela parece tão aleatória, tão sem pé nem cabeça, que eu demorei a entender o que estava acontecendo. Parece que a autora jogou um thriller no meio de um drama psicológico arrastado sem aviso prévio.

Enfim, é uma pena. Um livro com tanto potencial, mas que se perde em si mesmo. O começo é 5 estrelas, mas o desenvolvimento é de uma lentidão que dá sono. Um calhamaço que, na minha opinião, podia ter 300 páginas a menos e seria muito melhor.

Sinopse Objetiva do Livro
O Pintassilgo (The Goldfinch), de Donna Tartt
A vida de Theodore "Theo" Decker, um garoto de 13 anos, é virada de cabeça para baixo quando sua mãe é morta em um atentado terrorista a bomba no Metropolitan Museum of Art, em Nova York.
Em meio ao caos e à poeira da explosão, Theo, em estado de choque, pega uma pequena e valiosa pintura do século XVII chamada "O Pintassilgo", obra de Carel Fabritius.
Sem a mãe e com um pai ausente, Theo é acolhido temporariamente pela família rica de um colega de escola. A narrativa segue sua jornada tumultuada ao longo dos anos, de Nova York a Las Vegas e, posteriormente, Amsterdã. O quadro roubado se torna seu segredo mais sombrio, um elo tangível com a mãe perdida, mas também um peso que o arrasta para o submundo da arte e do crime.
"O Pintassilgo" explora temas como luto, trauma, vício, a natureza da arte e a busca por redenção, enquanto Theo tenta encontrar seu lugar em um mundo que ele sente ter perdido no dia da explosão.

domingo, 19 de outubro de 2025

A Insustentável Leveza do Ser, de Milan Kundera


Minha opinião:Escolher A Insustentável Leveza do Ser para a primeira leitura do nosso clube do livro foi um encontro com algo que eu já queria ler há anos, mas sempre deixava para depois. E agora, finalmente, todas nós lemos juntas, e que experiência intensa! Desde a primeira página, senti que estava diante de uma obra que não se esquece, que mexe com a gente, com o pensamento e com o coração.

O livro é sobre o peso e a leveza da vida, sobre escolhas, relações e como cada um de nós lida com a vida de um jeito diferente. Ele se passa em meio à guerra, mostrando como tudo muda: nossos vínculos, nossos trabalhos, a maneira como vivemos e sentimos.

Tereza é a primeira personagem que nos toca profundamente. Ela carrega o peso do ciúme, da cobrança de si mesma e do medo de ficar sozinha. Cada gesto dela, cada sentimento confuso, cada dúvida sobre o amor ou sobre a fidelidade nos leva a refletir sobre o que significa amar e ser amado. Ela se casa com Tomas, um médico que ama a liberdade de se relacionar com outras mulheres sem criar laços, mas sente por Tereza uma ligação única — um cuidado que vai além do desejo. E é nesse contraste que percebemos: o que é traição? O que é amar? E até que ponto conseguimos realmente compreender o outro?

Sabina, amante de Tomas, parece leve, livre, quase flutuando sobre o mundo. Mas será que essa leveza é real, ou apenas outra forma de peso — o peso de não se prender, de fugir das relações, de não se permitir ser completamente feliz com alguém? Franz, um homem casado que se apaixona por Sabina, também enfrenta suas próprias escolhas e responsabilidades, questionando o preço de seguir o coração ou a verdade.

E, no meio de tudo, a guerra muda a vida das pessoas, força a deixar para trás o que conheciam, confronta o passado e mostra que não há como viver sem carregar algum peso. Kundera nos leva a refletir: será possível viver sem o peso do que fomos, do que sentimos, do que escolhemos? Existe uma verdadeira leveza na vida, ou tudo é, de algum jeito, inevitavelmente pesado?

Ler este livro foi intenso, e discutir com o clube tornou a experiência ainda mais rica. Entre as histórias, os encontros e desencontros, cada reflexão sobre amor, liberdade e responsabilidade ecoou na nossa própria vida. Um livro que permanece com você, mesmo depois que se fecha a última página.



Sinopse

Em A Insustentável Leveza do Ser, Milan Kundera explora a complexidade das relações humanas e da vida sob o pano de fundo da Primavera de Praga e da ocupação soviética. O romance acompanha Tomas, um médico mulherengo; Tereza, sua esposa marcada pelo ciúme; Sabina, amante livre e independente; e Franz, um homem em busca de sentido em meio ao amor e à fidelidade. Entre dilemas morais, paixões e escolhas difíceis, o livro investiga os conceitos de peso e leveza existenciais, questionando o significado de amor, liberdade, verdade e responsabilidade.

A Lanterna das Memórias Perdidas, de Sanaka Hiiragi

Minha opinião: Que livro bonito… e que leitura intensa. A Lanterna das Memórias Perdidas me levou a um lugar entre a vida e o além, um espaço estranho e delicado onde cada pessoa precisa escolher uma foto de cada ano de sua vida — como se cada imagem guardasse a essência do que fomos, cada escolha, cada momento.

A primeira história é de uma senhora de 92 anos, professora do ensino infantil. Quando comecei a ler, pensei que seria uma narrativa tranquila, mas me surpreendi com a delicadeza com que a vida dela é narrada. Cada gesto simples, cada cuidado com os alunos, cada momento cotidiano parecia pequeno, mas a forma como ela impactou tantas vidas me emocionou profundamente. Fiquei admirada de como uma vida aparentemente comum pode ser tão cheia de significado.

A segunda história me pegou de um jeito inesperado. É sobre um homem de 47 anos, membro da Yakuza, e confesso que imaginei muita violência e dureza. Mas não. A narrativa me surpreendeu: ele se conecta com um jovem diferente, que parece ser autista, e através dessa amizade começa a enxergar o mundo de outro jeito. Aquela história me fez sentir leveza e ternura em um cenário que eu não esperava. Foi bonito perceber como empatia e conexão podem surgir nos lugares mais improváveis.

A terceira história foi a mais intensa e difícil. É sobre uma criança que sofreu muita violência, e ler aquilo me deixou tensa, angustiada, quase sem fôlego. É uma história dura, visceral, que não se esquece facilmente. Mas, ao mesmo tempo, é escrita com uma delicadeza incrível, que torna cada sofrimento humano e profundamente real. Saí dessa leitura refletindo sobre dor, resiliência e sobre como a vida pode ser cruel, mas ainda assim cheia de momentos que nos tocam profundamente.

No fim, o que mais me marcou foi como o livro consegue ser delicado e intenso ao mesmo tempo. É um livro que me fez sentir — rir, me emocionar, me apertar com o sofrimento, e ainda assim admirar a beleza escondida na vida cotidiana e nas pequenas conexões humanas.


Sinopse

Entre a vida e o além existe um espaço onde cada pessoa escolhe uma foto de cada ano de sua vida, guardando memórias e momentos essenciais. A Lanterna das Memórias Perdidas narra três histórias marcantes: de uma professora idosa que transforma vidas com sua presença, de um homem da Yakuza que descobre a amizade e a empatia, e de uma criança que enfrenta dores profundas. Um livro intenso, delicado e profundamente humano, que nos convida a refletir sobre o valor de cada memória e de cada vida.


VOX – Christina Dalcher


Minha opinião: VOX é um livro que segura a atenção desde o começo. O mundo construído é assustador justamente por parecer possível — basta olhar para discursos reais que acham normal silenciar, julgar, reduzir o outro ao que ele “deve” ser, seja por gênero, sexualidade ou qualquer forma de existência que não se encaixe.

Achei interessante como a autora mostra o processo de doutrinação, principalmente nas crianças, como se aprender a silenciar o outro fosse uma coisa “natural”. A protagonista vive um dilema intenso: ela é mãe, mulher e cientista — e precisa negociar com a própria culpa, com a passividade de quem permitiu certas coisas acontecerem e com a urgência de reagir.

A narrativa mistura ficção distópica com suspense, romance e reviravoltas, às vezes com muita informação, muitos elementos ao mesmo tempo, mas ainda assim prende porque queremos saber como tudo vai terminar. E de certa forma, termina como queríamos — embora eu não tenha certeza se foi exatamente a melhor solução… Mas ok, é um livro que faz pensar e mexe com várias camadas.

✨ Uma distopia que incomoda porque cutuca uma pergunta perigosa: e se o silêncio começar devagar e ninguém perceber?

Sinopse: Num futuro próximo nos Estados Unidos, um governo ultraconservador e patriarcal redefine o papel das mulheres: elas perdem seus empregos, seu lugar na vida pública e, principalmente, sua voz. Literalmente. Todas passam a usar pulseiras eletrônicas que permitem apenas 100 palavras por dia. Cada palavra além disso é punida com choques violentos. O silêncio se torna lei — e instrumento de controle.

Jean McLellan, linguista e mãe de quatro filhos, precisa assistir à transformação da sociedade e da própria família, percebendo como até as crianças começam a naturalizar a opressão. Mas quando o governo descobre sua pesquisa sobre afasia de Wernicke e vê nela uma oportunidade estratégica, Jean é forçada a voltar ao trabalho — e a partir daí se envolve numa trama de tensão, acordos perigosos, segredos e resistência.

O AMOR E SUA FOME – Lorena Portela

Minha opinião: Eu comecei O amor e sua fome sem saber muito bem o que esperar e talvez por isso a leitura tenha me surpreendido tanto. A protagonista, Dora, narra sua história desde a infância, e é impressionante como Lorena Portela consegue transformar memórias aparentemente simples em algo cheio de tensão emocional. Acompanhamos suas primeiras relações, as amizades que nascem meio tortas, as inimizades veladas, as formas de amar que ela tenta compreender — ora se aproximando, ora se afastando como se amar fosse sempre um movimento de risco.

A relação dela com Esme, sua amiga, é um dos pontos mais intensos do livro. Há ali uma energia difícil de nomear — amor, desejo, ciúme, raiva, encantamento — tudo misturado em uma linguagem que nunca precisa gritar para ser profunda.

O livro fala muito sobre essa contradição humana de querer o outro, mas ao mesmo tempo temer o vínculo; de desejar proximidade e se proteger dela; de sentir e tentar negar o próprio sentimento.

Ao longo da narrativa, algo muda. Seja por um movimento do inconsciente, seja por algo espiritual — e o livro deixa essa dúvida aberta — uma força atravessa tudo e altera o curso da vida de Dora. Não é uma mudança espetacular, é algo sutil que se infiltra, silenciosamente, como se o próprio destino se movesse alguns milímetros e isso fosse suficiente para mudar tudo.

A escrita tem uma força visceral, mas ao mesmo tempo é delicada, quase como se a autora soubesse exatamente onde tocar para criar incômodo sem violência, emoção sem exagero.

É um livro que mexe, mas sem pressa — ele permite sentir, e não apenas ler. Um romance para se entregar, não para passar rápido. Um livro para habitar um pouco a gente depois que termina.

Sinopse: Dora cresce observando o mundo com uma fome que não sabe nomear — fome de afeto, de pertencimento, de liberdade e, principalmente, de algo que dê sentido ao que ela sente e não consegue dizer. A narrativa acompanha sua infância e adolescência, marcada por amizades intensas, raivas silenciosas e afetos que nascem nas frestas do que é permitido. A relação com Esme, sua amiga mais marcante, concentra tensões amorosas e emocionais que escapam das definições comuns: é amor, é desejo, é dor, é uma mistura de tudo. Conforme Dora cresce, também cresce a consciência de si — e com ela a percepção de que amar é sempre um campo de risco, um espaço entre querer se aproximar e o medo de se perder. Entre memórias, corpo, inconsciente e uma possível força invisível que atravessa os acontecimentos, o livro revela uma jornada íntima sobre o que é amar e sobre o que a fome de amor é capaz de fazer com uma vida.

A INCONVENIENTE LOJA DE CONVENIÊNCIA – Kim Ho-yeon


Minha opinião: Achei esse livro muito bonito e delicado. Ele fala sobre algo que às vezes esquecemos: a capacidade de acreditar nas pessoas, na mudança, na bondade. A dona da loja faz isso de forma simples, sem discursos — ela confia, e essa confiança vira um gatilho de transformação para todos ao redor.

O personagem em situação de rua é um dos pontos mais tocantes. Ele não é romantizado — ele é humano, com falhas, vergonha, raiva, medo. E justamente por isso, ver o processo de recuperação da autoestima e da dignidade dele foi muito forte para mim. É quase como assistir a uma terapia feita de gestos simples: um café quente, uma tarefa cumprida, um olhar que não julga.

Não é sobre dinheiro. É sobre valor emocional, moral, humano — e a descoberta desse valor ao longo da narrativa é lindíssima.

💗 Um livro para guardar com carinho

A leitura me deixou com aquela sensação boa de esperança discreta, aquela que não faz barulho, mas acende uma luzinha dentro da gente. Às vezes é disso que precisamos: de histórias que lembram que o mundo ainda pode ser gentil.

Perfeito para quem:

Gosta de narrativas de afeto e transformação interior

Valoriza personagens que se constroem de dentro para fora

Acredita que gentilezas pequenas podem mudar destinos inteiros

Sinopse: Em um bairro comum de Seul, uma pequena loja de conveniência funciona madrugada adentro — um lugar aparentemente simples, mas que se torna ponto de encontro para pessoas desgastadas pela vida. A gerente, com seu jeito tranquilo e acolhedor, contrata um homem em situação de rua para trabalhar no turno noturno. A partir daí, pequenas mudanças começam a acontecer — não só nele, mas em todos os que circulam por aquele espaço. A loja vira um lugar de reencontros consigo mesmo, de dignidade e de recomeços silenciosos.



NIHONJIN – Oscar Nakasato


Minha opinião: Sou descendente de japoneses, mas de um jeito muito diferente do vivido no livro. Meus avós também vieram do Japão, depois da guerra, mas ao chegarem aqui escolheram ser brasileiros. Tanto que meu pai quase não fala japonês — a ideia era romper, não manter.

Por isso, ler Nihonjin foi uma experiência curiosa: enquanto os personagens carregavam o Japão no corpo, no idioma, nos ritos e até no sonho constante de retorno, eu me dei conta de que na minha família esse fio cultural não foi passado adiante. E ainda assim, alguma coisa desse pertencimento silencioso existe em mim — talvez justamente na forma de ausência.

O livro me despertou um olhar bonito e melancólico sobre pertencimento e deslocamento, além da força dos ritos e da memória como forma de resistência cultural.

A pergunta que fica: o que acontece quando a cultura é interrompida — ela desaparece ou se transforma em outra coisa?

Mesmo sem ter vivido essa tradição de forma direta, o livro me deu uma sensação estranha e bonita — como sentir saudade de uma história que não me foi contada.

Pra quem esse livro fala com força

Quem tem origem migrante — mesmo que a cultura tenha se diluído

Quem gosta de narrativas de memória, silêncio e identidade

Quem aprecia literatura brasileira que fala de nós a partir das margens

Talvez seja isso que Nihonjin faz: ele abre uma gaveta de memórias — mesmo para quem nunca recebeu as chaves.

Sinopse: Nihonjin acompanha a trajetória de uma família japonesa que migra para o Brasil no início do século XX. Carregando memórias da guerra e de um Japão idealizado, eles tentam construir uma nova vida enquanto mantêm — ou lutam para manter — seus costumes, língua e senso de identidade. Entre o desejo de pertencimento e o chamado silencioso da terra natal, o romance explora como a cultura se transforma, resiste ou se perde quando atravessa o oceano.

O CONTO DA AIA – Margaret Atwood


Minha opinião: Esse é daqueles livros que chegam carregados de fama. Eu já tinha ouvido falar muito — série, discussões, referências — e confesso: fui com a expectativa lá no alto. E talvez justamente por isso… achei apenas ok.

Não que seja ruim — a escrita prende, o mundo é perturbador e a narrativa da protagonista tem uma introspecção interessante. Eu queria continuar lendo, sim. Mas aquele impacto de “meu Deus, obra-prima” que eu esperava… não veio.

O que mais mexeu comigo foi pensar que tudo ali parece absurdo… mas também possível. Um mundo em que as violências contra as mulheres são institucionalizadas com naturalidade, em que o horror é disfarçado de ordem e religião, onde tudo parece “certo”, mas algo está sempre profundamente torto. E o pior: todos fingem que acreditam.

Esse incômodo eu gostei de sentir. Aquela sensação que fica na cabeça: “gente, isso podia acontecer de verdade”.

Preciso dizer com sinceridade: achei o final bobo. Me pareceu corrido, quase como se tudo terminasse num “tá, e é isso”. Depois de uma construção tão forte de atmosfera e tensão, esperei algo mais impactante — algo que me fizesse fechar o livro em silêncio dramático. Mas não veio.

Foi uma boa leitura, com reflexões atuais e uma construção de mundo perturbadoramente realista. Só que, diferente de muita gente, eu não achei brilhante — e tudo bem. Talvez se eu tivesse lido sem toda a fama em volta, a experiência teria sido diferente.

Recomendado para quem:

Curte distopia social com crítica forte e incômoda

Gosta de narrativas em primeira pessoa, introspectivas e irônicas

Quer refletir sobre poder, corpo e controle

 Pode frustrar quem:

Vai esperando uma reviravolta explosiva ou final arrebatador

Precisa de ação constante

Está com dificuldade de lidar com hype — talvez valha ler com expectativas mais baixas

Sinopse: Em um futuro opressor, a República de Gilead toma o poder e instaura um regime teocrático rigidamente controlado. Com a queda da fertilidade no mundo, as poucas mulheres ainda capazes de gerar filhos são escravizadas como Aias, obrigadas a servir às famílias dos Comandantes para garantir descendência. Offred, agora reduzida a um nome que nem é seu, narra seu cotidiano nesse sistema cruel, observando as pequenas formas de resistência, as mentiras mascaradas de ordem e a manipulação que transforma violência em “dever sagrado”.

NO ESPAÇO ENTRE NÓS – Elayne Baeta (Audible Original)


Minha opinião: Esse foi meu primeiro Audible Original com formato de novela, e isso já ganhou pontos. Tem várias vozes, ambientação sonora, ruídos de cenário, comunicações por rádio, barulhos de nave… quase como ouvir uma série sci-fi em áudio. A produção é caprichada, e isso deixou a experiência super imersiva.

MAS… (e aqui vem o mas...)
A protagonista é insuportável. Ego inflado, zero ética, se acha a última bolacha recheada da psicologia de IA — e pior, faz tudo com a maior certeza de que está absolutamente correta. Eu ouvia e pensava: “Nossa, que chata… nossa, que chata…” — e continuei ouvindo mesmo assim! Ou seja, a personagem irrita, mas a trama segura.

Terminei os dois volumes com aquela sensação de: “ok, queria bater nela, mas gostei da experiência”. Então valeu a pena!

Vou falar sobre o que me chamou atenção:

- Formato novela em áudio – MUITO bem feito, parece série.

- Futuro brasileiro com IA central controlando a internet — adorei esse detalhe de ambientar no Brasil, e não nos EUA pela milésima vez.

- Mistura de luto, tecnologia e terapia — ideia ousada.

- Protagonista arrogante nível “meu Deus, tira o microfone dela”.

- Ética profissional? Foi tomar um café e não voltou.

Não é um audiolivro “para amar a personagem”, e talvez essa seja até a proposta. Eu gostei da experiência, do formato e do universo criado. O incômodo que senti também virou parte da reflexão — porque ouvir alguém tão desagradável em posição de poder mexe com a gente.

Recomendado para quem gosta de:

Ficção futurista ambientada no Brasil

Narrativas com tecnologia + psicologia

Formatos imersivos com som e múltiplas vozes

 Não recomendado para:

Quem precisa simpatizar com o protagonista pra seguir na história

Sinopse: Em um Brasil futurista, hiper conectado e comandado por uma inteligência artificial central chamada Aurora, acompanhamos Eva, uma especialista em psicologia de I.A. que carrega um luto profundo pela morte de sua companheira, Nina. Em um misto de obrigação profissional e desespero emocional, ela aceita participar de sessões terapêuticas conduzidas pela própria Aurora — uma entidade que controla toda a rede digital do país, inclusive o espaço orbital de dados. O que começa como um experimento tecnológico se transforma em uma investigação íntima sobre memória, amor, ética e o limite entre humanidade e máquina.

domingo, 5 de outubro de 2025

Em Agosto Nos Vemos, de Gabriel García Márquez


Minha opinião: Eu não tinha lido nada sobre Em Agosto Nos Vemos antes de começar — e talvez isso tenha sido o melhor caminho. Escolhi o livro pelo nome de García Márquez, que sempre me conduz a histórias que parecem simples, mas carregam camadas de alma e tempo.

A narrativa gira em torno de Ana Magdalena Bach, uma mulher casada que, todos os anos, viaja em agosto para uma ilha onde está enterrada a mãe. Nessa viagem repetida, ela começa a experimentar uma outra vida, como se naquele espaço houvesse uma brecha do tempo em que pudesse existir diferente — mais livre, mais inteira, talvez mais verdadeira.

É como se, entre o barco e o hotel, entre a visita ao túmulo e o retorno para casa, algo dentro dela se abrisse. Há uma busca que não tem nome — talvez amor, talvez desejo, talvez apenas o impulso de ser mais do que a rotina permite. Ana não foge de sua vida; ela a dobra um pouco, só o bastante para respirar.

Li o livro como quem acompanha uma lembrança, com aquela melancolia leve que García Márquez sabe construir tão bem. É uma história sobre redescoberta, envelhecimento e liberdade, contada com uma delicadeza que parece sopro. Um texto curto, mas cheio de ecos — desses que ficam pairando na cabeça mesmo depois da última página.

Um livro bonito, sobre as vidas que poderiam ter sido, e sobre o instante em que a gente percebe que talvez ainda possa ser outra pessoa.

Sinopse:

Após décadas sem publicar inéditos, Gabriel García Márquez nos deixou Em Agosto Nos Vemos, seu último romance, encontrado entre seus manuscritos. Nele, conhecemos Ana Magdalena Bach, uma mulher que, todos os anos, viaja sozinha para uma ilha tropical para visitar o túmulo da mãe. Durante essas visitas, ela se permite viver experiências que transformam sua relação com o corpo, o desejo e o sentido da própria vida.

Com a linguagem poética e a sensibilidade que consagraram o autor de Cem Anos de Solidão, este livro fala sobre o poder do tempo, da memória e da liberdade íntima, num tom de despedida e reinvenção.


segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O sentido da vida - Contardo Calligaris


Minha opinião: Gostei muito de ler O Sentido da Vida, de Contardo Calligaris. É um livro em que ele parte das próprias experiências para refletir sobre uma questão que parece sempre maior que nós: afinal, o que dá sentido à vida?

O tom é íntimo, quase como se estivéssemos ouvindo um amigo mais velho e sábio contar histórias, lembranças e aprendizados. O autor fala de momentos pessoais, traz situações cotidianas e filosofa a partir delas, sem nunca soar professoral. Pelo contrário, há sempre uma abertura para a dúvida, para o “não saber”.

Uma das coisas que mais me marcou foi a crítica à ideia de que não podemos ficar tristes. Vivemos numa sociedade que cobra felicidade constante, como se estar bem fosse uma obrigação. Calligaris nos lembra que a tristeza faz parte do caminho, que ela também pode ter um sentido.

O livro é curto, mas cheio de provocações. Não entrega respostas prontas, mas convida o leitor a pensar sobre as suas próprias escolhas, sobre o que o move e sobre a liberdade de construir um sentido único. Foi uma leitura leve no estilo, mas profunda no impacto.

📖 Sinopse

Em O Sentido da Vida, Contardo Calligaris reúne memórias e reflexões pessoais para abordar uma das questões mais antigas da filosofia: o que faz a vida valer a pena? Com estilo direto e intimista, o autor reflete sobre a importância de aceitar a tristeza, a busca individual por propósito e a liberdade de criar um sentido próprio. Um livro breve, delicado e instigante, que convida à reflexão sem impor respostas.

filho de mil homens - Valter Hugo mãe


Minha opinião: Li O filho de mil homens movida por duas curiosidades: falavam muito bem do livro e, além disso, vai sair um filme baseado nele. O que encontrei foi muito mais do que eu esperava: um livro delicado, poético e cheio de amor.

O personagem central é Crisóstomo, um pescador que, no início da narrativa, se sente incompleto. Ele descreve essa sensação de uma forma belíssima: é como se fosse apenas metade de tudo. Para se tornar inteiro, acredita que precisa de um filho. A partir daí, a história vai nos apresentando personagens diversos, com suas dores, segredos e afetos, até que suas vidas se cruzam, mostrando que a necessidade de pertencimento e de amor é universal.

Uma das coisas que mais me impressionou foi como o livro fala das dificuldades de amar: as barreiras impostas pelo preconceito, pelas convenções sociais, pelos medos. Quantas vezes não deixamos de dizer que gostamos de alguém justamente por causa desses limites invisíveis? O livro expõe isso com uma delicadeza imensa.

Crisóstomo, esse pescador simples e sem estudo, é retratado como alguém profundamente sábio — um verdadeiro mestre do amor. Ele enxerga o melhor das pessoas, acredita na bondade, reconhece a importância de amar e ser amado. É um personagem que fica no coração.

Valter Hugo Mãe, como sempre, escreve com poesia. As frases repetidas, quase como mantras, dão um ritmo doce e contemplativo à leitura. É um livro para guardar, reler e oferecer a quem a gente ama.

O filho de mil homens é, acima de tudo, uma celebração do amor — nas suas formas mais difíceis, mais frágeis e mais bonitas. Um daqueles livros que permanecem com a gente, mesmo depois da última página.

Sinopse: Em O filho de mil homens, Valter Hugo Mãe conta a história de Crisóstomo, um pescador que vive a sensação de ser apenas “metade” até descobrir, no desejo de ter um filho, a possibilidade de se tornar inteiro. A narrativa se amplia para incluir outras personagens cujas vidas se entrelaçam, revelando dores, segredos e a busca por pertencimento.
Com prosa poética e sensível, o livro celebra o amor em suas formas mais difíceis e belas, enfrentando preconceitos, silêncios e barreiras sociais. Um romance delicado e inesquecível sobre a necessidade de amar e ser amado.


As doenças do Brasil - Valter Hugo Mãe


Minha opinião: Quando comecei a ler As doenças do Brasil, não sabia exatamente o que esperar. Estava, ao mesmo tempo, mergulhada em O filho de mil homens, também do Valter Hugo Mãe, e pensava que encontraria algo próximo. Mas logo percebi que era outro caminho.

Aqui, o autor constrói um mundo diferente, com línguas próprias, modos de perceber a vida pela natureza, e uma profunda reflexão sobre pertencimento. O livro nos convida a reconhecer o valor de estar em comunidade, de se parecer com ela, de partilhar da mesma forma de viver.

A leitura tem uma cadência única: as falas repetidas, quase como versos, criam uma musicalidade que lembra poesia. Essa repetição, em vez de ser enfadonha, dá ao texto um ritmo ritualístico, como se fosse um canto ancestral. Achei isso muito bonito e marcante.

Apesar de tratar de temas duros — colonização, violência, apagamento —, o livro é também belo. Ele nos lembra que é possível falar de dor com poesia, e que a literatura pode abrir espaço para memórias que a história oficial muitas vezes preferiu apagar.

É um romance que pede sensibilidade, paciência e entrega, mas recompensa com imagens poderosas e com a delicadeza que só Valter Hugo Mãe consegue dar até mesmo ao que é mais cruel.

Sinopse

Em As doenças do Brasil, Valter Hugo Mãe constrói um romance lírico e poderoso sobre a colonização do Brasil, narrado a partir da perspectiva indígena. Fugindo da visão histórica oficial, o autor coloca no centro do enredo aqueles que sofreram a invasão europeia e o genocídio que se seguiu.

Criando uma linguagem própria, personagens e cenários de intensa força simbólica, o livro dá voz a um povo inventado para representar todos os povos originários que tiveram sua memória silenciada. Com artes de Denilson Baniwa e prefácio de Conceição Evaristo, a obra é uma homenagem às vidas que resistiram — e um convite para repensarmos a nossa própria história.

Quando as Árvores Morrem de Tatiana Lazzarotto

"Quando as Árvores Morrem", de Tatiana Lazzarotto, é um livro curto, mas profundamente sensível. A narrativa acompanha o processo de luto da protagonista, que retorna à sua cidade natal após a morte repentina do pai. O enredo se constrói em torno da casa da infância e da árvore do quintal, que funcionam como símbolos de memória, raízes e pertencimento.

O que mais me tocou foi a delicadeza com que o livro traduz o luto em palavras. Não é uma história de acontecimentos grandiosos, mas um mergulho nas pequenas etapas e sentimentos que acompanham a perda: as lembranças que retornam, os rituais que se fazem necessários, a estranheza de ocupar espaços que já não parecem os mesmos.

Se eu estivesse vivendo um luto, acredito que essa leitura seria um abrigo — um lugar para se reconhecer, para entender que a dor se faz de camadas e que a memória também tem sua forma de cura. A escrita é simples e poética, sem excessos, e justamente por isso consegue tocar de maneira direta.

É um livro bonito, íntimo e humano. Curto na extensão, mas intenso naquilo que desperta

Sinopse: Após a morte repentina do pai, a protagonista retorna à sua cidade natal, Província, para cumprir os desejos deixados por ele: restaurar a casa da família e impedir que a antiga árvore do quintal seja derrubada. Entre lembranças da infância, silêncios e a presença marcante da árvore, ela atravessa o processo de luto em um percurso de reconhecimento, memória e pertencimento.
Com linguagem poética e intimista, Tatiana Lazzarotto constrói uma narrativa delicada sobre perdas, raízes e o que permanece vivo dentro de nós quando alguém querido se vai.

sábado, 20 de setembro de 2025

Deslumbramento, por Richard Powers


Minha opinião: Deslumbramento é uma narrativa densa e introspectiva de Richard Powers, que nos leva a refletir sobre a dor, a perda e a busca por soluções para um mundo que parece cada vez mais em crise. O livro segue a jornada de um pai que, após perder sua esposa, tenta entender as dificuldades do filho, um menino que pode ter Asperger ou TDAH. Ao invés de optar pela medicação, o pai busca alternativas neurológicas para "ajustar" o comportamento do filho e torná-lo mais "normal". Porém, ao fazer isso, o menino começa a perder sua identidade, tentando ser alguém que não é, alguém mais calmo, mais “aceitável”. A tristeza dessa transformação é angustiante, porque a tentativa de ajustar o filho a um padrão idealizado acaba silenciando sua essência.

O que me tocou profundamente no livro é o dilema do pai, que busca, de boa-fé, o melhor para o filho, mas acaba criando um espaço onde a verdadeira identidade do garoto se perde. Isso me fez refletir muito sobre a minha própria experiência como mãe de uma filha autista e superdotada. Como no livro, muitas vezes a sociedade tenta moldar as crianças a um padrão, pedindo que elas sejam mais organizadas, mais calmas, mais "normais". A minha filha, em momentos de tristeza, já disse que não queria ser autista, que preferiria ser diferente, e isso me cortou o coração. Mas, ao mesmo tempo, fico pensando que, se ela fosse diferente, ela não seria ela mesma. Sua personalidade única, com suas qualidades e desafios, é o que a torna a pessoa incrível que é.

Deslumbramento não é apenas uma história sobre um pai tentando entender o filho. Ele nos provoca a refletir sobre as expectativas que temos em relação ao outro, especialmente quando ele é diferente. O livro abre um espaço de questionamento sobre como a sociedade lida com as diferenças, como lidamos com a dor da perda e a luta para encontrar soluções, muitas vezes sem perceber que o que precisamos pode ser simplesmente aceitar a pessoa como ela é, com todas as suas complexidades. E, mais do que isso, é sobre como isso nos afeta quando tentamos mudar aquilo que é único na pessoa que amamos

Sinopse:

Deslumbramento narra a história de um pai viúvo que busca entender as dificuldades de seu filho, um menino com possíveis transtornos como Asperger ou TDAH. Em um esforço para ajudá-lo, o pai tenta alternativas neurológicas e atividades que não envolvem medicamentos. No entanto, essas tentativas acabam mudando a essência do menino, que começa a perder sua identidade na busca por um comportamento mais "aceitável". A história também lança uma reflexão sobre o estado do planeta e o futuro que estamos deixando para as próximas gerações, fazendo com que o livro seja, além de uma crítica social, uma provocação existencial sobre como lidamos com as diferenças, o amor e a busca por pertencimento.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Deus da Escuridão de Valter Hugo Mãe

Minha opinião: Minha Opinião:

Deus da Escuridão é um livro que me deixou profundamente mexida. A escrita de Valter Hugo Mãe tem uma aura poética que parece envolver a narrativa de uma forma que, por vezes, me fazia pensar que estava lendo de forma errada — a contradição entre o texto parecer simples, mas, ao mesmo tempo, com palavras e frases complexas, criava um efeito inesperado. Algumas passagens pareciam poesia pura, e eu me sentia transportada para um universo diferente, quase como se estivesse imersa em outra realidade.
O livro nos apresenta a história de Felicíssimo, que, desde o nascimento de seu irmão Pouquinho, com uma condição física especial, se dedica a ele com um amor incondicional. A relação entre os dois é central na trama, e o modo como Felicíssimo declara seu amor por Pouquinho — algo que é "pouco", mas ao mesmo tempo "muito" — permeia toda a história. É um amor de uma pureza tocante, que supera dificuldades materiais e limitações.

O livro se passa em um cenário de pobreza, onde os sonhos de Felicíssimo e sua juventude são marcados pelas dificuldades, mas também pela beleza do amor fraterno que ele dedica ao irmão. Essa relação é intensa e, por vezes, dolorosa, mas também é um reflexo da sensibilidade do autor, que consegue criar uma atmosfera única, onde o amor, a lealdade e a resiliência são os pilares dessa história de vida simples, mas profundamente bonita.

Sinopse:

Deus da Escuridão segue a história de Pouquinho, um menino com deficiência, e de seu irmão Felicíssimo, que o acompanha desde o nascimento, oferecendo-lhe amor incondicional e cuidado. Desde o momento em que Pouquinho nasce, Felicíssimo sente que sua missão na vida é cuidar dele, não por obrigação, mas por um ato de puro afeto.

A história se passa em uma pequena comunidade, onde o cenário de pobreza e os sonhos difíceis de alcançar são contrastados pela força do vínculo entre os irmãos. O livro mergulha na ideia de que o amor pode ser praticado na escuridão, nos momentos mais desafiadores da vida. Através dessa relação, Valter Hugo Mãe nos apresenta uma história sensível, sobre como o amor fraterno pode ser tão intenso e divino quanto qualquer outro tipo de amor, e como ele se torna a força que move a vida de Felicíssimo e Pouquinho.

Um Amor Incomodo de Elena Ferrante

Minha opinião: Confesso que um Amor Incomodo foi um livro complicado para mim. Logo no início, a leitura me deixou um pouco perdida, e eu me questionava o tempo todo: por que a Delia age dessa forma? Por que ela vai atrás das pessoas da mãe, como se a história fosse dela e não da mãe? Isso me incomodou bastante durante a leitura.

O livro tem uma estrutura densa e complexa, e à medida que as páginas passavam, algumas situações começavam a ser reveladas, mas a confusão ainda estava ali, pairando sobre a trama. Em muitos momentos, eu me senti frustrada, querendo que a Delia reagisse de uma maneira diferente, mas ela seguiu o caminho dela, agindo como ela queria, o que era completamente oposto ao que eu imaginava.

Achei o livro difícil de ler, uma leitura que exige muita paciência e disposição. Algumas passagens me deixaram até nervosa, e o comportamento da Delia me tirava do sério, principalmente por ela ter uma atitude tão diferente do que eu esperava dela. No entanto, também é impossível negar a profundidade emocional da obra, mesmo com toda a confusão. A autora faz um retrato muito visceral e complicado de relações familiares, memórias e o impacto do passado sobre o presente.

Sinopse:

O Amor Incomodo acompanha a história de Delia, que retorna à cidade onde cresceu após a morte de sua mãe. Ela começa a investigar a vida da mãe, buscando respostas sobre o relacionamento delas e os segredos que ficaram por trás da figura materna. O livro é um mergulho profundo no universo psicológico de Delia, que se vê obcecada pelo passado e pelas pessoas que marcaram a vida de sua mãe. A narrativa mistura mistério, memórias e revelações, enquanto Delia tenta entender seu próprio lugar no mundo e o peso da sua relação com a mãe.